Lideranças apontam dificuldades para a digitalização da saúde no Brasil

“A tecnologia e a comunicação como recursos fundamentais para a saúde do futuro” foi tema do Conahp 2022 — que teve três dias exclusivamente online e dois presenciais e se encerra nesta quinta-feira, 11, em São Paulo. Em discussão, a digitalização na saúde, suas dificuldades e a comparação com a Estônia, país que desponta como nação mais digital do planeta. Na ocasião, os debatedores abriram suas feridas sobre o assunto e discutiram possíveis soluções para os sistemas de saúde público e suplementar do Brasil. 

Rapahel Fassoni, CEO da Estônia Hub, diante de sua experiência com modelos de excelência, fez um alerta de que as lideranças públicas e privadas precisam se coordenar no Brasil. “Aqui [na Estônia], usamos pessoas, tecnologias e leis. A fórmula foi vontade política, estrutura jurídica [a relação governo/sociedade se dá por meio da lei] ambiente de negócios amigáveis e favoráveis, proteção de dados e educação.”

Ele reconheceu que os problemas financeiros no setor e a cultura sobre digitalização são gargalos. Mas defendeu que é preciso olhar para modelos como a Estônia para promover redução de custos e geração de receitas, fundamentais na saúde suplementar, aumentando produtividade, eficiência, digitalização e ininterruptibilidade.

Já Guilherme Hummel, diretor-executivo e mentor do eHealth Mentor Institute (EMI), vê com bons olhos as discussões cada vez mais reais nos sistemas de saúde brasileiros, mas criticou a falta de agilidade de se tirar do papel os planos para o futuro. “Todo mundo fala sobre o assunto, mas ninguém faz acontecer. As transformações digitais no Brasil são tímidas. E transformar um fluxo de trabalho em fluxo digital não é transformação.” 

Ele se referia a projetos públicos não executamos, citando como exemplo positivo o Projeto de Lei 10106/18, do Senado. A proposta determina a publicação na internet de informações aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), acessíveis aos profissionais de saúde assistentes e aos pacientes, mediante uso de senha pessoal. Hummel também chamou a atenção para o papel do Estado na transformação digital. “Para se fazer uma transformação, primeiro é necessário fazer o registro de pacientes compulsório”, ressaltou, mencionando o PL. 

Jacson Barros, strategic business development manager na Amazon Web Service (AWS), que integrou o time do Ministério da Saúde durante a pandemia, por sua vez, destacou que apenas investir financeiramente em planos de digitalização não resolve o problema no país.

Segundo o palestrante, existem 48 mil Unidades Básicas de Saúde (UBS) e 60% informatizadas. “Entenda informatizada como tendo computador, mas sem utilização como informatização detalhada.”  De acordo com Barros, é necessário pensar a saúde como uma só. “Hoje, trabalhamos em processos distintos. E quem perde com isso é o paciente.” Para finalizar, ele falou sobre ininterruptibilidade. “Se conseguirmos pelo menos compartilhar essa jornada do cliente, num primeiro momento, quando isso estiver alinhado, vamos para o próximo passo, como destacamos as comorbidades. A gente não percebe as doenças crônicas nos sistemas digitas.”

Giovanni Cerri, presidente do conselho no Instituto de Radiologia HCFMUSP e presidente do Icos, disse ser necessário que os gestores, sejam eles prefeitos ou governadores, mantenham a continuidade de projetos como política de Estado e com capilaridade para um país continental como o Brasil. Nesse sentido, ele alerta que ainda é preciso transpassar um obstáculo, a falta de conectividade em alguns locais, como a Amazônia, onde fez um projeto piloto e pode constatar que há aderência aos atendimentos digitais, mas, sem internet estável, os contatos são interrompidos.

“A saúde digital pode contribuir na inclusão, na melhoria do atendimento, levar especialistas onde não existem e capacitar os profissionais de forma mais democrática, além de reduzir a desigualdade.” Segundo ele, a digitalização vai muito além da telemedicina e de uma consulta bem-feita. “Deve haver monitoramento de dados para a redução das doenças crônicas e a promoção de vida e hábitos saudáveis”, finalizou.

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