Até o fim do ano, a Agência de Saúde Suplementar (ANS) lançará a plataforma brasileira de open health. Com um papel semelhante ao do Banco Central em relação ao open banking, a ANS estabelecerá o cronograma e os critérios de governança para que aconteça o compartilhamento de dados entre os milhares de provedores de serviços de saúde brasileiros, de grandes hospitais e laboratórios a universidades, passando pelo muito diverso segmento de healthtechs.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a missão de todas as iniciativas de saúde digital é melhorar a condição de vida das pessoas por meio de tecnologias como inteligência artificial (IA), blockchain, internet das coisas (IoT), telemedicina e outras. Em relação ao papel específico do ecossistema open health, a consultoria KPMG explica o open health como um modelo com o potencial de entregar uma experiência personalizada e integrada ao cliente, aumentando a produtividade do provedor de serviços de saúde. Esse ecossistema visa, por meio do reconhecimento de que os dados desse setor são um ativo crítico, otimizar a entrega de serviços de saúde a todas as pessoas.
O Brasil é um grande país com 210 milhões de cidadãos. A chegada do Open Health vai acelerar a coleta e o compartilhamento de dados médicos da população como um todo e, desse modo, melhorar a saúde do país.
Para isso, cria-se um ambiente interconectado entre os mais diversos players de serviços de saúde para, a partir desse Big Data, gerar análises personalizadas sobre cada paciente. O Open Health também colabora na busca de melhorias sistêmicas em relação a segmentos da população organizados por idade, geografia etc.
Reino Unido, Finlândia, Noruega e Sueca já contam com open health
A visão centrada no paciente é suportada pelo o que é conhecido como medicina de precisão. Seguindo essa linha, o open health busca implementar uma estratégia baseada em quatro “Ps”: preditiva – uma visão antecipada sobre os riscos de saúde do paciente –, preventiva, indicando que ações adotar para evitar o problema de saúde, personalizada – a capacidade de chegar aos detalhes do prontuário de saúde da pessoa – e, finalmente, participatória. Nesse caso, trata-se de entregar ao paciente o controle sobre seus dados, além de incentivar a pessoa a tomar iniciativas, fora do sistema de saúde, para melhorar sua condição física. Esse modelo é a base do open health de países europeus como Reino Unido, Finlândia, Noruega e Suécia.
Melhorias na condição de saúde das pessoas só serão alcançadas, porém, se os integrantes do open health brasileiro contarem com a correta infraestrutura digital. Vidas estão em jogo, o que torna a demanda por acesso a dados em real time algo crítico. A base das trocas de dados entre hospitais, clínicas e healthtechs são APIs (application programming interfaces) que abrem para todos os integrantes do open health a possibilidade de compartilhar dados entre si em milissegundos.
Rede 5G amplia a eficácia do open health
APIs somam-se a soluções baseadas em inteligência artificial e machine learning para facilitar a coleta, processamento e compartilhamento de dados de saúde. No Brasil, um outro elemento entra em cena para acelerar ainda mais os resultados trazidos pelo open health: as redes 5G.
Somente as velocidades de acesso trazidas pela rede 5G podem, efetivamente, integrar em real time os dados sobre saúde gerados em ambientes e dispositivos digitais diferentes entre si. O resultado desse processamento integrado de dados é um diagnóstico mais preciso e rápido sobre a condição do paciente. Por exemplo, imagens geradas por uma máquina de ressonância magnética em um grande hospital podem ser integradas aos dados gerados pelos dispositivos de internet of medical things (IoMT) usados pelo paciente em sua casa. Esse é o caso, por exemplo, do dispositivo de monitoramento de oxigenação que se prende ao dedo do paciente. Esse dispositivo monitora o que está acontecendo com o paciente em sua casa e, via a rede de telecom, compartilha esse dado com a clínica que atende essa pessoa. No caso de um surgir um problema, o app que processa os dados pode gerar um alerta para o médico ou o enfermeiro que cuida do paciente.
Há razões para se empregar as redes 5G em aplicações de saúde. Nessa arquitetura, leva-se o processamento de dados para as bordas da rede, o que pode produzir velocidades de pelo menos 50 megabits por segundo (Mbps), com índices de latência dez vezes mais baixos do que os oferecidos pelas redes 4G. Em geral, acredita-se que a velocidade de processamento e entrega de dados da rede 5G é até 100 vezes superior à das redes 4G (dados da Next Generation Mobile Networks Alliance).
O potencial da rede 5G aplicada ao Open Health brasileiro exige milhares de data centers de edge computing para se tornar real. Não existe rede 5G sem data centers de edge computing processando dados em locais próximos ao consumo da informação.
A pesquisa “Data Center 2025: Mais próximo do Edge”, desenvolvida em 2019 pela Vertiv a partir de entrevistas com 800 gestores de data centers, revela que mais da metade dos participantes que já contam com sites de edge acreditam que haverá um crescimento de 100% nesse tipo de infraestrutura até 2025. Para a consultoria norte-americana medium, até 2025, 75% dos dados serão processados em data centers implementados na borda da rede. Hoje essa marca está em 10%. A chegada da rede 5G no Brasil atua, na prática, como um acelerador desse quadro.
Heterogeneidade do setor implica em diferentes níveis de maturidade digital
A heterogeneidade do futuro ecossistema de open health — um universo em que grandes grupos muito capitalizados e distribuídos geograficamente dividem espaço com players SMB com recursos limitados e atuação regional — torna a demanda por data centers que suportem o processamento 5G de aplicações de saúde algo desafiador.
Um estudo realizado pela 451 Research em 2019 revelou que 70% do setor de saúde operavam seus próprios data centers. O relatório mostrou, ainda, que duas em cada cinco organizações de saúde usavam provedores de serviços de nuvem. Um quarto do universo pesquisado, por outro lado, contratava espaços em data centers de colocation.
Quer o gestor da empresa de saúde amplie a contratação de serviços de nuvem pública ou híbrida, quer prefira investir em data centers próprios (nuvem privada), a demanda pela continuidade no processamento dos dados do ecossistema de open health é a mesma.
Hoje, segundo o Data Center Map, o Brasil possui 77 data centers de colocation. Trata-se de uma modalidade de serviço em que organizações podem alugar a infraestrutura digital que suportará os servidores dessa empresa. É razoável estimar que, quando a rede 5G estiver madura, o país contará com milhares de data centers de vários perfis, não só de colocation, espalhados por todos os estados. Essa explosão de centros de dados é essencial para que a infraestrutura 5G/edge computing aconteça e colabore com o sucesso do open health.
Estratégias para evitar o downtime do data center
Se todo data center é crítico, o data center que suporta o processamento de dados de saúde é mais crítico ainda. É fundamental adotar estratégias que reduzam os danos causados pelo downtime do data center do setor de saúde.
Além de soluções avançadas de energia e gerenciamento termal, o uptime desses centros de dados demanda serviços de monitoramento remoto 24×7. A meta é conquistar uma visão preditiva do ambiente digital — quer seja um único data center, quer sejam dezenas ou centenas de data centers espalhados geograficamente.
É recomendável, também, contar com serviços de manutenção preventiva oferecidos por técnicos locais treinados em fábrica, com rápido acesso a peças de reposição. Iniciativas como estas possibilitam uma resposta mais rápida a eventos que possam resultar em downtime do data center. Quem adotar essa estratégia garantirá o acesso a dados de todos os integrantes do ecossistema de open health, independentemente de seu porte, orçamento ou localização geográfica.
*Rafael Garrido é vice-presidente da Vertiv América Latina.