Ação do HU-UFMA e UFMA em comunidade remanescente de quilombo em Alcântara/MA realiza mais de 300 atendimentos

A professora, Alessiane de Jesus, 34 anos, é moradora da comunidade Itamatatiua, remanescente de quilombo, no município maranhense de Alcântara, que fica distante 90 km da capital de São Luís. No local, vivem mais de 200 famílias e uma delas é a de Alessiane, que juntamente com o seu filho, Carlos Emanuel, 5 anos, foram atendidos na ação desenvolvida pelo Hospital Universitário da UFMA (HU-UFMA/Ebserh) e pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). A iniciativa foi em comemoração ao Dia Mundial do Rim, nesta quinta-feira (14). Foram mais de 300 atendimentos realizados só pela equipe do HU-UFMA, nas especialidades de pediatria, nefrologia, oftalmologia, clínica geral e nutrição.

“Essa ação foi muito importante para o quilombo, pois muitos de nós queremos consultar, mas nem sempre conseguimos. Então, os profissionais virem até a comunidade fez a diferença”, afirmou a professora. E quem concorda com a Alessiane é a própria superintendente do Hospital Universitário da UFMA, Joyce Santos Lages, que fez questão de frisar que “o diferencial da ação é estar onde precisamos estar, junto da comunidade”, afirmou.

A ação só foi possível graças ao empenho de muitas instituições envolvidas, entre elas, o Serviço Social da Indústria (SESI), a Prefeitura de Alcântara, a Secretaria Estadual de Saúde do Maranhão e a Associação Médica Brasileira – Maranhão. Profissionais e residentes do HU-UFMA, além de docentes, pesquisadores e alunos da Universidade, das mais diversas categorias profissionais levaram atendimento e informação sobre a doença renal crônica (DRC) para além dos muros do hospital.

Levando a prevenção até a comunidade

Após uma travessia de balsa, de uma hora e meia, e mais 30 minutos por estrada, opção mais rápida para chegar à comunidade, foram realizadas a avaliação médica e multiprofissional para triagem da doença renal e orientações sobre tratamento e prevenção da DRC. Teve também dosagem da creatinina sérica (exame para estimar a função renal), exames oftalmológicos, odontológicos e dinâmicas para as crianças da comunidade. Além disso, agentes comunitários de saúde foram treinados para replicar as informações para outras comunidades.

O agricultor José Ribamar de Jesus, de 61 anos, passou pelos atendimentos e agradeceu muito feliz a oportunidade. “Estava precisando mesmo fazer umas consultas e exames, graças a Deus chegou na hora certa”, respondeu com um grande brilho nos olhos. Centenas de moradores tiveram a mesma oportunidade. Lembram do trajeto percorrido? Pois é, na dura rotina diária, buscar um tratamento mais específico não é tarefa fácil. Os serviços oferecidos levaram, além de tudo, esperança, alegria e novas possibilidades e em gratidão, toda a equipe foi recebida com festa pela comunidade, que agraciou a todos com uma linda e representativa apresentação de danças de matriz africana.

A comunidade é um local onde a UFMA já realiza pesquisas sobre a prevalência da doença renal há cerca de dez anos. O professor e médico nefrologista que coordena a ação, Natalino Salgado, esclarece que é a segunda vez que fazem uma programação do Dia Mundial do Rim em Alcântara e que a data é muito significativa.

“É um dia realizado no mundo inteiro para despertar a importância da doença renal. Não só despertar, mas conscientizar pacientes, profissionais, gestores e comunidade em geral. O indivíduo começa a perder sua função renal, que afeta todo o organismo e de forma muito rápida acaba precisando de hemodiálise e entrando na fila do transplante.  Podemos fazer o diagnóstico, tratamento, a prevenção, sem ter que deixar chegar em um nível mais complicado”, disse.

O vice-reitor da UFMA, Leonardo Soares, destacou que a UFMA já tem um histórico de atividades de extensão na comunidade de Itamatautia, por meio de apoio ao pólo ceramista, e que além disso, também contribui com outras ações de saúde, como foi o caso dessa atividade de extensão e pesquisa, que foi o Dia Mundial do Rim.

Projeto faz a diferença ao longo do tempo

Natalino Salgado relembra também como foi desenvolvido o Prevrenal, que até hoje tem feito a diferença na vida de todos os envolvidos. “Nós trabalhamos durante um ano, com mais de 40 comunidades, de um total de quase 200. Para o diagnóstico, fizemos a avaliação nutricional, investigamos os hábitos de vida, coletamos sangue para dosar creatinina, entre outros exames. Foram 1.500 atendimentos realizados na época. E pelo menos 500 tinham algum grau de risco de doença renal e cardiovascular. Esses pacientes são atendidos até hoje no HU-UFMA”, explicou.

Alerta para essa doença silenciosa

A campanha realizada anualmente vem para reforçar o objetivo de alertar sobre a importância da saúde renal, do diagnóstico precoce, das formas de prevenção e de tratamento. O tema foi “Saúde dos rins (& exame de creatinina) para todos: porque todos têm o direito ao diagnóstico e acesso ao tratamento”.

No Brasil, as ações foram coordenadas pela Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN). A DRC acomete 10% da população, o que representa 20 milhões de pessoas no país, sendo que, em geral, os casos são diagnosticados nas fases mais avançadas da doença, quando os sintomas costumam aparecer e, no momento do diagnóstico, muitos pacientes já precisam da terapia renal substituta, como a diálise. A doença renal também aumenta o risco cardiovascular dos pacientes, levando a uma série de complicações como o infarto, AVC e óbito.

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