O suicídio de adolescentes se tornou um ponto de alerta global, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), correspondendo à quarta principal causa de morte de pessoas com idade entre 15 e 29 anos. No Brasil, de acordo com o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, já é a terceira causa de óbito nessa mesma faixa etária. Uma das preocupações é que os casos entre essa população estão em alta no país e os registros de ideação suicida apontam para vítimas cada vez jovens.
Considerada uma questão de saúde pública, a taxa de suicídio entre jovens brasileiros cresceu 6% por ano de 2011 a 2022. No mesmo período, as taxas de notificação por autolesões na faixa etária de 10 a 24 anos de idade evoluíram 29% ao ano. Esses números superam os registrados na população em geral, cujo índice de suicídio apresentou crescimento médio de 3,7% ao ano e de autolesão de 21% ao ano no intervalo analisado.
O Pequeno Príncipe, maior e mais completo hospital pediátrico do país e referência em atendimentos dessa natureza, registrou 38 casos de tentativa de suicídio e autolesão em 2023. Os pacientes mais jovens tinham apenas 11 anos de idade.
Com o tema “Se precisar, peça ajuda!”, a campanha de 2024 do Setembro Amarelo estimula uma postura ativa para buscar ajuda e também instiga quem está perto de alguém que precisa de apoio a escutar. Conforme a OMS, 90% dos casos poderiam ser prevenidos pelo simples fato de se ter alguém com quem conversar.
Por isso, na véspera do Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio (10/9), o Pequeno Príncipe reforça a importância de familiares, amigos e sociedade adotarem uma postura acolhedora em relação aos sinais de ideação suicida que possam surgir de uma criança ou um adolescente. Apesar de ainda ser considerado um tabu, é preciso falar sobre o assunto.
A tentativa de tirar a própria vida normalmente ocorre após a pessoa já ter manifestado sinais de depressão, ansiedade ou outra questão de saúde mental. Portanto, é importante manter um canal aberto de comunicação com as crianças e os adolescentes. “As dificuldades e os transtornos mentais existem e são genuínos. Conversar sobre o assunto é assumir que esse tipo de problema existe na sociedade, inclusive na infância e adolescência”, ressalta a coordenadora do Serviço de Psicologia do Hospital, Angelita Wisnieski da Silva.
Fatores de risco
De acordo com ela, algumas causas possíveis podem explicar o aumento das tentativas de suicídio e episódios de automutilação entre crianças e adolescentes. São questões como dificuldades em lidar com frustrações e conflitos inerentes à convivência social (diferenças, decepções e julgamentos) ou até o acesso indiscriminado a informações pela internet.
Diferentes situações devem ser consideradas como um fator de risco na infância e adolescência por pais e responsáveis. Entre elas, transtornos mentais não diagnosticados e/ou tratados, bullying na escola, traumas, abuso sexual, perda de um ente querido, uso de drogas e outras substâncias, e divórcio dos pais.
Assim, é fundamental que os sinais de alerta de uma pessoa sejam levados a sério e sem julgamentos por todos que convivem com ela. “Estar atento e demonstrar presença, com incentivo para que a criança ou o adolescente fale sobre como se sente, tende a ajudar. Ter pessoas que se importam e desejam a vida do outro é um fator de proteção contra o suicídio”, reforça a psicóloga.
A especialista destaca a importância de a criança ou adolescente estar em local seguro e saudável, com vigilância constante. Também é imprescindível buscar atendimento psicológico e psiquiátrico para um tratamento adequado. As doenças mentais, que geralmente levam ao suicídio, provocam a distorção da realidade. Dessa forma, a pessoa perde a capacidade de discernimento e de encontrar saída para os problemas e conflitos sozinha.
Sinais de alerta para o risco de suicídio
– Desinteresse, dificuldades ou prejuízos no desempenho e na aprendizagem escolar.
– Ansiedade, agitação, irritabilidade ou tristeza permanente.
– Isolamento persistente, com afastamento de grupos sociais.
– Alterações no sono e no apetite.
– Baixa autoestima, com desinteresse e descuido com a aparência.
– Comentários frequentes negativos em relação ao futuro e autodepreciativos.
– Desinteresse por atividades de que gostava e desapego de pertences que valorizava.
– Expressões e comentários que indiquem desejo de morrer.