Três frentes em que a digitalização na saúde deve ganhar força

A utilização de recursos disruptivos, suportados por inteligência artificial (IA), machine learning (ML), IoT e edge computing, tem  crescido nos últimos anos, redefinindo o conceito de cuidados com a saúde, transformando modelos de atendimento e a elaboração dos  tratamentos ao mesmo tempo em que aprimora a análise dos exames, a produção dos diagnósticos e o gerenciamento de empresas e contratos.

Para este ano, a tendência é que os investimentos nessas ferramentas  se tornem ainda mais robustos. Segundo pesquisa da IDC, intitulada Worldwide  Healthcare Industry 2023 Predictions, 65% das organizações de  saúde ouvidas investirão em software de IA para melhorar a governança e desenvolver tratamentos mais personalizados. Para 33,4%, a digitalização dos fluxos de trabalho repetitivos será  uma prioridade. Outros 32,6% revelaram que aumentarão os seus aportes  em cibersegurança.

Além desses pontos, há também um consenso sobre a necessidade de se  avançar nas estratégias tecnológicas dentro das empresas e  instituições de maneira a suportá-las no enfrentamento de questões  emergenciais como a falta de médicos — sobretudo, em países mais  carentes —, instabilidades na cadeia de suprimentos e o  envelhecimento natural da população mundial. Colaborar, ainda, na entrega de mais resiliência à sociedade global, como forma de  preparação preventiva a uma eventual futura crise sanitária, seja  esta originada por microrganismos invisíveis, como um vírus, ou  advindos de episódios com dimensões mais eloquentes, como as tragédias  ambientais provocadas pelas mudanças climáticas que afligem o planeta.

A aplicação de tecnologia nas rotinas médicas e na própria gestão das organizações deve passar por um processo de aceleração a partir deste ano. Em algumas áreas-chave da saúde, a capacidade de transformação que elas propõem será mais notória. A seguir, uma análise das fronteiras dos serviços de saúde onde essa nova abordagem healthtech deverá se tornar mais proeminente nos próximos 12 meses:

1. Virtualização hospitalar

Uma tendência que surge para dar celeridade e eficiência ao atendimento de pacientes, auxiliando na redução da pressão sobre a ocupação de leitos no sistema de saúde, são os “hospitais virtuais”. Alas de enfermaria digitalizadas em que grupos de pacientes que demandam cuidados semelhantes estão em suas residências, conectados a aparelhos e sensores inteligentes, sendo monitorados online por equipes médicas em salas de controle instaladas em hospitais reais.

No Reino Unido, o sistema de saúde local (National Health Service – NHS) tem estimulado a criação dessas plataformas. O objetivo é capacitar as instituições locais a atenderem 24 mil virtual beds (camas virtuais) até o fim deste ano — média de 40-50 leitos a cada 100 mil habitantes.

Essa descentralização do atendimento traz dois benefícios complementares ao acompanhamento remoto e em tempo integral dos pacientes: a diminuição dos custos com internação nos hospitais e um aproveitamento amplificado da força de trabalho, com enfermeiros e médicos — muitas vezes, de especialidades complexas — realizando cuidados simultâneos a diversos pacientes.

2. Diagnósticos e tratamentos

Os últimos anos têm sido marcados pelo crescimento no uso de equipamentos suportados pela IA e machine learning para ajudar os profissionais de saúde no diagnóstico e prevenção de doenças. Tecnologias que contribuem para a análise inteligente de imagens, reconhecimento de padrões em exames e aceleração na descoberta de novas medicações. Além disso, auxilia nas avaliações preditivas  impulsionadas por IA para personalização dos tratamentos e gestão mais eficiente de contratos de seguro saúde e fichas de internação.

Quanto à personalização dos tratamentos, os serviços digitais e aplicativos munidos de data analytics têm conseguido prescrever planos que levam em consideração uma infinidade de fatores, até mesmo predisposições genéticas. Como reflexo, o acompanhamento em tempo real tem gerado resultados mais positivos do procedimento terapêutico, aumentando o percentual de cura e reduzindo o risco de reinternação do paciente.

3. Monitoramento remoto

A adoção de devices conectados à rede para a transmissão em tempo real de dados clínicos dos pacientes, seja dentro dos hospitais ou na residência dos enfermos, deve experimentar forte expansão a partir deste ano e até o fim da década. De acordo com a Data Bridge Research, o mercado de internet das coisas médicas (IoMT, na sigla em inglês) deve chegar a US$ 270,4 bilhões em investimentos até 2029, com crescimento regular de 23,9% ao ano.

Com isso, espera-se uma rápida expansão no uso destes dispositivos, implantados nos mais diversos pontos de contato com o paciente: da roupa que veste, feita com tecido “smart” que mede a pressão arterial e o nível de açúcar no sangue ao sofá que monitora batimentos cardíacos enquanto o usuário assiste televisão.

É relevante compreender que o crescimento dessa nova indústria de saúde mais conectada e orientada por dados requer investimentos não apenas em softwares inteligentes, algoritmos e sensores de IoT. Sua expansão depende fundamentalmente de data centers mais robustos, seguros e eficientes energeticamente, ofertados com alta disponibilidade para as companhias do setor e entidades governamentais, a fim de suportar toda essa transformação.

Além do investimento em infraestrutura de TI, há a necessidade de contar com empresas especialistas em tecnologia para oferecer serviços que mantenham toda a operação disponível.

Iniciativas como o suporte para uma gestão eficiente e ágil para evitar a ocorrência de falhas e o monitoramento remoto estão entre as que devem ser apoiadas por empresas especializadas. Ainda, o uso de soluções inteligentes que contribuem para a realização de ações preditivas que dão integridade e segurança a todo ambiente de TI.

Os pontos abordados aqui são apenas alguns exemplos sobre como tem avançado a aplicação da tecnologia no segmento de saúde. O desenvolvimento da jornada de digitalização da saúde em 2023 exigirá foco absoluto dos líderes de tecnologia do setor quanto ao destino de seus investimentos. Um cuidado essencial para que as corporações atravessem um ano tão repleto de desafios sem grandes soluços.

*Marcio Martin é vice-presidente para Latam da green4T.

Related posts

Tecnologia na saúde coloca o paciente no centro do cuidado revolucionando a gestão

Monitorização contínua por eletroencefalograma em pacientes críticos na UTI é urgente na medicina moderna

Como as healthtechs estão usando a IA para fortalecer a relação médico-paciente