O debate sobre o uso da Inteligência Artificial (IA) na medicina tem ganhado força nos últimos anos, geralmente associado a avanços impressionantes em diagnósticos e predições. Um exemplo é o estudo da revista eClinical Medicine, conduzido pela Universidade de Cambridge e divulgado pela CNN, que mostrou como um algoritmo foi capaz de prever com 82% de acerto quais pacientes com sinais precoces de demência desenvolveriam Alzheimer. Outro dado, publicado pela Veja Saúde, aponta que o segmento de IA aplicada à saúde movimentou US$ 84 bilhões em 2024, puxado pela expansão da medicina de precisão e da genômica. Apesar do entusiasmo com os avanços, ainda é comum que profissionais reduzam a tecnologia a sistemas de perguntas e respostas, como se seu papel se resumisse a uma simulação de diagnóstico via chatbot.
Essa visão limitada precisa ser ampliada. A promessa da IA na saúde não está apenas na sofisticação dos algoritmos diagnósticos, mas principalmente na sua aplicação prática para reorganizar rotinas e aliviar a sobrecarga dos profissionais. Hoje, médicos lidam com prontuários, atualizações de sistemas e formulários que consomem um tempo precioso, tempo que deveria ser dedicado à escuta e ao cuidado.
A tecnologia pode atuar como uma aliada silenciosa, automatizando tarefas administrativas, organizando registros e sistematizando dados clínicos com segurança e consistência. Esses são os usos concretos da IA que ainda passam despercebidos por grande parte da comunidade médica. O tempo, escasso na prática médica contemporânea, pode ser recuperado com o uso responsável de ferramentas inteligentes. Mais do que acelerar diagnósticos, o papel da tecnologia está em permitir que o médico volte a olhar nos olhos, ouvir com atenção e exercer sua profissão com presença e clareza. Esse impacto na qualidade do cuidado é, muitas vezes, mais urgente do que as inovações técnicas em si.
É natural haver resistência quando o debate público sobre IA na medicina se concentra em exemplos futuristas ou experiências limitadas a interfaces conversacionais. Mas esse é apenas um recorte. É preciso que os profissionais compreendam que as aplicações vão muito além disso: tratam-se de soluções integradas ao dia a dia clínico, com potencial para restaurar a essência do cuidado médico, com mais tempo, precisão e confiança. A revolução tecnológica na saúde só fará sentido se for usada para reforçar o que há de mais humano na medicina. E isso não começa com um robô respondendo perguntas, mas com o profissional tendo ferramentas para fazer melhor o que só ele pode fazer: cuidar.
Cristiane Lamanna, Líder de Marketing na DoctorAssistant.ai.