Burnout custa à economia global 1 trilhão de dólares por ano

O burnout é um mecanismo de defesa do corpo, que dá sinais antes que o pior aconteça. Muito além das horas extras trabalhadas, a condição de saúde pode desencadear quadros de ansiedade e depressão, duas das doenças mais comuns, e gerar prejuízos emocionais e até econômicos às empresas. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que cerca de 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos anualmente devido à depressão e à ansiedade, custando à economia global quase US$ 1 trilhão.

Segundo a CEO e fundadora da CKZ Diversidade, Cris Kerr, um artigo recente da Harvard Business Review mostra que outras causas de burnout podem incluir um ambiente de trabalho tóxico ou uma cultura corporativa que não se alinha aos valores da pessoa, ou ainda questões relacionadas a diferenças entre a descrição do cargo e o que é exigido na prática. Assim, o colaborador acaba por enfrentar uma sensação de não ter reconhecimento e de não pertencer, ou de ver os próprios talentos subaproveitados, contribuindo para a deterioração da saúde mental.

“Também há uma dimensão cultural importante em jogo: o culto ao êxito, a obrigatoriedade de ser melhor o tempo todo, a ideia de que não há recompensa sem sacrifício e a noção de que ‘a roda não pode parar de girar’. A glamourização do burnout faz com que as pessoas admitam o problema com facilidade, desde que faça referência ao excesso de trabalho, mas tenham vergonha de admitir quadros de depressão e ansiedade”, acrescenta Cris.

No Brasil, o burnout já é endêmico. A pesquisa da ISMA-BR (International Stress Management Association) revelou que 30% das pessoas trabalhadoras brasileiras sofrem da síndrome, sendo que existe ainda outro percentual não diagnosticado. Conforme aponta o Ministério da Previdência Social, em 2023, foram concedidos 38% mais benefícios por incapacidade devido a transtornos mentais do que em relação a 2022.

“Felizmente, o alerta para o burnout tem ganhado força e espaço dentro das empresas, um dos poucos legados positivos da pandemia de Covid-19. Se antes a saúde nas empresas era sinônimo de ginástica laboral e check-ups periódicos, hoje o bem-estar mental e a felicidade foram incluídos na pauta”, completa a CEO da CKZ Diversidade. Um estudo da ADP Research Institute realizado em 17 países mostrou ainda que as pessoas têm se sentido mais confortáveis para falar sobre o assunto, sem temer o julgamento. No Brasil, 63% dos 1.412 trabalhadores afirmaram que sentem poder ter conversas sinceras sobre o burnout.

Cris Kerr reforça o dado da OMS de que a cada dólar investido na saúde mental das pessoas de uma empresa pode haver um retorno de até 4 dólares e defende que o cuidado com a saúde mental e emocional deve ser uma prioridade, assim como a segurança nas organizações. “Da mesma maneira que muitas companhias têm os EPI (Equipamento de Proteção Individual), entre os quais os capacetes e botas, precisamos criar os chamados EPIs emocionais. São capacitações e programas para acolher quem não está se sentindo bem e para garantir o bem-estar dos times”, diz.

Para a especialista em D&I, promover espaços seguros para momentos de crise e buscar ativamente entender como as pessoas estão se sentindo são vias de mão dupla. A produtividade e entrega são resultados de segurança psicológica e de um estado de saúde mental estável, sendo a cultura corporativa a responsável pela valorização dos colaboradores e pela criação de espaços de trabalho saudáveis para lidar com transtornos mentais e os momentos agudos de sofrimento psicológico.

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