O câncer de tireoide é o que mais cresce no mundo e atinge três vezes mais as mulheres do que os homens na faixa entre os 20 e os 65 anos. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a estimativa de novos casos por ano é de 13.780 pessoas, dos quais 1.830 dos diagnósticos serão em homens e 11.950 em mulheres.
O tratamento tradicional do nódulo benigno sintomático é a cirurgia com a retirada parcial ou total da glândula que é responsável pela produção de hormônios no organismo. No entanto, de acordo com o médico cirurgião de cabeça e pescoço, Dr. Erivelto Volpi, além dos inerentes riscos, a cirurgia deixa cicatriz no paciente e pode levar à necessidade permanente de reposição hormonal.
“Os principais problemas da cirurgia são em primeiro lugar a possibilidade de algum grau de agressão sobre os nervos laríngeos, que são os nervos que inervam as cordas vocais. Nas mãos de cirurgiões com experiência, esse risco é muito baixo, ao redor de 2 a 3% dos casos, mas ainda sim maior quando comparado ao risco desse problema na ablação, que é de menos de 1%. A segunda preocupação é com relação às glândulas paratireoides, que são pequenas glândulas que ficam atrás da tireoide e controlam o cálcio no nosso corpo, numa tireoidectomia total, o risco de lesão transitória é ao redor de 5% e definitiva ao redor de 0,5%. Na ablação, este risco não existe”, afirma.
A ablação por radiofrequência da tireoide, além de evitar a cirurgia em muitos casos, não deixa cicatrizes, evita a anestesia geral, preserva a função hormonal da glândula e faz com que o paciente volte à atividade normal do seu cotidiano com uma recuperação imediata e retorno das atividades totais em poucos dias.
“Sem dúvida alguma o grande benefício da ablação, é a manutenção, a preservação da função da glândula tireoide, evitando que o paciente necessite reposição hormonal para o resto da sua vida e preservando sua qualidade de vida. Além disso, por se tratar de um procedimento minimamente invasivo, feito sob anestesia local e uma leve sedação, não há a necessidade de internação hospitalar e o paciente vai para casa ao redor de duas horas após o término do procedimento”, destaca o especialista.
A opção terapêutica deve ser realizada por médicos radiologistas intervencionistas e cirurgiões de cabeça e pescoço. No Brasil, o Dr. Erivelto Volpi e o Dr. Antonio Rahal, foram pioneiros na utilização do tratamento e, por atuarem sempre juntos, chegaram a ficar conhecidos como “Batman e Robin da medicina”.
A técnica de ablação por radiofrequência já é bem estabelecida no tratamento dos nódulos benignos que causam distúrbios estéticos, disfunções hormonais ou sintomas compressivos — como dor cervical, tosse, rouquidão, falta de ar e dificuldade na deglutição. Atualmente, segundo o médico radiologista intervencionista, Dr. Antonio Rahal, a técnica também é capaz de tratar algumas formas malignas da doença.
“Em 2015, para cânceres selecionados de tireoide, a Associação Americana de Tireoide passou a sugerir a vigilância ativa como possibilidade, ou seja, para os carcinomas papilíferos com até cerca de 1,0 cm (tipo mais frequente de câncer de tireoide e também menos agressivo) seria possível acompanhar os nódulos e, caso crescessem ou surgisse alguma metástase para gânglios do pescoço, estes pacientes seriam encaminhados à cirurgia, retirando a glândula. A chance de progressão neste período foi de 6 a 10%. Neste contexto, como a ablação em nódulos benignos já havia caminhado muito, os sul-coreanos passaram a realizar a técnica também para estes cânceres selecionados”, explica.
O procedimento de alta tecnologia, é realizado por meio da introdução de uma fina agulha no nódulo, guiada por ultrassonografia, e que por meio de uma corrente alternada de alta frequência gera aquecimento do tecido. No decorrer dos dias, a expectativa é de que haja uma progressiva redução de até 97% no tamanho do nódulo. “Uma vez morto este tecido, ele não cresce mais e, ao contrário, começa a reduzir de volume, pela própria absorção do corpo, como se fosse uma cicatriz, em que um tecido desvitalizado da pele é, gradativamente, substituído por um tecido novo, saudável. Espera-se em até 12 meses, às vezes antes, o desaparecimento do tumor, ou, ao menos, a substituição por uma cicatriz, com cerca de 10% do volume inicial, mas sem tumor, de tecido saudável”, conclui o especialista.