Desde o início da história humana, temos gerado, acumulado e renovado o conhecimento nas mais diversas áreas do saber. Tão antigo quanto gerar tal conhecimento tem sido o esforço de classificá-lo de modo a se conseguir localizar a informação desejada. Talvez uma das mais conhecidas coletâneas de informação seja a Bíblia (cuja escrita se inicia por volta de 1500 A.C.). Mas há outras coleções enciclopédicas de tudo o que era conhecido numa determinada época, como por exemplo a enciclopédia do egípcio Amenope (1250 A.C.) e do romano Caius Plinius Secundus (23-79 D.C.).
Porém, apenas em 1491, quando o humanista e poeta italiano Angelo Poliziano publicou seu “Panepistemon” – que era um plano destinado a mostrar esquematicamente as relações entre as ciências ou áreas do conhecimento – é que realmente foi iniciado o “movimento” para se desenvolver os sistemas de classificação do saber humano, como os conhecemos hoje. Atualmente, um dos mais utilizados é o Sistema Decimal de Dewey, um sistema de classificação documentária desenvolvido por Melvil Dewey em 1876.
Assim, ao chegarmos em qualquer biblioteca para procurar um assunto ou livro, temos como rastrear a informação de modo sistemático. Porém, quando a Internet surgiu comercialmente em meados da década de 1990, um novo desafio apareceu: como conseguiríamos achar as informações no mundo digital que cresciam rapidamente, do mesmo modo como estávamos acostumados com a informação impressa?
Fundado em 4 de setembro de 1998, o Google ofereceu inicialmente algo simples aos usuários da Internet – um buscador de informações disponíveis no mundo digital. Sem nenhum tipo de complexidade, bastava digitar na área de pesquisa as palavras que se desejava encontrar e lá vinham os resultados em tempo recorde. Uma inovação simples e disruptiva do acesso ao conhecimento.
Com o tempo, essa ferramenta se transformou num mecanismo de Empoderamento Social – qualquer pessoa podia ter acesso ao universo do conhecimento disponível no mundo digital! E na área do conhecimento médico não foi diferente. Só que agora o próprio paciente também tinha acesso as informações que antes estavam limitadas aos profissionais da Saúde – ele podia falar a qualquer hora com o “Dr. Google”!
Vários artigos foram escritos sobre este novo personagem, como por exemplo o da revista Época (edição nº 483, de 20/08/07) que trazia como manchete de capa a reportagem “Doutor Google – Como a internet está mudando a relação entre médicos e pacientes”. O texto, de autoria de Cristiane Segatto e Suzane Frutuoso, abordou a mudança na relação entre médicos e pacientes proporcionada pela rede mundial de computadores. A reportagem apontava os aspectos positivos e negativos das informações sobre saúde colhidas na internet.
Como o uso deste mecanismo se popularizou rapidamente, e até mesmo médicos começaram a usar esta ferramenta para encontrar informações de modo mais rápido, questões relacionadas a segurança dos pacientes e a veracidade das informações começaram a crescer na mesma proporção que a adoção do “Dr. Google”. A própria Google tomou mais recentemente a iniciativa de colaborar com profissionais e centros hospitalares renomados para buscar qualificar o resultado das pesquisas sobre temas de Saúde e Medicina (veja notícia sobre a iniciativa do Google em parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo).
Mas a pergunta central do artigo é: Quem substituirá o “Dr. Google”?
Bem, talvez as inovadoras tecnologias de Inteligência Artificial (IA), Computação Cognitiva (como o IBM Watson), ou mesmo a novíssima plataforma do Google chamada de Deep Learning, trarão avanços na área de busca e correlação de informações médicas e modelos preditivos para a saúde do paciente. E isto será fundamental no avanço de diversos tratamentos e na assistência aos profissionais de saúde, principalmente os médicos.
De certo modo, a Inteligência Artificial já está hoje trabalhando lado-a-lado dos profissionais médicos. Tomemos o exemplo de robôs que são usados para auxiliar médicos em neurocirurgia para atingir lesões cerebrais que são inacessíveis com abordagens cirúrgicas tradicionais. No entanto, a Inteligência Artificial está ajudando, não substituindo os médicos na prestação de cuidados médicos mais eficazes.
Num relatório de 2013 da Pew Research, 35% dos adultos americanos consultavam a Internet para saber informações sobre o diagnóstico de suas doenças ou sintomas. Podemos imaginar que o número de pessoas que hoje consultam a internet antes de falar com seus médicos aumentou bastante! Porém, 50% das pessoas incluídas no relatório da Pew Research depois consultavam um médico para validar as informações. A relação médico-paciente não será substituída, ela apenas se transformará.
“A Inteligência Artificial não pode substituir o elemento humano, o sentido, a sensação, a intuição, que é essencial na medicina. O relacionamento médico-paciente é muitas vezes formado ao longo de muitas visitas, ao longo de muitos anos e envolve substancialmente confiança e segurança “, afirma o Dr. Stephen Parnis, médico de emergência e vice-presidente da Associação Médica Australiana.
Se há uma resposta a pergunta central deste artigo, minha aposta seria o Paciente Digital. Esse paciente já desponta no cenário atual, somos nós como centro agregador de todas as ferramentas que estão revolucionando a Saúde Digital e foram precedidas pelo “Dr. Google”. Seremos o centro da integração da Internet das Coisas (IoT), dos sistemas computacionais cognitivos, turbinados com as soluções de Big Data e Blockchain, trazendo uma verdadeira personalização e engajamento na nossa Saúde. Turbinará o modelo de negócio da Saúde do século 21 que se focará no desfecho dos tratamentos ao invés do pagamento por procedimentos.
O Paciente Digital é o sucessor do Dr. Google!
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Abraços a todos!
Guilherme Rabello. gerência comercial e Inteligência de Mercado da InovaInCor – InCor / Fundação Zerbini.