Em 1927 o cineasta alemão Frizt Lang estreou seu filme Metrópolis, que na época causou uma verdadeira revolução cultural ao introduzir o primeiro robô visto no cinema, o Maschinenmensch (algo semelhante a “máquina humana”, em alemão). Na história, a grande vilã é uma robô, Maria, criada para ser uma cópia da mocinha da trama. A androide causa o caos em Metrópolis, hipnotizando homens e causando a destruição de todas as máquinas da cidade, além de quase matar todas as crianças.
Os robôs desde então passaram a ter um ar ameaçador, quase apocalíptico em diversos cenários futuristas, competindo com os humanos na sua busca de se tornarem parecidos com seus criadores. Uma síndrome de Frankenstein (famosa criatura da história criada pela escritora inglesa Mary Shelley em 1818) quase que paira sobre estas criaturas, gerando profundos conflitos existenciais nos robôs.
Muitos filmes, livros e artigos tem apresentado desde então os robôs como parte da vida humana num futuro cada vez menos distante. Quem não se lembra do desenho animado dos Jetsons, aonde a empregada doméstica Rosie é uma robô que fazia tudo na casa e era considerada da família?
Sim, robôs serão parte da sociedade moderna no futuro muito próximo, mas grande questões comportamentais e existências tem sido levantadas sobre como eles serão utilizados na prática e que papel deve-se dar a eles diante de uma força de trabalho crescente que está sendo substituída pela robotização industrial. Também, se forem dotados de capacidade de Inteligência Artificial, como ela estará programada para garantir a segurança das pessoas, principalmente dos pacientes no campo da Saúde Digital?
Há espaço para o uso de robôs humanoides e assistentes mecânicos robotizados dentro do mercado da Saúde Digital? A resposta objetiva é SIM!
Sem entrar no lado fantasioso ou romântico dos robôs apresentados em filmes e na literatura, as novas gerações de robôs tem mostrado grande potencial de auxiliar os profissionais da saúde e também aprimorar processos rotineiros dentro dos hospitais ou mesmo no atendimento domiciliar (Homecare). A visão equilibrada neste campo é buscar associar os recursos da automação programada inteligente, que tais máquinas podem realizar, com o ganho operacional e de interface com pacientes e profissionais hoje sobrecarregados em processos e rotinas repetitivas.
Vejam algumas aplicações práticas dos robôs no campo da Saúde Digital:
1) Auxílio a pacientes domiciliares e idosos – Há uma crescente conscientização da necessidade de se prover melhores cuidados aos pacientes crônicos e idosos nos seus lares, ao invés de nos hospitais. A desospitalização transforma a vida do paciente e do idoso em algo bem mais humanizado, socialmente inclusivo e reduz o custo da Saúde como um todo. Mas não há mão-de-obra suficiente para atender a todos estes pacientes.
Neste cenário, os robôs assistentes são uma excelente aplicação, trazendo autonomia ao paciente ao mesmo tempo que podem ajudar nas tarefas regulares como lembrete de medicação, exames de controle diários (como pressão, glicemia, etc), apoio no deslocamento dos idosos ou aqueles que se recuperam de tratamentos médicos (evitando quedas que poderiam demandar nova internação), apenas para citarmos alguns exemplos.
2) Cirurgia robótica – Já temos hoje vários procedimentos que utilizam robôs como auxiliares cirúrgicos, como o sistema daVinci. Mas o campo da cirurgia robótica ainda está praticamente inexplorado, se considerarmos o tamanho potencial que ele apresenta ao se conjugar com a Telemedicina.
Cidades menores ou remotas, desprovidas de cirurgiões experientes, poderão futuramente ter sistemas robotizados de cirurgia semelhantes ao que vemos em filmes, e que podem realizar procedimentos simples e de média complexidade, quer controlados por médicos a distância (via Telemedicina) ou mesmo por meio de Inteligência Artificial, caso se tenham procedimentos padronizados. Parece hoje ainda uma fantasia, mas quantas coisas que pensávamos a décadas atrás também serem impossíveis não são hoje parte de nossas vidas, como Internet e os celulares?
3) Exoesqueletos robotizados – Uma outra área aonde a robotização pode ajudar muito é no desenvolvimento de mecanismos de auxílio aos pacientes com deficiências motoras. Os exoesqueletos podem agregar mobilidade e força aos pacientes e pessoas que sofrem limitações físicas por doenças ou em recuperação de tratamentos (como cirurgias ortopédicas).
4) Processos operacionais rotineiros em hospitais – Muito do trabalho realizado em centros hospitalares estão relacionados a tarefas não médicas, mas de apoio ou logística. Hoje se demanda uma força de trabalho enorme para realizar tais atividades repetitivas, considerando ainda os erros que humanos comentem quando submetidos a processos repetitivos. Tais atividades podem ser aprimoradas e em algum grau substituídas por robôs com maior eficiência e segurança.
Em alguns hospitais já existem experiências sendo realizadas com sucesso, que mostram o quanto ainda iremos avançar neste campo da robótica no mercado hospitalar. Veja um exemplo muito interessante do TUG, o robô móvel autônomo da empresa Aethon.
Como deu para perceber, o tema é muito interessante e o assunto extenso, por isso pretendo voltar a ele em um artigo futuro para abordar outras facetas do papel dos robôs no mercado da Saúde Digital.
“No fundo, a robótica é sobre nós. É a disciplina de emular nossas vidas, de saber como trabalhamos.” – ROD GRUPEN, Discover Magazine, junho de 2008
Abraço a todos!
Guilherme Rabello, responde pela Gerencia Comercial e Inteligência de Mercado do InovaInCor – InCor / Fundação Zerbini (grabello.inovaincor@zerbini.org.br). Atua como consultor, palestrante e escreve artigos sobre inovação, tecnologia e negócios.