O câncer é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a segunda principal causa de morte em todo o planeta. Segundo estimativas do Observatório Global do Câncer (Globocan), em 2020, 4 milhões de pessoas foram diagnosticadas, sendo que 1,4 milhão delas morreram. Por meio de iniciativas do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), do Ministério da Saúde, o setor público brasileiro já conta com o que há de mais moderno para prevenir novos casos e garantir atendimento ainda mais preciso e personalizado a cada paciente.
Os projetos Mapa Genomas Brasil e Onco-Genomas, conduzidos respectivamente pelos hospitais BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo e Moinhos de Vento, em Porto Alegre, estão coletando dados genômicos e clínicos de pacientes de oncologia atendidos no SUS. Os estudos colaboram com a construção do banco de dados genético do Governo Federal, chamado de Genomas Brasil, inédito no país. Com impacto nacional, ou seja, atingindo usuários do SUS de todas as regiões, as iniciativas buscam embasar a implementação de estratégias de gestão populacional em câncer de mama, câncer colorretal e câncer de próstata, trazendo informações ainda não conhecidas sobre a população brasileira, impactando diretamente o atendimento oferecido hoje em dia no sistema de saúde pública.
Na visão da Ministra da Saúde, Nísia Trindade, no longo prazo, a medicina de precisão e os projetos do Proadi-SUS têm potencial para “a redução dos custos de investigação e aumento das taxas de diagnóstico, tratamento e prevenção, melhorando o acesso aos serviços de saúde e à informação, além de contribuir com a redução da morbimortalidade causada por essas doenças.”
O Mapa Genoma Brasil teve início em 2021 com o mapeamento e registro do perfil clínico, epidemiológico, familiar e genômico de pacientes com câncer de mama, próstata e colorretal atendidos pelos serviços do SUS, totalizarão 273 casos-índice e o dobro de familiares a serem avaliados até o final do projeto.
“O conhecimento exponencialmente crescente do genoma humano, aliado a bases de dados sólidas e bem estruturadas, está permitindo que a medicina atue de forma personalizada e altamente eficiente, tanto do ponto de vista de novos tratamentos, como de prevenções individualizadas para pacientes de risco. Estes estudos são uma gigantesca oportunidade para o reconhecimento dos fatores genéticos no desenvolvimento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) na nossa população. Esse projeto é mais uma contribuição da BP para o desenvolvimento da saúde no Brasil. Nosso objetivo é utilizar a nossa experiência e pontos fortes para aprimorar e garantir o acesso à saúde de qualidade para todos os brasileiros, sempre seguindo os princípios do SUS”, conta Renato Vieira, diretor executivo de desenvolvimento médico, técnico e educação e pesquisa da BP.
Por meio do Onco-Genomas, também iniciado em 2021, está sendo testada uma linha de cuidado oncológico baseada na inclusão do sequenciamento completo do exoma — exame genético que permite a identificação de mutações em partes específicas do DNA humano, comumente utilizado para o rastreamento de doenças genéticas, tal como o câncer e patologias raras. Os dados coletados servirão como insumos ao SUS para melhor compreensão e acesso ao diagnóstico da doença, além de permitir um tratamento ainda mais preciso e personalizado, bem como construir uma linha de cuidado preditiva para pacientes com câncer de mama localmente avançado. Até o final de 2023, serão acompanhados 350 mulheres e 250 homens diagnosticados com câncer de mama e próstata, respectivamente.
“Enquanto a Organização Pan-Americana da Saúde [OPAS] prevê um aumento dos registros de câncer em quase 60% até 2040 caso nenhuma ação seja tomada para ampliar os serviços de tratamento e prevenção para reduzir a incidência, o Instituto Nacional de Câncer [Inca] estima 704 mil casos novos para cada ano do triênio 2023-2025 em todo o Brasil, com destaque para as regiões Sul e Sudeste, que concentram cerca de 70% das ocorrências. Com esses rastreamentos concluídos, será factível verificar a presença de alterações genéticas que possam explicar padrões de incidência distintos da doença. Quanto mais pessoas participarem do mapeamento, mais contribuições teremos para que as próximas gerações não voltem a ter as mesmas dificuldades no enfrentamento dessas patologias”, explica o médico Gabriel Macedo, analista de biologia molecular e responsável técnico do projeto.
Somando as duas iniciativas, há cerca de 40 centros oncológicos participantes, sendo que a expectativa é encerrar os estudos até o final deste ano.