Um medicamento que utiliza os linfócitos T, que compõem o sistema imunológico e que, ao serem geneticamente modificados, se tornam mais ativos contra as neoplasias do sangue foi utilizado pela primeira vez no país. Trata-se do medicamento de células CAR-T — sigla em inglês para Chimeric Antigen Receptor T-Cell Therapy —, que foi usado num paciente de 74 anos, portador de linfoma difuso de grandes células B, no Complexo Hospitalar de Niterói (CHN), localizado em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro, pertencente à Dasa, a maior rede de saúde integrada do Brasil.
“É um medicamento totalmente individualizado e personalizado. No Brasil, o tratamento já foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para patologias como leucemia linfoblástica aguda em pacientes de até 25 anos e linfomas difusos de grandes células B em pacientes adultos. O medicamento é oferecido pela farmacêutica Novartis”, destaca Jacques Kaufman (de jaleco branco na foto), médico coordenador de hematologia do CHN.
Luciana Conti (de camisa bege na foto), médica hematologista, e a médica Jordana Ramires, responsáveis pelo primeiro paciente no Brasil, explica que depois de passar por três diferentes tipos de tratamento sem sucesso, o paciente ganha mais uma chance, com possibilidade de cura com a chegada do CAR-T ao Brasil.
Tecnologia genética no combate ao câncer
A terapia com células CAR-T consiste em um medicamento preparado com as células de defesa (linfócitos T) extraídas do paciente e modificadas em laboratório para que, ao serem devolvidas para o paciente, possam combater o câncer.
“Em 11 de novembro de 2022, o paciente fez a coleta das próprias células T no CHN, por meio de uma máquina — semelhante ao equipamento de hemodiálise — capaz de separar, em uma bolsa, os linfócitos, que são congelados e enviados para o laboratório da Novartis, nos Estados Unidos, onde passam a fabricar receptores de antígenos quiméricos específicos que vão reagir contra as células do tumor”, explica Luciana.
“As células foram modificadas geneticamente e tiveram sua função potencializada, de modo que passaram a ter um alvo (o antígeno CD19) para atacar nas células malignas no organismo, fazendo com que elas voltem a ser capazes de ‘enxergar’ e destruir o câncer. Isso representa o maior desafio na luta contra a doença, que consegue driblar os mecanismos de resistência do sistema de defesa humano”, detalha Kaufman.
Após a manufatura (modificação genética do linfócito T), o material retornou para o CHN em formato de medicamento injetável que foi infundido — processo semelhante a uma transfusão de sangue — no paciente no último dia 9 deste mês. Luciana explica que esse é um marco muito importante em todo o processo que envolve o tratamento CAR-T: “Com a infusão, seguem-se os cuidados com equipe especializada, coordenada por mim, em conjunto com a equipe do CHN, para monitorar a toxicidade ao tratamento e posterior resposta, que será documentada em três meses.”
“Seguramente, a terapia CAR-T é uma abordagem revolucionária que tem se mostrado muito eficiente contra diversos tipos de câncer do sangue e do sistema linfático, e a tendência é que seja ampliada, em breve, para outras unidades da Dasa. É um orgulho realizar, pela primeira vez no Brasil, após a aprovação dos órgãos regulatórios, uma técnica desse porte tecnológico e de inovação que inicia uma nova era no tratamento oncológico no país”, comenta Celso Arrais, head de hematologia da Dasa Oncologia.
“A terapia com células CAR-T representa uma nova era na medicina, dando esperança para pacientes que até então tinham opções limitadas de tratamento, buscando mais qualidade e tempo de vida. Termos o primeiro medicamento desta classe aprovado no Brasil chegando aos pacientes é motivo de orgulho e reforça o nosso pioneirismo no desenvolvimento de terapias avançadas”, ressalta Lenio Alvarenga, diretor médico de Innovative Medicines da Novartis Brasil.
Especialização é necessária para realizar a terapia CAR-T
No Brasil, poucos centros de saúde estão habilitados para oferecer a terapia com célula CAR-T, que requer uma qualificação específica, de acordo com as resoluções da Anvisa e da Novartis, que confere as características necessárias para a aplicação desse tipo de tratamento, como experiência, protocolos internos alinhados, excelência do corpo clínico, infraestrutura e modernidade.
“A reação imunológica desencadeada com a infusão das células exige uma monitorização rigorosa. Uma equipe multidisciplinar precisa ser treinada especificamente para o cuidado desses pacientes em uma área dedicada, com infraestrutura completa. Poucos centros no Brasil foram qualificados para o acompanhamento desses indivíduos”, conta Rogério Reis, diretor-geral do Complexo Hospitalar de Niterói.
Ele afirma ainda que o CHN é referência em transplantes. “Nosso hospital está entre os centros altamente especializados que lideram os transplantes de medula óssea no Rio de Janeiro. Temos mais de 50 médicos hematologistas e profissionais da saúde treinados para garantir o melhor desfecho clínico ao paciente e oferecer o que há de mais moderno em terapia onco-hematológica no Centro de Excelência em Hematologia”, finaliza do diretor-geral da instituição.
Acessibilidade à terapia com células CAR-T
Segundo a Novartis, laboratório responsável pela fabricação e comercialização do medicamento com as células CAR-T, a empresa está em constante diálogo com a comunidade de pacientes e os demais atores do sistema de saúde, com o compromisso de avançar e apoiar o acesso a esse tipo de terapia, juntamente com os órgãos competentes da saúde pública e suplementar, a sociedade médica, os centros de excelência e as associações de pacientes, contribuindo para a sustentabilidade do sistema de saúde e a acessibilidade a inovações.
O medicamento de células CAR-T da Novartis, aprovado pela Anvisa e que agora chega ao mercado, é um infusional oncológico e, por isso, possui cobertura obrigatória pelas operadoras de saúde que são regulamentadas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
“Mais do que acreditar, a Novartis prioriza e investe no mercado Brasileiro. Além de um grande investimento em pesquisa, temos realizado um esforço significativo e contínuo para trazermos novos tratamentos que possam transformar o curso das doenças bem como o do sistema de saúde em nosso país”, completa Renato Carvalho, presidente da Novartis Brasil.