Quando pensamos na imagem de um médico, o que nos vem a mente? Um profissional com jaleco branco e um instrumento pendurado no pescoço – o estetoscópio! Esse instrumento tão simples, que praticamente se tornou um símbolo do profissional da Medicina, foi na teoria concebido em 1761, quando Leopold Auenbrugger, em seu livro em latim Inventum Novum (ou Novo Invento), apresentou a técnica de percussão como um novo método de exame clínico para diagnóstico de doenças do tórax.
Porém, quando o médico francês René Laënnec (1781-1826) traduziu a obra do latim, ficou estimulado a desenvolver mais as técnicas de diagnóstico clínico usando esta metodologia. Como havia na época a dificuldade de se ouvir diretamente o som do tórax em certos pacientes (como as mulheres e pacientes obesos), Laënnec montou um cilindro de papelão para que o som do tórax do paciente pudesse ser ouvido de modo amplificado pelo médico, sem o desconforto ou o contato direto com o paciente. Estava ali criado o primeiro estetoscópio!
Desde então, vários modelos foram criados e aprimorados, tendo hoje uma variedade de produtos no mercado, desde os estetoscópios mais tradicionais (como o criado em 1961 pelo Dr. David Littman, distinto cardiologista e autoridade internacional em eletrocardiografia) até os digitais que gravam os sons e conectam-se por meio wireless com softwares de análise.
Citei o exemplo do estetoscópio como emblemático da prática médica para poder introduzir um novo aparelho que terá a mesma função disruptiva na Medicina, os dispositivos visuais de Realidade Virtual!
Os dispositivos visuais de Realidade Virtual, assim como o estetoscópio, se incorporarão como recurso essencial no diagnóstico clínico dos médicos do século 21!
Mas o que é Realidade Virtual? Bem, o conceito da Realidade Virtual possui várias definições, mas em geral refere-se a uma interface que simula um ambiente real e permite aos participantes interagir com o mesmo, capacitando as pessoas visualizar e manipular representações extremamente complexas geradas por um computador.
Os primeiros sistemas de Realidade Virtual começaram a ser criados na década de 1950, quando os experimentos de simulações usavam imagens de vídeos gravados, e foram feitas pela Força Aérea americana para treinar seus pilotos. Um dos primeiros produtos de mercado foi o Sensorama (foto abaixo), lançado em 1962, que já incorporava a experiência sensorial imersiva. Na década de 1970, o avanço dos computadores já começava a permitir a interação entre homem e computador para criar ambientes simulados digitalmente.
Desde então, a Realidade Virtual progrediu muito com o avanço do poder dos computadores, sendo que a indústria dos Games criou vários dispositivos para facilitar a interação e visualização, aumentando a sensação de realidade e imersão dos jogadores.
Ao longo dos últimos 50 anos, as capacidades da ciência, da saúde e da medicina se expandiram significativamente e, com a Realidade Virtual, a tecnologia encontra uma maneira de acelerar a forma como aprendemos, ensinamos e treinamos nossas habilidades. A partir desta evolução tecnológica, a indústria médica passou a experimentar algumas das tecnologias que a Realidade Virtual já dispunha e desenvolver soluções de treinamento, simulação e educação dos profissionais da Saúde.
A Realidade Virtual na Medicina é uma área com possibilidades fascinantes. Ela não apenas moveu a imaginação dos fãs de ficção científica, mas também pesquisadores clínicos e profissionais da vida real. Embora o campo seja novo, já existem excelentes exemplos de Realidade Virtual que têm um efeito positivo na vida dos pacientes e dos profissionais da saúde (médicos, fisioterapeutas, etc). Vamos citar alguns exemplos abaixo, mas variedades de produtos e soluções são enormes.
1) Planejamento Cirúrgico – a solução desenvolvida por essa empresa americana, Surgical Theather, permite integrar perfeitamente o planejamento cirúrgico e a navegação do médico em um modelo tridimensional do paciente,a educação profissional e as experiências de ensaio com incríveis capacidades de envolvimento da equipe cirúrgica.
Isto aumenta a segurança do paciente mediante uma equipe médica mais preparada para o procedimento que será realizado. A Realidade Virtual torna-se um mecanismo de segurança e aprimoramento dos profissionais.
2) Holografia Anatômica – A Microsoft desenvolveu um óculos extremamente sofisticado que permite o usuário ver imagens holográficas e de Realidade Virtual. Segundo a própria empresa define o Hololens, ele é “o computador holográfico mais avançado do mundo que você já viu”. Como aplicações práticas para esse produto, a Microsoft imaginou na área médica ensinar conceitos à estudantes com hologramas sem ao menos tocar em um cadáver ou corpo vivo. Isso facilitaria muito o aprendizado e rapidez na compreensão da anatomia do corpo humano.
3) Fisioterapia – Um empresa israelense, a VRPhysio, desenvolveu uma plataforma de reabilitação de Realidade Virtual que transforma em jogos a fisioterapia e a torna divertida e fácil de monitorar. Ao usar jogos de Realidade Virtual e guias interativos, os dispositivos VRPhysio monitoram os pacientes através de sua reabilitação prescrita ou exercícios preventivos, medem o progresso e fornecem um relatório ao fisioterapeuta. A fisioterapia baseada na Realidade Virtual fornece aos pacientes a continuidade do cuidado que eles precisam para mantê-los seguidos e motivados, no caminho da recuperação.
Há ainda várias outras aplicações, como tele-educação, engajamento do paciente em seu tratamento, redução da dor e de desorientação motora.
Voltarei a abordar este tema da Realidade Virtual futuramente em outros artigos, mas uma coisa temos que reconhecer – esta tecnologia veio para ficar e será muito importante na Saúde Digital!
Abraço a todos!
Guilherme Rabello, responde pela Gerencia Comercial e Inteligência de Mercado do InovaInCor – InCor / Fundação Zerbini (grabello.inovaincor@zerbini.org.br). Atua como consultor, palestrante e escreve artigos sobre inovação, tecnologia e negócios.
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