Elas ocupam cargos de liderança, desafiam estereótipos e inspiram transformações profundas. Quem protagoniza esses avanços são médicas comprometidas em abrir caminho para um futuro mais promissor na saúde. As conquistas são muitas e cada vez mais figuras femininas assumem posições de destaque em hospitais que são referência nacional.
O papel das mulheres na prestação de cuidados de saúde é imenso; elas estão à frente do atendimento a 5 bilhões de pessoas e contribuem com R$ 15,5 trilhões para a saúde global. No entanto, conforme o relatório da organização Women in Global Health, ainda temos um longo caminho a percorrer para alcançar a equidade de gênero. Embora representem 70% dos profissionais da linha de frente na saúde, as mulheres ocupam apenas 25% dos cargos de liderança. Um cenário que está perto de mudar, já que a presença feminina na medicina deve superar a masculina até 2030, segundo projeção do Ministério da Saúde.
Apesar da diversidade dos contextos sociais e culturais, há muitas semelhanças nas inspirações e dificuldades enfrentadas por mulheres que atuam na área da saúde em todo o mundo. Para a médica Lídia Zytynski Moura, o desejo de trilhar novos caminhos do conhecimento foi o impulso para uma mudança temporária de país com toda a família, para realizar o pós-doutorado em insuficiência cardíaca no Brigham and Women’s Hospital, o segundo maior hospital de ensino da Harvard Medical School, nos Estados Unidos.
Para Lídia, a presença feminina na saúde e na ciência é transformadora. “É a combinação do conhecimento acumulado, das pesquisas científicas e da curiosidade que permite darmos novos passos. As mulheres contemporâneas são assim: elas têm olhos que brilham, são pragmáticas, ágeis, e sabem equilibrar doçura e tecnicidade”, descreve a coordenadora de cardiologia dos hospitais São Marcelino Champagnat e Universitário Cajuru, que fazem parte da frente de saúde do Grupo Marista.
Mais espaço para elas
Em alguns hospitais, o cenário é bastante otimista para as mulheres, que vêm conquistando posições de destaque em instituições tradicionalmente dominadas por uma força de trabalho feminina. Nos hospitais São Marcelino Champagnat e Universitário Cajuru, em Curitiba (PR), dos 75 cargos de gestão, 53 são ocupados por mulheres, o que representa mais de 70% dos cargos de liderança. Entre elas está a clínica médica Maria Fernanda de Carvalho, que, além de atender pacientes e contribuir para a formação de residentes, atua como coordenadora médica no Hospital São Marcelino Champagnat.
Entre as múltiplas funções que exerce, Maria Fernanda dedica uma parte significativa do seu tempo ao trabalho. “Chego a passar até 10 horas nos hospitais, fazendo visitas aos pacientes, lidando com intercorrências, identificando oportunidades de melhorias, revisando processos e dando feedbacks, detalha. Desde muito cedo, já demonstrava um forte interesse em abrir caminho à inovação em sua área. “Vejo que as gestoras mulheres têm mais habilidade e sutileza para lidar com determinados desafios, sem deixar de incentivar o desenvolvimento dos colaboradores, complementa.
Não é preciso ir muito longe para notar que a valorização das mulheres é uma conquista relativamente recente na história. Lídia relembra que, ao longo de sua trajetória acadêmica, observou poucas figuras femininas em cargos de gestão. “Minha geração tem se esforçado para soltar as amarras e deixar um importante ensinamento para as mulheres que estão chegando: é possível alcançar o que se quer sem precisar seguir os modelos tradicionais”, afirma ela, que também é diretora do eixo de saúde humana da Escola de Medicina e Ciências da Vida da PUCPR.
Mulheres inspiram mulheres
Inspirar meninas para carreiras científicas, transformar estereótipos associados à profissão de cientista e dar visibilidade às realizações de mulheres pesquisadoras são alguns dos desafios quando se fala sobre gênero e Academia. Nesse contexto, há a necessidade de um novo olhar para a forma como a ciência é comunicada. “É preciso ver para crer que é possível conquistar um espaço dentro da ciência”, declara a gerente médica do Hospital Universitário Cajuru, Camila Hartmann. Para ela, as mulheres precisam ter referências a serem seguidas. “Se você vê uma mulher realizando um trabalho relevante e memorável, é natural pensar ‘eu também posso fazer isso!'”, adiciona.
“É crucial gerar e apoiar modelos que estimulem a diversidade nas ciências, que incorporem uma perspectiva de gênero com foco no engajamento, reconhecimento e liderança feminina na produção científica”, declara a pesquisadora Camila Hartmann, que está à frente de um estudo sobre o impacto do coronavírus no coração. Apesar da diversidade dos contextos sociais e culturais, muitas são as semelhanças entre as inspirações e desafios enfrentados por mulheres na ciência.
“As mulheres precisam se posicionar, acreditar em suas capacidades e comunicar-se com firmeza, buscando igualdade e respeito no ambiente científico”, enfatiza Camila Hartmann. Hoje, inúmeras profissionais da saúde se destacam com trajetórias brilhantes, inspirando outras a acreditarem, persistirem e não desistirem de trilhar caminhos igualmente bem-sucedidos. “Nós precisamos e podemos sonhar alto. Temos que traçar metas, perseguir nossos objetivos e persistir. Eles podem, sim, acontecer”, conclui a médica Maria Fernanda.