A revolução gerada pelo uso de dados na saúde

Ao longo da história da humanidade, pesquisas, descobertas científicas e inovações na saúde só foram possíveis devido ao engajamento e curiosidade de cientistas pioneiros, que muitas vezes usavam dados sujos, incompletos e em pequena quantidade. Os desafios relacionados à coleta e análise de dados, objetivando também a implementação de políticas públicas em saúde, levam a uma análise do cenário atual de transformação digital e da informatização e integração cada vez mais intensa de processos, sejam eles provenientes de organizações públicas ou privadas.

No século 19, a cólera infestou a cidade de Londres, e foi através da curiosidade e dedicação do pesquisador John Snow, juntando dados de mortalidade com os mapas da cidade, que foi possível identificar que a água contaminada era a principal razão da epidemia da doença. Veja que essa foi uma grande descoberta do médico inglês, considerado pai da epidemiologia moderna, e usou pouquíssimos dados e quase nenhuma tecnologia sofisticada de análise.

Mais de 200 anos depois, nos dias de hoje, estima-se que um terço dos dados gerados no mundo são relacionados à saúde. Com essa quantidade de informações, a possibilidade de agregar inteligência para a diminuição dos custos, obtenção de melhores desfechos, melhorias na experiência do cuidado e criação de novos tratamentos para os pacientes é extremamente animadora. A detecção de padrões gerados pelas informações coletadas contribuem na prevenção de enfermidades, por exemplo, levando à implementação de estratégias de saúde e tratamento cada vez mais assertivos.

Seria um sonho viver em um mundo onde as informações e insights gerados de todos os pacientes que vieram antes de nós servem de insumo para os tratamentos? Quem acompanha os avanços do uso de dados na saúde sabe que já estamos caminhando nessa direção, basta lembrar de como o mundo todo parou e desenvolveu, em tempo recorde, a vacina e tratamentos contra a pandemia de Covid-19.

O uso de dados em grande escala, para entender padrões, realizar pesquisas e detectar problemas antes que aconteçam, se intensifica a cada dia. A chegada da tecnologia 5G vai aumentar de maneira exponencial a quantidade e capacidade de dispositivos, sensores e aparelhos conectados. Projetos de transformação digital e inovação aberta, que hoje estão presentes em praticamente todas as instituições de saúde, fazem com que dados e processos, que antes estavam isolados e em silos, passem a fazer parte de um todo, trazendo uma visão unificada da jornada do paciente e das diferentes linhas de cuidado.
A regulamentação da telemedicina se impôs frente a necessidade de melhor acesso a cuidados do setor. Vivemos em uma era onde a saúde está fadada a ser mais tecnológica, mais digital e mais inteligente.

Plataformas que reúnam diferentes modais de dados curados, higienizados e organizados, ajudando a trazer a visão longitudinal do cuidado do paciente, e que estejam preparadas para construção e implementação de inteligência de dados em larga escala, terão seu lugar cativo na caixa de ferramentas dos inovadores na saúde. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que garante a segurança dos dados pessoais e sensíveis no Brasil, assegura a responsabilidade das organizações acerca das informações dos pacientes e serve como alicerce para os agentes de inovação.

O profissional de saúde, seja ele um gestor, médico, enfermeiro ou técnico não será substituído por uma máquina, mas certamente será trocado por alguém que saiba usar melhor essas novas tecnologias. Devemos olhar para o momento atual, com todo o hype ao redor do ChatGPT e afins, como a era em que nossa inteligência começou a ser aumentada. Vivemos uma escassez de profissionais capazes de extrair o melhor das novas ferramentas, e devemos nos preparar e capacitar nossos times para o futuro que se aproxima. Sobreviverá quem melhor se adaptar a essa nova era.

O que será que John Snow estaria descobrindo usando ciência de dados e as modernas plataformas e ferramentas disponíveis atualmente? Problemas a serem resolvidos na saúde não faltam.

*Jorge Carvalho é head of Health na Semantix.

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