Cuidados paliativos visam aliviar dores físicas e espirituais, dizem médicos

A notícia de que o rei Pelé, antes de falecer, estava sob cuidados paliativos no Hospital Albert Einstein, em razão de metástases no intestino, no pulmão e no fígado, gerou manifestações de torcedores porque se trata de conjunto de práticas assistenciais oferecidas aos pacientes terminais. Mas o coordenador médico do grupo que cuida do tema no Hospital Moinhos de Vento, Rodrigo Valle, ressalta que cuidado paliativo é o oposto de “não há mais nada a se fazer”.

Segundo ele, a medicina paliativa é exaltar a vida, enquanto ela exista, independente de previsões. “Lutamos, ao lado dos colegas que, simultaneamente, buscam o controle na progressão dessas doenças, de forma a abordarmos questões psíquicas, físicas, sociais e espirituais que surgem a partir do diagnóstico e que se estendem durante a evolução do quadro clínico,” explica Vale.

O médico ressalta a importância de um acompanhamento precoce, próximo ao momento no qual paciente e familiares enfrentam o impacto inicial do processo de adoecimento. “Dessa forma, podemos identificar e trabalhar melhor as demandas específicas, de cada pessoa envolvida, em todas as fases da doença”, completa.

Desde 2018, o Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, conta com equipe multiprofissional de cuidados paliativos à disposição do corpo clínico para auxiliar na tomada de decisões e assistência direta ao paciente e familiares com doenças graves.

“Acolhimento, respeito, empatia e doação são peças-chaves nos cuidados paliativos. Para isso, contamos com uma equipe ampla, de diversas áreas da saúde, para que a abordagem seja integralizada, individual e personalizada a cada indivíduo, sempre respeitando a biografia, crenças e, o mais importante, a autonomia”, explica Vale.

A psiquiatra Lorena Caleffi, que integra a Clínica de Dor e também trabalha com cuidados paliativos no Hospital Moinhos de Vento, observa que as complicações clínicas mais frequentes são os quadros depressivos, em diferentes gravidades. “Nunca é adequado dizer ‘o paciente está em estado terminal, claro que está deprimido’. Depressão não é um estado normal em nenhuma fase de vida e precisa ser diagnosticada e tratada. Ela traz piora do estado geral, da aderência aos demais tratamentos, alterações de sono e apetite, levando a uma piora da qualidade de vida e do prognóstico do caso,” explica.

A psiquiatra alerta que os cuidados paliativos se estendem ao paciente e também aos familiares. “A convivência com a perspectiva de uma perda e a perspectiva do luto futuro provocam uma mudança no funcionamento dos indivíduos e da família. A cada hora, existem milhares de oportunidades de concretizar uma atitude frente às condições dadas. O ser humano possui a liberdade de decidir se sujeitar ou não a condições adversas, mas quando não há alternativa, o risco é perder-se a dignidade e a liberdade de pensamento e sentimento. Nestes momentos, o cuidado paliativo precisa ser o mais individualizado possível, e a equipe precisa prestar atenção na manutenção da dignidade daquele indivíduo,” detalha Lorena.

Related posts

ABSeed Ventures investe R$ 2 milhões na Clinia

Abramge criar comitê para conhecer profundamente os problemas da judicialização da saúde

Hospital PUC-Campinas inicia serviço de Telemedicina