O tempo é o principal ativo quando o assunto é a vida de um paciente. Usá-lo para priorizar o atendimento em casos de emergência é o objetivo da ferramenta que a Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem (FIDI), gestora de serviços de diagnóstico por imagem da rede pública, incorporou nos exames de tomografia de crânio realizados no Hospital do Mandaqui. A unidade é a primeira a ter em funcionamento a tecnologia, criada pela empresa israelense AIDOC, que identifica lesões em tomografias de crânio por meio de inteligência artificial, auxiliando e sinalizando via sistema que o paciente deve ter o atendimento e o laudo priorizados.
A parceria entre a FIDI e a AIDOC, startup focada em aplicar inteligência artificial à radiologia, com o apoio da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo, concretiza no Brasil o primeiro projeto de pesquisa de inteligência artificial no diagnóstico por imagem para a rede pública. A expectativa é oferecer atendimento qualificado no menor tempo possível em casos de traumatismos, acidente vascular cerebral e outras situações que determinem dano cerebral, a fim de reduzir sequelas e até mesmo salvar vidas. Desde a implantação do projeto, no início deste ano, 92% dos casos em que havia sangramentos foram devidamente detectados e priorizados pelo algoritmo, reduzindo em 36 minutos o tempo de laudo.
O software foi desenvolvido pela AIDOC há dois anos e utiliza algoritmos específicos para identificar as lesões antes mesmo de o radiologista ter acesso às imagens.
Em novembro de 2017, a ferramenta recebeu o CE Mark, certificação da União Europeia que atesta a aplicabilidade e segurança de dispositivos médicos. Nesta semana, o software recebeu autorização da Food and Drug Administration (FDA) órgão governamental dos EUA que faz a regulação dos alimentos (tanto humano como animal), suplementos alimentares, medicamentos (humano e animal), cosméticos, equipamentos médicos, materiais biológicos e produtos derivados do sangue humano, tornando-se a primeira empresa a ser aprovada pelo governo americano para fazer a triagem de pacientes com IA.
O objetivo não é substituir o capital humano no processo de análise e elaboração de laudos, já que todos os exames são analisados e laudados pelo médico radiologista, e sim dar ainda mais precisão e agilidade ao profissional. “Todo desenvolvimento tecnológico é usado em benefício do paciente. Com a ferramenta, nós agilizamos o atendimento de pessoas com quadro mais grave e que nem sempre é visível antes da análise do exame”, afirma Igor dos Santos, médico radiologista e Chefe de Inovação da FIDI.
Ferramenta em ação
O processo segue o seguinte fluxo: ao realizar um exame, as imagens seguem para o servidor da FIDI, que identifica se é uma tomografia de crânio, oculta os dados do paciente e envia para o servidor da AIDOC na nuvem. As imagens são devolvidas para o servidor da FIDI com as marcações das lesões, se houver. O exame é reidentificado com os dados do paciente e segue para a central de laudos da FIDI.
Na central de laudos, o sistema prioriza automaticamente o exame que apresenta quadro grave, permitindo ao médico radiologista analisar e laudar mais rapidamente para acelerar o atendimento ao paciente. “É importante salientar que as imagens que seguem para o servidor da AIDOC continuam simultaneamente disponíveis na central de laudos da FIDI, ou seja, o uso da ferramenta não inviabiliza o trabalho já realizado normalmente”, explica dos Santos.
Para incorporar a tecnologia, a FIDI e a AIDOC validaram o uso da ferramenta reanalisando mais de 3 mil imagens para confirmar se as marcações apresentadas pelo software correspondiam aos laudos elaborados pela FIDI sem o uso da ferramenta. Os resultados foram condizentes, dando segurança para o início do projeto, que está rodando no Hospital do Mandaqui, com previsão de expansão para outras unidades. O hospital foi selecionado devido à alta incidência de traumas encefálicos e por disponibilizar tomógrafos mais modernos – a partir de 64 canais – para receber a tecnologia. “Estamos otimistas com esta inovação e a possibilidade de liderarmos o primeiro projeto de pesquisa em inteligência artificial aplicada ao diagnóstico por imagem no serviço público no Brasil”, complementa Igor.
Reconhecimento internacional
Em novembro de 2017, uma equipe de médicos brasileiros composta por três radiologistas da FIDI, conquistou a terceira colocação em concurso da Sociedade Norte Americana de Radiologia (RSNA, em inglês) na primeira edição do Pediatric Bone Age Challenge 2017. Com mais de 300 participantes em todo o mundo, Nitamar Abdala, Conselheiro da Fundação, e os radiologistas Felipe Kitamura e Igor Santos, responsáveis pelo Núcleo de Inovação da FIDI, desenvolveram em parceria com especialistas da Universidade Federal de Goiás (UFG), algoritmo que identifica em milissegundos a idade óssea em exames de radiografia da mão. O reconhecimento foi realizado durante a Anual Meeting da RSNA, em Chicago (EUA).