O impacto da cultura data-driven na saúde preditiva

Em tempos de grandes avanços tecnológicos na medicina, uma premissa vem ganhando força no segmento: a predição vem antes da prevenção. Isso porque, além das evidentes melhorias proporcionadas para os pacientes, a análise preditiva possui um potencial muito benéfico para as próprias instituições da saúde, por isso a urgência de trazermos maior protagonismo para este tema.

A saúde preventiva e a saúde preditiva atuam de forma complementar, mas possuem diferenças significativas que valem a pena serem destacadas. Enquanto a abordagem preventiva foca na adoção de medidas gerais e contínuas para certas populações ou grupos de riscos evitarem o desenvolvimento de uma doença, a abordagem preditiva é focada no risco individual de cada paciente desenvolver uma doença, com base em seu próprio histórico e particularidades. Ou seja, por meio da análise de dados e do uso de tecnologias avançadas, como Inteligência Artificial, a predição busca compreender a probabilidade de uma pessoa desenvolver certa condição de saúde e, assim, atuar proativamente neste sentido.

Atualmente, a cadeia de saúde brasileira é pautada majoritariamente por uma atuação preventiva, o que de fato já é um avanço para o cuidado com a saúde da população. Porém, adotar somente esta linha de abordagem tem se provado uma estratégia custosa e financeiramente insustentável. Por isso, destaco a necessidade de uma verdadeira mudança no mindset tanto da sociedade, quanto da comunidade médica para que estratégias de predição também sejam incorporadas à saúde, especialmente em um cenário no qual a tecnologia e a inovação nos permitem isso.

Ao permitir diagnósticos precoces e certeiros, e tratamentos mais efetivos, os benefícios da abordagem preditiva são inúmeros, auxiliando inclusive na otimização da gestão de custos da saúde. Por meio do uso de dados preditivos é possível, por exemplo, diagnosticar o risco de um paciente desenvolver certa doença, assim como mapear tendências e padrões de comportamento da população para detectar possíveis surtos, possibilitando o desenvolvimento de planos de prevenção. Além disso, o modelo também pode ser estratégico para as companhias poderem prever os custos com a gestão da saúde de um paciente no longo prazo, permitindo a identificação de intervenções médicas que possam eventualmente reduzir este valor.

Mas para que esse cenário se torne realidade é fundamental instaurar a cultura dos dados nas instituições de saúde. A falta de dados certamente não é um problema para o setor, mas o que acontece é que muitas instituições ainda não compreendem seu real valor ou não sabem como geri-los e extrair seu potencial transformador. É muito comum encontrarmos instituições de saúde que enfrentam desafios com a intraoperabilidade dos seus dados, e a interoperabilidade é vista como ainda mais complexa. Contudo, mais do que nunca é preciso educar as instituições destacando-se a importância da gestão dos dados, e a riqueza que eles representam para os negócios.

Quando bem coletados e utilizados de forma estratégica, os dados são capazes de proporcionar maior personalização para a jornada dos pacientes e, neste contexto, todos saem ganhando. Para as instituições de saúde, isso se traduz em um atendimento mais eficiente, otimizado e preciso. Já para os pacientes, esta abordagem permite cuidar da sua saúde de forma mais efetiva. Como consequência, a saúde preditiva proporciona um impacto positivo para toda a cadeia da saúde, ponto crucial frente às dificuldades econômicas enfrentadas pelo setor, que exigem mais do que nunca mudanças estruturais e operacionais.

Transformar a conduta da saúde brasileira não é uma tarefa fácil e requer empenho de todos os agentes da cadeia, mas é fundamental que o setor se reinvente e encontre novas maneiras, mais eficientes e rentáveis, de operar. A abordagem preditiva é uma estratégia que pode transformar a realidade de nosso setor, agregando valor para todos os lados. É urgente aproveitar os benefícios que a tecnologia oferece, adotando uma nova perspectiva para o futuro da saúde do Brasil.

Rogério Pires, diretor de produtos para Saúde da TOTVS.

Related posts

Movimento em prol de saúde mais inclusiva tem apoio da ANS

Minsait desenvolve sistema que agiliza doação e transplante de órgãos, em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás

Devices: a integração do mundo digital e físico no atendimento ao paciente