O Brasil tem mais de 6.300 favelas, que abrigam 13,4 milhões de pessoas, retratando uma grande desigualdade social de acesso à saúde, agora agravada pela pandemia. Por isso, uma das maiores preocupações com a chegada da Covid-19 tem sido a disseminação e a letalidade do coronavírus nessas comunidades que se caracterizam por terem residências muito próximas, famílias vivendo em casas de cômodo único, dificuldade no abastecimento de água, pouco acesso ao saneamento básico e socialmente distantes de serviços de saúde adequados, levando essa população a um quadro de subnotificação da doença. Portanto, a testagem é uma das principais ferramentas para zelar pela saúde e pela vida.
Pensando nisso, a IMPACTO e a Ribon, com a Campanha Bora Testar, participam do projeto Favela sem Corona que, por sua vez, convidou a atriz Maria Gal, que atua como apresentadora e colunista de diversidade da “Vogue Gente”, para ser embaixadora do projeto.
Setembro registrou a terrível marca de 1 milhão de mortos no mundo, mais 150 mil só no Brasil. Segundo pesquisas, a mortalidade de pessoas negras no País por conta do coronavírus é de 54,8% contra 37,9% de brancos. “Nas comunidades do Rio de Janeiro, 67% dos moradores são pretos. Pensar que os moradores das comunidades do Rio de Janeiro estão entregues à própria sorte, com pouca contribuição do poder público, me fez entender que, enquanto uma mulher preta privilegiada, eu precisava fazer algo para além de usar a minha imagem, e contribuir para que pessoas desfavorecidas economicamente pudessem fazer o teste de forma gratuita, me pareceu uma ação necessária e urgente”, explica Maria Gal.
“Lembro que, quando me contactaram, relataram uma história de uma senhora da Rocinha que fez o teste pela manhã e à noite faleceu, pensei que se ela soubesse que estava com coronavírus antes, a possibilidade dela se tratar seria muito maior. Foi quando contactei, pessoalmente, algumas empresas pedindo apoio e, dentre elas, o Hilab que eu já acompanhava o trabalho. Afinal de contas, estamos passando por um momento extremamente delicado e, necessita que nós, da sociedade civil, possamos, de alguma forma, contribuir – principalmente -, em projetos que visam ajudar os mais vulneráveis. Estamos todos no mesmo mar revolto, mas não no mesmo barco. Isso é cidadania”, completa a embaixadora.
Idealizador do projeto Favela Sem Corona, Pedro Berto reforça a necessidade de ampliar o alcance da testagem. “Através das nossas redes sociais, utilizamos linguagem informal, simples e objetiva, para mantermos os moradores das favelas informados sobre os cuidados que devem ser tomados em relação ao coronavírus. As doações financeiras que recebemos também são utilizadas para compra de sabonetes, álcool gel e máscaras, que entregamos a entidades e organizações que trabalham nas comunidades”, explica.
“Precisamos apoiar essas comunidades e indivíduos para que voltem à vida normal e ajudem a reduzir a disseminação da Covid por meio de testes e conhecimento”, diz Sebastian Mejia, fundador da IMPACTO e do Rappi.
Com os exames feitos pelo Hilab, serão doados, inicialmente, 300 exames rápidos de Covid-19 para a comunidade. “Nossa missão é levar acesso à saúde para o maior número de pessoas, por isso embarcamos nesse projeto. O Hilab possibilita tornar a saúde mais acessível a todos, isso porque o mesmo exame que é feito em laboratórios convencionais, é também realizado pelo dispositivo, com valor e lugares muito mais acessíveis para a população”, conta Marcus Figueredo, CEO da Hi Technologies.
Inicialmente, o projeto terá duração de seis dias e deve realizar 300 testes a partir do dia 5 de outubro. Uma equipe de entrevistadores treinados fará a triagem e o agendamento, para evitar aglomeração.
A campanha traz a metodologia de campo do Bora Testar, já aplicada nas favelas de Paraisópolis e Heliópolis, em São Paulo. Além da testagem, uma pesquisa com conceitos censitários é realizada para mapear as áreas mais vulneráveis do território e o perfil dos testados. Por meio da plataforma digital Ciente (http://app.ciente.net/covid/), os dados são registrados. “Assim, as informações socioeconômicas coletadas ajudam a traduzir o impacto do coronavírus com mais precisão e com isso, apontar possibilidades de ações imediatas nas áreas mais críticas para o combate do avanço da pandemia.” explica Emilia Rabello, uma das idealizadoras do projeto.
“A testagem é uma das maneiras mais eficazes de prevenir a contaminação do coronavírus. Além disso, com o retrato que nos traz essa investigação, queremos levar mais informação sobre o impacto da doença, pelo menos nas 10 maiores favelas do Brasil, e transformar sua vulnerabilidade em dados que provocam mudanças”, afirma Claudia Daré, também idealizadora do Bora Testar.
A Associação de Moradores da Rocinha vai abrigar a estrutura montada para a realização do projeto. “Vamos continuar trabalhando para servir nossos moradores. Fico muito grato em nome da comunidade por essa ação que é muito importante para todos nós”, diz Wallace Pereira, presidente da organização.
A Ribon, por sua vez, abriu uma campanha dentro do seu aplicativo de doações para causas sociais. Na tela do celular, qualquer pessoa poderá doar para o Favela Sem Corona sem gastar dinheiro em um modelo especialmente criado para este fim. Dessa forma, a plataforma conecta pessoas físicas com as empresas apoiadoras na missão de adquirir e aplicar os testes nas comunidades cariocas. A mensagem que propaga esse novo jeito de fazer caridade é disseminada por meio de uma comunidade de usuários engajada neste propósito e que potencializam os resultados de impacto alcançados.
“Tivemos essa ideia de criar a Ribon guiados pelo propósito de incentivar a cultura da doação no Brasil. Os problemas trazidos pela pandemia mostraram que as socialtechs, que são as startups focadas em causas sociais, têm uma importância grande não apenas para o ecossistema de startups, mas também para a sociedade. Isso está tão evidente que as empresas estão enxergando isso e, o que é melhor, se unindo em prol de causas. É uma satisfação para a Ribon se juntar com a Impacto, Hilab, Favela Sem Corona e o Bora Testar para aquisição dos testes que serão usados como forma de controlar a disseminação da COVID-19 em áreas de vulnerabilidade”, conta Rafael Rodeiro, CEO da startup.
Investimentos
Para realizar o evento, foi preciso movimentar muitos setores: contratações de colaboradores para triagem e aplicação dos testes, logísticas, capacitação e treinamento. Para isso, o projeto contou com a colaboração da Impacto, organização sem fins lucrativos que tem como objetivo fazer parcerias e financiar iniciativas de combate à COVID-19 na América Latina.