O início do ano é marcado pelo movimento Janeiro Branco, uma campanha que visa discutir a importância dos cuidados da saúde mental e a conscientização da população sobre a promoção do bem-estar psicológico. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 10% da população mundial sofre com transtornos mentais. Com quase 19 milhões de pessoas atingidas por esses transtornos, o Brasil é o país que lidera o ranking de ansiedade e depressão na América Latina.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Doctoralia, maior plataforma de agendamento de consultas do mundo, houve um aumento significativo na procura de profissionais especializados no tratamento da saúde mental nos últimos anos. Em comparação com 2022, o número de agendamentos com psicólogos e psiquiatras cresceu 89% e 41%, respectivamente, em 2023. A procura por psicólogos saltou de aproximadamente 710 mil para mais de um milhão de agendamentos no período. Já a procura por psiquiatras registrou uma alta de mais de 900 mil novos acionamentos, totalizando 1.906.155.
Diversos fatores têm contribuído para esse aumento na procura de profissionais especializados. O estresse cotidiano, a pressão dentro do ambiente de trabalho e os fatores sociais são alguns dos elementos que têm impactado negativamente a saúde mental de diversas pessoas. Além disso, a pandemia de COVID-19 desencadeou um aumento significativo nos casos de ansiedade e depressão. Segundo dados da plataforma Doctoralia, o número de agendamentos com psicólogos e psiquiatras aumentou cerca de 155% entre 2020 e 2021.
Uso excessivo das redes sociais
Um fator que impacta negativamente a saúde mental é o uso excessivo das redes sociais. Embora ofereça uma conexão instantânea com o mundo, o universo digital tem sido associado a diversos malefícios para o bem-estar psicológico da sociedade. Em levantamento feito em 2022, a OMS registrou um aumento de 25% em casos de ansiedade e depressão no mundo. Diante de uma geração digitalmente experiente e que vive cronicamente online, a dependência digital tem sido um dos principais fatores responsáveis pelo aumento de transtornos mentais.
Para Enrique José Ortellado Rosty, médico psiquiatra e membro da Doctoralia, o conteúdo vendido na internet pode fazer com que as pessoas criem o desejo por uma realidade inalcançável além de uma constante comparação. “As redes sociais oferecem um território em que as pessoas se expõem a riscos, tentam fugir da realidade da vida pessoal (realidade que por vezes pode ser muito difícil), e acabam se desconectando do contato mais íntimo e verdadeiro com seu interior. Esta combinação de fatores pode favorecer o desencadeamento de quadros de ansiedade e depressão. É importante também entender que muito do que é exposto nas redes é ilusão”, analisa o médico.
Além disso, as redes sociais podem ser responsáveis por gerar esgotamento mental, pressão por perfeição e comparação constantes, causando insatisfação e baixa autoestima nas pessoas. A dependência digital também está associada a distúrbios do sono e diminuição da qualidade de vida, causando adoecimento físico e mental.
De acordo com o médico especialista, não há como padronizar uma quantidade de tempo ou o número de interações ideais nas plataformas para cada indivíduo, mas é necessária uma autoavaliação buscando equilíbrio. “Eu não sou contra o uso de redes sociais, o problema é o excesso, como tudo na vida. Quando você se expõe a riscos ou prejuízos, deixando de aproveitar as coisas boas da vida ‘real’, isso se torna um problema.
Caso você precise veementemente acessar ou publicar nas redes sociais para conseguir se sentir bem, significa que os outros fatores da vida real estão falhando ou perdendo a relevância, e em prol de uma boa saúde mental, seria necessário redirecionar a sua atenção para outros propulsores de uma vida mais satisfatória e prazerosa”, conclui.
Por isso, diante desses indícios, é muito importante que as pessoas se atentem a esses sintomas e procurem a ajuda de especialistas, para que isso não ocasione algum problema mais grave.