O câncer é, sem dúvida, uma das doenças mais desafiadoras da atualidade e no Brasil, a situação é particularmente alarmante. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), estima-se que, entre 2023 e 2025, o país tenha mais de 600 mil novos casos da doença a cada ano. Este número elevado reflete o aumento da incidência, o envelhecimento da população e a prevalência de fatores de risco, como o tabagismo, obesidade e sedentarismo. Somado a este cenário, há uma tendência preocupante: o câncer tem se tornado cada vez mais frequente entre os mais jovens.
A detecção precoce, o diagnóstico preciso e o acesso a tratamentos eficazes são fatores cruciais para melhorar as taxas de cura e sobrevida. Nesse contexto, é fundamental a atenção integral às pessoas acometidas — indo além do simples tratamento clínico, abrangendo o cuidado psicológico, a reabilitação e o apoio social. Contudo, o Brasil enfrenta limitações significativas, tanto pela carência de um ecossistema de saúde pública robusto e universal, como pela tendência em intimidar, restringir e negar o acesso a tratamentos inovadores e tecnologias baseadas na aplicação da Inteligência Artificial, por exemplo, tendo em vista à sua capacidade de analisar grandes conjuntos de dados obtidos a partir de prontuários dos pacientes e de dados ambientais e geográficos, que poderiam promover avanços significativos nesta frente.
Em 2024, o Supremo Tribunal Federal (STF) proferiu decisão sobre o Tema 1.234, que estabeleceu que os pacientes não podem solicitar a judicialização para obter medicamentos não incorporados à lista do Sistema Único de Saúde (SUS). Embora a judicialização tenha sido uma alternativa para muitos pacientes que dependem de tratamentos inovadores e de alto custo, a decisão do STF agora limita a possibilidade de acesso a terapias que podem fazer a diferença entre a vida e a morte para muitas pessoas.
Em paralelo, a ciência e a medicina buscam diuturnamente novos mecanismos de tratamento do câncer. Nos últimos anos, houve um significativo avanço, com terapias personalizadas e medicamentos imunoterápicos que oferecem um novo panorama de cura e sobrevida para pessoas, que antes tinham poucas opções.
O crescente número de casos de câncer na população jovem, cujos fatores de risco são muitas vezes ligados ao estilo de vida, torna ainda mais urgente a criação de políticas públicas de prevenção e de acesso universal aos tratamentos mais modernos. Em 2022, o Brasil registrou mais de 16 mil casos de câncer em pessoas com menos de 30 anos. Os dados revelam um aumento na prevalência de casos, como uma mudança nos padrões epidemiológicos da doença.
É crucial que o governo brasileiro amplie e fortaleça ações de prevenção e educação contínuas. A implementação de programas de rastreamento para tipos de cânceres mais prevalentes, como de colo do útero, mama e próstata, por exemplo, poderiam detectar a doença em estágios iniciais, aumentando consideravelmente as chances de cura.
O Advocacy e as associações de pacientes desempenham um papel crucial na luta por melhores alternativas de sobrevivência e qualidade de vida. Organizações como a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (ABRALE) e o Instituto Oncoguia têm sido incansáveis na defesa dos direitos dos pacientes oncológicos, buscando garantir o acesso a tratamentos adequados, lutando contra a burocracia e pressionando por mudanças nas políticas públicas. O movimento de Advocacy dá voz aos pacientes e educa a sociedade sobre as necessidades urgentes da comunidade, sensibilizando os governantes para a criação de um ecossistema de saúde mais eficiente e inclusivo.
O Dia Mundial de Combate ao Câncer, 4 de fevereiro, serve como um lembrete da importância de uma abordagem holística e integral no combate à doença. A união entre políticas públicas eficazes, acesso a tratamentos inovadores, novas tecnologias (como é o caso da aplicação da IA em novos estudos e análises a partir dos dados de pacientes) apoio das associações de pacientes e a conscientização da população são essenciais para superar esse grave desafio, garantindo que mais pessoas, independente de sua classe social ou localização geográfica, vençam o câncer, com qualidade de vida e com a esperança renovada de um futuro melhor.
Giuliana Gregori, Diretora Advocacy y Healthcare LLYC.