Investimento em TI dos grandes hospitais está abaixo da média de mercado, revela pesquisa da FGVCia

O FGVcia, Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP), divulgou nesta quinta-feira, 4, a 31ª Edição da Pesquisa Anual do Mercado Brasileiro de TI e Uso nas Empresas, mostrando que o investimento e gasto das empresas em TI foi de  8%, valor similar que o  setor tem no PIB brasileiro..

Segundo o prof. Fernando S. Meirelles, coordenador do estudo, a pesquisa feitas com uma amostra de 2.622 médias e grandes empresas, 66% delas no ranking das 500 maiores empresas, revela que o custo anual de TI por usuários atingiu no passado o valor de R$ 52.000, mostrando que não há economia de escala nos custos, que cresce ainda mais de acordo com o tamanho da empresa.

O FGVcia incluiu no estudo o uso de TI em hospitais em convênio com a ANAHP – Associação Nacional de Hospitais Privados que enviou para todos os seus associados a pesquisa tradicional de uso de TI acrescida de um questionário específico para TI nos hospitais.

O FGVcia recebeu a resposta completa de parte significativa dos associados, que equivalem a 56% dos leitos dos hospitais privados no Brasil.

Resultados do estudo selecionados para apresentar na pesquisa esse ano, permitem ilustrar a evolução dos Gastos e Investimentos nos Hospitais privados, comparados com a média da pesquisa para todas as empresas e para o ramo de Saúde que inclui outros hospitais, laboratórios, clínicas, assistência médica, seguros de saúde, entre outros.

Os gastos e investimentos desses hospitais (4,6% do faturamento líquido anual) são a bem menores que média geral das empresas (serviços, indústria e comércio) da pesquisa completa (8,0%) e também do setor de Saúde como um todo, 6,7%.

Considerando a metodologia de avaliação e diagnóstico da Pesquisa FGVcia que analisa para as empresas o Custo Anual por teclado e por usuário, criou-se para os hospitais um novo índice: o CAPL – Custo Anual por Leito. O CAPL tem um significado e um potencial de explicação grandes para os hospitais.

O CAPL é a divisão do Total de Gasto e Investimentos em TI no ano pelo número de leitos do hospital. O CAPL cresceu 8% no ano e resultou em R$ 154.000 de dezembro de 2019, equivalente a US$ 39.000. Em dólares o CAPL permanece oscilando em torno de US$ 39.000 desde 2010.

O CAPT (Custo Anual por Teclado) dos hospitais privados resultou em R$ 40.000 ou US$ 10.200 em 2019, um valor muito próximo ao da média para as empresas no Brasil que foi de R$ 46.000.

Outro tema do estudo de TI em Hospitais foi a integração das TIC em hospitais, também chamada de interoperabilidade tanto pelos hospitais estudados, como pelos organismos de saúde nacionais e internacionais, por entenderem que hospitais e demais estabelecimentos de saúde devem romper a barreira imposta pelas suas quatro paredes, trocar dados com entidades externas na atenção ao paciente, e fazer uso de modelos integrados de atenção à saúde.

A integração das TIC em saúde representa a capacidade dos sistemas de informação de trocar, transformar e interpretar dados oriundos de diferentes sistemas e dispositivos e através das próprias fronteiras organizacionais na busca do avanço necessário para a efetiva entrega dos serviços de saúde para indivíduos e comunidades. Os dados de um hospital ou de qualquer outro estabelecimento de saúde deve ser compartilhados entre diferentes jogadores para manter o foco de atenção e segurança do paciente.

Estudos realizados nos EUA, em diferentes momentos, com hospitais daquele país, indicam que a discussão sobre integração das TIC na saúde se iniciou em 2004 com o conceito de registro eletrônico de saúde Electronic Health Record (EHR), anos depois passaram a incentivar adoção e uso do registro eletrônico de saúde em seus diferentes estágios de maturidade e só em 2012 se empenharam para colocar em marcha a integração entre sistemas de saúde e dispositivos.

Integração não é um imperativo tecnológico. Os hospitais reconhecem seu valor na forma de resultados na atenção e segurança ao paciente e de comunidades atendidas. Os hospitais brasileiros estão iniciando uma jornada de como praticar cuidados integrados para os pacientes, com troca de dados, e uso de novas e modernas ferramentas. Algumas dessas ferramentas são inimagináveis, já que a indústria evolui rapidamente.

Embora alguns hospitais tenham implantado integração no nível tático, o desenvolvimento de um plano estratégico envolvendo a integração passa a ser mandatório para os hospitais avançarem em suas atividades de promover a saúde. A integração faz parte do interesse de pesquisadores e da agenda executiva dos hospitais, que reconhecem o papel renovador de tecnologias em pessoas, processos e cultura organizacional.

O modelo referencial adotado no estudo e as proposições adicionam mais granularidade no entendimento da importância da integração das TIC em hospitais para a atenção ao paciente.

Futuros pesquisadores devem ser incentivados a criticar, ilustrar, expandir e investigar mais a estudo desenvolvido para a integração em hospitais públicos e privados, para a criação de agenda ambiciosa de pesquisa que ajude a reformulação do modelo de saúde em sintonia com a economia digital.

Estudos sobre TIC em saúde, demonstram que, se implantadas de maneira eficiente, as TIC podem resultar em melhoria da qualidade na prestação de serviços de saúde, aumento da segurança no atendimento ao paciente e custos menores devido à eliminação de serviços de saúde considerados desnecessários.

Atualmente executivos de hospitais, médicos e pesquisadores devem reconhecer o papel renovador de tecnologias em pessoas, nos processos, na cultura organizacional e nos procedimentos em geral. Investimentos em TIC, bem como seu uso, permitem que os hospitais desenvolvam agilidade operacional na atenção à saúde do paciente.

A TI em conjunto com a Ciência Médica e Biológica estão mostrando avanços significativos em várias dimensões da Saúde. Novos processos, materiais, equipamentos amplificam a capacidade de diagnóstico, tratamento e prevenção das mais variadas doenças.

Um exemplo visível de grande sucesso é o uso de Inteligência Artificial pelo Watson da IBM no tratamento do Câncer. Uma das previsões mais impressionantes que o Gartner faz para os custos da área da saúde é de que devido as novas tecnologias da área biomédica, mas principalmente devido a aplicação de novas tecnologias de informação, haverá uma redução de até 40% nos custos de saúde em poucos anos.

A pesquisa da FGVcia traz ainda números inéditos e interessantes, retratando o cenário atual e as tendências, uma valiosa contribuição para os meios empresariais e acadêmicos. Um resumo dos resultados está disponível aqui.

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