No famoso filme “Tempos Modernos” de Charles Chaplin, que foi lançado em 1936, ele traz a tona no começo do século 20 uma temática que até nossos dias nos persegue: a máquina tomando o lugar dos homens! O personagem de Chaplin trabalhava em uma fábrica, na qual tem um colapso nervoso por trabalhar de forma escrava ao interagir com máquinas que não estão em sintonia com o ritmo humano. A cena antológica dele sendo tragado pela enorme engrenagem se mostrou um prenúncio do que viveríamos nas décadas seguintes.
Passados 80 anos, este tema ainda é central na hora de analisarmos como a tecnologia tem se inserido em nossas vidas, e mais presentemente no cenário da Saúde Digital.
Com a revolução no século 20 da computação e dos sistemas de informática, incluindo o advento da Internet, muito tem se escrito, debatido e teorizado que a solução para a melhoria na Saúde e Medicina é aumentarmos continuamente a absorção de novas e mais complexas tecnologias. Maquinas de exames e diagnósticos mais sofisticadas, aplicativos pessoais nos smartphones para nosso bem-estar físico, wearables para medir tudo sobre nós a todo instante, sistemas de prontuários médicos com todos nossos registros coletados ao longo dos anos, e por aí vai a lista interminável de opções.
Sim, a Saúde Digital precisa de tecnologia cada vez mais aprimorada, mais potente e mais inteligente. Nisso está a grande expectativa das novas fronteiras que observamos com a Inteligência Artificial (IA), a comunicação Máquina a Máquina, o Deep Learning, e todas as outras áreas de inovação tecnológica que se possa imaginar.
Mas precisamos parar e pensar em questões fundamentais que acabam ficando de lado quando cedemos ao apelo que a tecnologia traz: queremos seres humanos mecanizados ou máquinas humanizadas?
Quando os sistemas que são projetados para apoiar a Medicina e a Saúde não são abraçados na sua concepção por equipes clínicas multidisciplinares (aqueles que usarão na pratica), a solução final adotada é muitas vezes imposta em vez de absorvida pelos usuários.
No também antológico filme de Stanley Kubrick, “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, o computador HAL 9000 tinha um protagonismo tão importante quanto o astronauta, sendo muitas vezes levado a questionar as decisões do ser humano. Seu sistema de inteligência artificial era quase como uma voz exterior que arrazoava com o ser humano diante dele. Ele não era mais visto como um computador, era algo com o qual o astronauta interagia complexamente, mas de modo quase humano.
Recentemente, o Dr. Parashkev Nachev, Associado Sênior de Pesquisa Clínica e Neurologista Honorário de Consultoria da University College London, fez uma analise muito interessante sobre a informação humanizada na Saúde, já que a gestão da informação nos serviços de saúde representam quase 80% do trabalho efetivo. Sua palestra pode ser vista no link: https://www.kingsfund.org.uk/sites/files/kf/media/Parashkev_Nachev.pdf
“Por muito tempo”, argumenta ele, “os sistemas digitais de registros de pacientes (os tais Prontuários e Registros Eletrônicos) têm sido um fator disruptivo no atendimento ao paciente, porque não são projetados com a contribuição dos médicos”. Ele apontou para o fato de que, especialmente em cuidados hospitalares, os médicos precisam ser “mão-na-massa” olhando, tocando e examinando os seus pacientes. Não dá para transferir isso para um computador! Mas os sistemas de registro de pacientes exigem principalmente que os médicos e enfermeiros se afastem dos pacientes para inserir dados através de um teclado, o que representa uma barreira entre o paciente e o cuidador.
Isso transforma médicos consultores altamente treinados em digitadores de entrada de dados – humanos mecanizados! Uma solução mais óbvia é repensar a forma como esses dados são registrados, de modo a refletir como os profissionais da saúde trabalham – Humanizar a Tecnologia!
Um dos desafios é buscarmos desenvolver a tecnologia que permita que os novos sistema informatizados possam produzir relatórios clínicos compreensíveis para os humanos, combinando os dados do paciente com técnicas de linguagem natural, evitando que os médicos precisem gastar tempo escasso redigindo os relatórios sobre seus pacientes. Está aí um bom desafio para a Inteligência Artificial. No design de novos softwares e sistemas para a Saúde, temos que levar em consideração o comportamento do usuário final – principalmente médicos e enfermeiros.
Cuidar de alguém doente é uma tarefa essencialmente humana, não mecânica. A tecnologia deve ajudar nesta tarefa humana, mas não pode transformar o cuidador em um gestor de dados. Ela deve servir e não ser servida pelos seus usuários, algo que vemos com frequência ainda.
Finalmente, já que esse tema da humanização na tecnologia merece outras considerações que buscaremos trazer em outros artigos, fica a sugestão para se assistir esta entrevista com o Dr. Paulo Chapchap, presidente do Hospital Sírio-Libanês em São Paulo, no qual ele aborda que Médico olha mais os exames do que o paciente!
(Link – https://mais.uol.com.br/static/uolplayer/index.html?mediaId=16118309)
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No próximo Post traremos um novo tema relacionado a aonde a Saúde Digital nos levará?
Abraços a todos!
Guilherme Rabello, gerência comercial e Inteligência de Mercado da InovaInCor – InCor / Fundação Zerbini.
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