Estruturas do Fab Lab Newton são usadas para produção de equipamentos no combate ao coronavírus

Espalhados pelo Brasil, voluntários e profissionais de diversas áreas de atuação se mobilizam para produzir equipamentos de proteção individual (EPIs) utilizados especialmente por profissionais de saúde na luta contra a Covid-19. Redobrar os esforços tem sido a mensagem mais presente nos últimos dias, enfatizada pelas autoridades de saúde. Nesse sentido, para buscar soluções de problemas sociais, aumentando a capacidade de produção de EPIs, faculdades utilizam a estrutura de Fab Labs, laboratórios com potente espaço de fabricação digital, com impressoras 3D e cortadoras a laser.

Em Belo Horizonte, a Newton, por meio do Fab Lab, atua na produção de escudos faciais e fortalece o processo de corte a laser do material, realizando cerca de 300 cortes por dia. Na capital, o total de 40 escudos já foram doados pelo centro universitário para o Hospital da Baleia e o Hospital Sofia Feldman, que atualmente sofrem com a escassez e os preços abusivos dos insumos. Além de oferecer maior proteção diante do poder de contaminação do novo coronavírus, a estrutura dos escudos faciais permite a reutilização do material após a higienização adequada. A direção dos hospitais interessados em receber os escudos deve formalizar os pedidos pelo endereço newton@newtonpaiva.br, informando a quantidade de escudos, cidade, nome do solicitante e o cargo, para avaliação.

Consciente da importância do processo de urgência neste momento, que busca soluções enquanto a produção está em andamento, a Newton está focada também em fornecer suporte técnico para aprimorar novos modelos de EPIs. “Nesta área de orientação de fabricação digital, atuamos, por exemplo, no desenvolvimento de um novo face shield para atender os profissionais da saúde. Uma médica do Instituto de Ortopedia do Hospital das Clínicas de São Paulo, por exemplo, desenvolveu um modelo simples, confortável e barato. Nossa ajuda tem sido orientá-la quanto ao processo de fabricação”, compartilha Carla Werkhaizer, coordenadora do Fab Lab Newton.

“Desenvolvemos também o tutorial que orienta os voluntários em todas as etapas, da produção à montagem. A orientação segue normas da ANVISA quanto ao tipo de material mais adequado para preservar o conforto e a higiene dos profissionais de saúde, além de esclarecer todos os protocolos para adequação do local de trabalho, montagem dos equipamentos e entrega aos hospitais”, continua Carla.

Na Facens, Centro Universitário de Sorocaba, profissionais e alunos da instituição que atuam no Fab Lab, utilizando 14 impressoras 3D, fabricam em média 40 a 45 unidades por dia e estimam produzir, no período de um mês, mil escudos faciais a serem doados a hospitais. Ao todo, as duas instituições, Newton e Facens, contam de 20 impressoras 3D e buscam utilizar a capacidade máxima das ferramentas para disponibilizar as peças.

“Os Fab Labs já são espaços fortes de prototipação, de projetos sociais e de pesquisa. Enxergamos como o espírito acadêmico é importante neste momento, construindo saberes com auxílio de diversas áreas. Os pesquisadores da saúde, por exemplo, trazem o feedback sobre o uso dos escudos, enquanto os das exatas conseguem adequar e fazer a modelagem 3D”, pontua Leonardo Fernandes, responsável pelo setor de Pesquisa, Extensão e Inovação da Newton.

A força da colaboração

Em Belo Horizonte, Trem Maker – coletivo de markers, no qual profissionais e estudantes da Newton também fazem parte – reúne engenheiros, especialistas em fabricação digital, designers, programadores, publicitários e médicos. Em diferentes áreas, todos engajados no mesmo propósito: produzir e doar EPIs aos profissionais de saúde que estão na linha de frente no combate ao novo coronavírus. Diariamente, a equipe produz de 300 a 500 escudos e os voluntários responsáveis por receber os pedidos dos hospitais organizam a logística da entrega. O fornecimento atende mais de 15 hospitais presentes em Belo Horizonte e na região metropolitana.

A cultura maker, caracterizada pela possibilidade de fabricar, reparar objetos com autonomia e recursos próprios, passa a ser associada a um formato de trabalho bastante apropriado para o momento: crowdsourcing. A união das expressões crowd (multidão) e outsorcing (terceirização) mostra a perspectiva de reunir conhecimentos de diversas pessoas voluntárias, recrutadas especialmente na internet, em busca de solução de problemas. Neste caso, o abastecimento dos materiais de proteção individual, a segurança das pessoas e, consequentemente, a contenção do espalhamento do vírus.

“Quando juntamos a força do coletivo, geramos mais. Todos ajudam com os recursos que possuem. Os custos são compartilhados, obtemos uma produção em massa e constante, fatores importantes diante deste cenário”, analisa Leonardo.

Por meio dessa articulada rede de profissionais solidários, a coordenadora do Fab Lab Newton acredita no potencial de produção de outros equipamentos. “As máscaras são apenas o início de uma linha de produção, que pode se estender para outros EPIs, sempre a partir da validação de médicos, cientistas, da Anvisa e do Ministério da Saúde”, reforça Carla.

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