Como a transformação digital na saúde pode ajudar no desenvolvimento do setor

A transformação digital se tornou uma força impulsionadora fundamental no mundo dos negócios, especialmente na indústria farmacêutica. Este movimento não apenas altera a maneira como as empresas operam, mas também redefine as interações com consumidores e mesmo entre as próprias equipes internas. A digitalização fortalece a coleta, a análise e a utilização de dados, que se tornam ativos valiosos para explorar oportunidades, otimizar processos e facilitar a chegada de medicamentos aos pacientes.

A indústria farmacêutica, tradicionalmente conhecida por seus longos ciclos de desenvolvimento de produtos e rigorosos processos regulatórios, enfrenta desafios significativos, como a necessidade de reduzir custos e acelerar o time-to-market para novos medicamentos. A transformação digital, por meio da utilização de big data e machine learning, tem ajudado o setor na descoberta de novas moléculas, melhora de esquema logístico de toda a cadeia, na educação médica continuada, entre outros.

Normalmente, o processo de descoberta de novas moléculas exige anos de pesquisa laboratorial e testes. Hoje, ele pode ser consideravelmente acelerado com o uso da bioinformática, de técnicas de modelagem de dados e de inteligência artificial, com as quais pesquisadores conseguem realizar simulações virtualmente, avaliando como diferentes moléculas podem interagir com alvos biológicos. Essa abordagem não apenas acelera a identificação de novas opções de tratamentos, como também permite uma alocação mais eficiente de recursos financeiros e humanos, otimizando todo o processo.

Com o medicamento à disposição dos pacientes e médicos, podemos, por meio dos dados, analisar, por exemplo, se as campanhas de conscientização e prevenção estão obtendo sucesso ou não. A transformação digital também proporciona uma interface mais ágil e eficiente entre a empresa e os profissionais de saúde, bem como com os pacientes. Plataformas digitais e aplicativos permitem o monitoramento em tempo real da adesão ao tratamento, facilitando intervenções rápidas caso haja necessidade. Essa atuação proativa pode melhorar os resultados para os pacientes e aumentar a taxa de sucesso dos medicamentos.

Muitas vezes, um assunto “vira moda” no mundo dos negócios, e isso faz com que alguns líderes implementem algo apenas porque o tema está em alta. Contudo, antes de iniciar numa jornada de transformação, é preciso perguntar-se o porquê dessa mudança. Por que queremos trabalhar de um novo jeito e digitalizar os processos e a análise de dados? Por que buscar metodologias ágeis? Isso precisa estar muito claro, para evitar erros e desperdícios de tempo e de recursos.

Quando a MSD começou essa jornada, há 5 anos, olhamos como as empresas digitais, startups e incubadoras trabalham, e vimos que precisávamos estudar empresas tradicionais para entender como elas passaram a implementar projetos de transformação digital em seus processos. Entendemos que nós não somos uma startup: o ritmo e os processos internos de uma empresa já bem estabelecida podem ser bem diferentes de uma empresa que está em fase de crescimento, nascida em um ambiente digital. 

Um dos temas que está claro para nós é a personalização dos tratamentos. Com a análise de dados, é possível não só desenvolver, como designar tratamentos individualizados. Por exemplo, 80% dos oncologistas no Brasil são generalistas, e não especialistas. Como podemos fazer com que o médico tenha o conhecimento especializado que ele precisa, para tratar melhor o paciente de forma mais individualizada? 

A inteligência artificial é uma peça central no processo de transformação digital da MSD. Durante aproximadamente dois anos, realizamos uma coleta minuciosa de dados sobre as interações que mantivemos com os médicos, buscando aprimorar a qualidade da nossa comunicação e torná-la cada vez mais significativa e relevante. É importante ressaltar que a eficácia da IA está ligada à qualidade dos dados que a alimentam. Qualquer modelo de inteligência artificial só será tão eficaz quanto os dados que recebe; assim, dados escassos, imprecisos ou enviesados comprometem seriamente seu desempenho, resultando em ferramentas que são igualmente limitadas em sua capacidade de gerar insights e valor.

Além disso, existe um equívoco comum: a percepção de que a IA é uma tecnologia do futuro. Na realidade, a inteligência artificial já está sendo utilizada atualmente no desenvolvimento de vacinas. Bases de dados open source contendo centenas de milhares de estruturas proteicas, por exemplo, permitem um acesso mais amplo e colaborativo na inovação científica, e foram um fator determinante no desenvolvimento das vacinas contra COVID-19 que nos auxiliaram no combate a uma pandemia global. Essa abordagem não apenas aprimora a eficácia das vacinas, mas também demonstra como a transformação digital já está impactando positivamente a área da saúde.

Inovar exige um profundo conhecimento, que se adquire por meio do aprendizado e da experiência acumulada. Embora a transformação digital não seja um conceito novo, o verdadeiro desafio reside na disposição de aprender e na capacidade de refletir sobre a melhor maneira de implementá-las em nossa realidade. Para prosperar em um ambiente em constante mudança, é fundamental que nos tornemos uma organização que valoriza a aprendizagem contínua, cultivando uma cultura que incentive a adaptação e a evolução. Somente dessa maneira poderemos nos manter relevantes e competitivos, capazes de responder eficazmente às demandas do mercado e às expectativas de nossos clientes, colaboradores e parceiros.

Por fim, inovar exige diversidade. A variedade de perspectivas, experiências e formações enriquece o processo criativo, resultando em soluções nunca pensadas. Grupos diversos melhoram a tomada de decisão, pois as diferentes visões permitem uma análise mais abrangente das opções disponíveis. Além disso, essa diversidade promove resiliência e adaptabilidade em ambientes de negócios em constante mudança, ajudando organizações a atender melhor às necessidades de uma base de clientes diversificada. Um ambiente de trabalho inclusivo também aumenta a satisfação e a retenção de talentos, gerando um ciclo positivo de colaboração e inovação. Assim, a diversidade se torna um ativo estratégico fundamental também na transformação digital.

Francisco Gaia, diretor de Estratégia & Inovação da MSD Brasil.

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