Polícia Militar do Estado de São Paulo inova nas perícias médicas com tecnologia de videoconferência e telemedicina

Aprimorar o atendimento médico-pericial e promover a interação entre os médicos do Departamento de Perícias Médicas (DPM) e os médicos das Unidades Integradas de Saúde (UIS) do Serviço de Saúde da Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP) foram os principais desafios da corporação nos últimos dois anos. O objetivo era o de otimizar as ações periciais para proporcionar, de um lado, um maior conforto ao policial, evitando longos períodos e complexa logística de deslocamentos e, de outro lado, possibilitando maior agilidade para retorno dos policiais às atividades na corporação.

Para isto, o DPM adotou a plataforma de videoconferência da Polycom com a qual pôde ampliar e difundir o atendimento médico-pericial do departamento. Anterior à adoção de videoconferência, havia a necessidade da presença do policial militar no DPM localizado na cidade de São Paulo. O efetivo da PMESP é de aproximadamente 89.000 policiais militares distribuídos em 645 municípios sendo que muitos desses estão distantes da capital a centenas de quilômetros.

A implementação do atendimento pericial por videoconferência proporcionou uma redução significativa de deslocamentos de milhares de policiais militares, em média 7 mil profissionais por ano, poupando recursos e tempo, oferecendo maior conforto aos policiais, reduzindo o impacto ambiental, viabilizando a agilidade administrativa e disponibilizando rapidamente um maior número de policiais militares para retomar a sua função.

A PMESP mantém em seu Centro de Operações a infraestrutura de videoconferência que atende toda a corporação e, sob a qual, expandiu-se o sistema para uma estrutura ao DPM, a fim de realizar as perícias médicas de maneira mais otimizada e colaborativa por videoconferências. Através desse sistema, o oficial médico da UIS estabelece conexão síncrona com o DPM para que o policial militar, ali presente, possa ser periciado.

Desafios e Resultados 

O DPM é uma área crítica dentro da PMESP no sentido de primar pelas condições de saúde de todo o seu efetivo. O primeiro sistema de videoconferência adotado no DPM, em 2009, contribui nos sete anos seguintes de sua operação para consolidar uma tecnologia de colaboração nas atividades médico-periciais. Contudo, a demanda por aumento de produtividade do efetivo, melhorias na colaboração e interação entre os médicos e por redução de custos levou o DPM a renovar o sistema adotando tecnologia da Polycom que permitiu ao departamento expandir o atendimento médico-pericial.

Em 2016, a partir da plataforma da Polycom, o aumento de produtividade e a economia com despesas cresceram consideravelmente ano após ano. A organização do DPM reúne quatro tipos de Juntas de Saúde — a JS1 e a JS4, cujas atividades são, respectivamente, de avaliação de candidatos para ingresso na PMESP ou efetivo em curso ou em estágio probatório e de pedidos de recursos sobre discordâncias dos pareceres médicos-periciais, requerem um atendimento presencial e não utilizam a videoconferência.

Enquanto a JS2, que decide sobre condição de incapacidade temporária ou definitiva do policial militar e condições de saúde dos aposentados para fins de direito, é aquela que mais faz uso (95%) da videoconferência. A JS3, por sua vez, atua em inspeção para promoções de oficiais policiais militares verificando por videoconferência as condições de saúde deles, utilizando assim 5% da plataforma.

“A Junta de Saúde 2 possui a maior demanda por videoconferência uma vez que avalia o estado de incapacidade temporária por doenças do policial militar ou a incapacidade definitiva ou de doenças que sejam incompatíveis com o exercício da função, bem como avaliações das condições de saúde de policiais militares aposentados para fins de direito”, explica o Major Luiz Fernando Adde, médico e chefe do Departamento de Perícias Médicas da PMESP.

De acordo com o Major Adde, na JS2 são atendidas em média 140 pessoas por dia presencialmente ou por meio da videoconferência, uma estimativa de 2.280 por mês, dados relativos ao período de 2016 a 2017. Esses atendimentos sempre aumentaram ano a ano mantendo um índice médio de 20% no uso do sistema videoconferência.

Desde a adoção da tecnologia da Polycom em 2016, a cada ano o atendimento girou em torno de 7 mil a 7,2 mil policiais pela JS2. Em 2016, o registro de crescimento foi de 19,8%, representando 7.196 pessoas atendidas por videoconferência. No ano seguinte, 2017, o índice foi de 20% (7.104 pessoas) e até julho de 2018 o percentual já estava em 22% (4.595 pessoas).

Vale ressaltar que ainda há um universo a ser explorado para que um maior número de policiais militares seja beneficiado pelo atendimento por videoconferência. O número total de pessoas atendidas pelo DPM anualmente registra baixa variação entre os períodos, mas, mesmo assim é um universo considerável: total de 36.320 pessoas em 2016, 34.386 em 2017 e, até julho deste ano, já foram atendidos 20.351 policiais militares.

Os atendimentos do DPM se dão a policiais portadores de diversas patologias que, em sua maioria, se referem aos casos de doenças ortopédicas (por trauma ou por acidente). O médico que está na Unidade Integrada de Saúde faz a solicitação no sistema de videoconferência, permitindo homologar e dar parecer favorável ou não da perícia médica da Junta de Saúde.

Os resultados alcançados com o atendimento de perícias médicas por videoconferência vão da economia de custos com deslocamentos até a agilidade na tomada de decisão dos médicos.

A começar pelo custo médio com deslocamento, quando um policial vem até a capital para ser periciado, o deslocamento se dá por viatura que é conduzida por um motorista o qual é um outro policial em serviço (o policial periciado está licenciado). Também às horas de trabalho são considerados outros parâmetros como consumo de combustível, o período do policial em serviço que recebe duas diárias (alimentação e diária diligência/ajuda de custo) e a quilometragem das unidades integradas de saúde que utilizam a videoconferência.

“Então, o cálculo sob esses parâmetros nos leva a uma estimativa de custo de uma perícia presencial de R$ 290,00 por deslocamento. Assim, de outubro de 2016 a julho de 2018, haveria um custo de deslocamento de R$ 3.677.568,11, ou melhor dizendo, nesse período obtivemos uma economia de mais de R$ 3 milhões. Só em 2017 foram economizados R$ 2.053.920,32; e R$ 1.328.506,40 de economia até julho deste ano”, relata o Major Adde, médico e chefe do DPM.

Benefícios e economia

O sistema de videoconferência abrange as unidades integradas de saúde distribuídas na capital, na região metropolitana de São Paulo e no interior, porém não são as 60 unidades integradas de saúde que utilizam tal sistema. Isto porque o policial só será periciado a partir da solicitação de um outro oficial médico que fará o atendimento dele na região onde atua esse policial. Além disto, as unidades integradas de saúde na capital e algumas na região metropolitana não utilizam videoconferência ainda devido aos custos não serem tão onerosos com o deslocamento.

A PMESP possui quatro unidades integradas de saúde na região metropolitana de São Paulo, uma em Guarulhos e região, outra em Mogi das Cruzes, uma em Santo André e a da região de Osasco. Dessas quatro, apenas Mogi das Cruzes e Santo André fazem uso de videoconferência.  No interior, a PMESP está dividida em dez Comandos de Policiamento do Interior, nos quais existe uma unidade integrada de saúde; há 16 batalhões que também têm unidades integradas de saúde com a solução Polycom; e em dois Comandos de Policiamento de Área (CPA) na grande São Paulo, a corporação mantém um total de 28 localidades em que o DPM faz as perícias médicas via videoconferência, abrangendo a totalidade dos (645) municípios do interior. Os deslocamentos inter-regionais são de curta distância e viáveis para serem feitos atendimentos presenciais.

“Nos últimos anos, alcançamos uma redução em torno de 20% de deslocamentos de policiais militares, refletindo em uma economia em torno de 21.140 litros de combustível por mês, bem como na otimização do tempo. Se tomarmos o município mais distante da capital, que é Presidente Prudente (a 556 quilômetros da capital), perdemos no mínimo 24 horas com deslocamento, envolvendo o tempo do periciado e do motorista policial que o está conduzindo”, contabiliza o Major Adde. No âmbito ambiental, ele complementa informando que se estima uma redução de quase 360 toneladas por mês de redução de emissão de CO² com o uso de videoconferência. 

Ele também destaca os ganhos intangíveis alcançados com a tecnologia Polycom, como a produtividade e a agilidade nas tomadas de decisões dos pareceres e ações para tratamentos. “Estamos avaliando a ampliação da videoconferência para todas as 60 unidades integradas de saúde porque, mesmo o deslocamento na capital não gerando elevados custos, há emissão de carbono, perda de tempo no deslocamento com alto índice de tráfego nas vias. Em 2012 eram 15 unidades integradas de saúde que faziam videoconferência e hoje são cerca de 40 unidades”, destaca o Major Adde.

Ainda no campo dos ganhos intangíveis, o fato de evitar o deslocamento em longas distâncias proporciona uma condição de conforto ao paciente e um melhor controle da condição da perícia, pois por meio da videoconferência os médicos estão imediatamente discutindo entre si sobre o caso clínico do policial para decisão de afastamento ou não das atividades. A maior integração e colaboração entre os oficiais médicos agiliza a tomada de decisão sem prejuízo ao policial periciado e à corporação. Os médicos conseguem reduzir a carga de trabalho da junta de saúde porque se fosse um atendimento presencial, o mesmo demandaria uma outra logística mais complexa e onerosa.

Metas e consolidação da telemedicina

Com a experiência positiva de videoconferência na área pericial, o DPM tem a intenção de estender tal recurso para a área assistencial, proporcionando que oficiais médicos das unidades integradas de saúde entrem em contato com oficiais médicos especialistas do Centro Médico, localizado na capital, a fim de discutirem sobre algum tipo de patologia especificamente. O projeto está respaldado pela resolução do Conselho Federal de Medicina Nº 1.643, de 7 de agosto de 2002 que regulamenta a telemedicina para discussões de casos e até de intercorrências.

“A ideia inicial do sistema de videoconferência era evitar grandes deslocamentos, dar maior conforto ao policial e agilidade administrativa para o retorno do mesmo à atividade ao receber o parecer de apto. Contudo, identificamos uma oportunidade de expansão no Centro Médico e se vislumbrou o uso do recurso de videoconferência para atendimento assistencial”, ressalta a Tenente Coronel Maria Cecília Araújo, chefe do Centro Médico da PMESP.

“Nós temos os especialistas no Centro Médico da PMESP na capital. Os oficiais médicos das UIS poderiam, por meio dessa ferramenta, esclarecer dúvidas sobre conduta para uma determinada doença”, complementa a Tenente Coronel Cecília.

A Tenente Coronel Cecilia informa que deverão iniciar um projeto para discussão de casos clínicos utilizando a infraestrutura já existente, começando com um piloto na área de Psiquiatria. O oficial médico, por meio dessa interação, poderá apoiar o paciente localmente. Além da discussão de casos há a possibilidade de treinamentos a distância.

No decorrer de 2019, o atendimento assistencial por videoconferência poderá abranger as 30 especialidades do Centro Médico, além da Psiquiatria, e mais, como a possibilidade de treinamentos a distância dos médicos, além da discussão de casos.

O uso da videoconferência não para por aí. Futuramente, segundo a Tenente Coronel Cecília, pode-se pensar em estender a videoconferência para resoluções de situações emergenciais médicas, em situações de desastres com vítimas, por exemplo. Mas isto ainda está no campo das ideias, sem previsão de implementação.

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