O desafio de regular leitos do SUS na pandemia

Corridor interior

A regulação de leitos na rede pública de saúde brasileira vem ganhando destaque no noticiário à medida em que aumenta a pressão por vagas de enfermaria e UTI (Sistema Único de Saúde) no momento mais crítico da pandemia de COVID-19.

O estresse dos médicos que atuam por trás das telas de computadores também é muito grande, pois eles igualmente atuam na linha de frente, buscando viabilizar o recurso assistencial mais adequado aos doentes e contribuindo para salvar inúmeras vidas. A tecnologia apoia os profissionais, proporcionando mais agilidade e inteligência no suporte e tomada de decisão em relação à distribuição de recursos disponíveis para a assistência à população.

Segundo dados disponibilizados pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, a demanda de transferências para casos de infecção pelo novo coronavírus registradas na Cross (Central de Regulação e Oferta de Serviços de Saúde) é atualmente o dobro na comparação com a primeira onda da pandemia: cerca de 1,5 mil pedidos por dia, feitos pelos serviços de origem dos pacientes.

Desde março do ano passado a central conseguiu viabilizar mais de 180 mil regulações.

Não é papel da regulação criar leitos no sistema, e sim auxiliar na identificação de uma vaga no serviço de saúde mais próximo, conforme o quadro clínico do paciente, e atuar na intermediação dos pedidos. Os médicos reguladores avaliam cada solicitação e verificam o mapa de serviços disponíveis, mantendo contato ininterrupto com os serviços de saúde.

Neste momento, é fundamental reconhecer o avanço dos serviços de regulação ao longo da última década, fortalecidos não somente pela capacitação dos profissionais que neles atuam mas também pelas novas tecnologias que permitem o acompanhamento dos processos e o mapeamento da rede assistencial em tempo real, fatores imprescindíveis para a definição de condutas e melhor tomada de decisão na distribuição dos recursos disponíveis relacionados aos casos de coronavírus.

As melhorias no sistema de regulação também garantem mecanismos de transparência na ordenação dos fluxos de acessos e serviços de saúde, sendo possível acompanhar, por exemplo, a posição dos pacientes em “filas” de atendimentos.

Mas não há mágica: sem leitos disponíveis não há possibilidade de transferência, a não ser nos casos de urgência e emergência em que o recurso de “vaga zero” é acionado, em conformidade com resolução do Conselho Federal de Medicina.

Além dos casos relacionados à COVID-19, a presença da tecnologia no sistema de regulação proporciona mais efetividade na intermediação da marcação de consultas e exames, procedimentos de média e alta complexidade relacionados às outras especialidades.

Para se ter ideia, os números anuais de atendimentos da Cross-SP são expressivos. Somente no estado de São Paulo, o sistema de regulação proporciona a marcação anual de, em média, 10 milhões de consultas médicas, 6,9 milhões de exames, 1 milhão de internações e 700 mil regulações de urgência e emergência. A base de dados é de mais de 28 milhões de pacientes, ou seja, mais da metade da população do Estado.

Iniciativas similares à central paulista também foram adotadas pelos estados de Mato Grosso do Sul e Goiás, onde a Tecnologia da Informação oferece efetivo suporte ao sistema de regulação. Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, a informatização da central de regulação local permitiu a intermediação de mais de 168,7 mil atendimentos em 2020, ante, 9,4 mil registrados durante todo o ano de 2016, quando a regulação era operada via telefone e fax.

Os recursos tecnológicos nas centrais de regulação já são parte fundamental no cenário atual, trazendo experiências importantes de saúde a quem mais necessita. Fora a celeridade e controle na busca por vagas, a atuação da tecnologia no processo de regulação também representa papel determinante na preservação da vida, especialmente em tempos de pandemia.

João Paulo Campi, médico, especialista em gestão em saúde e regulação médica, é diretor-presidente da Duosystem Inteligência e Inovação em Saúde. Foi diretor do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE) e diretor da Coordenadoria de Contratos de Gestão dos Serviços de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.

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