O mercado de saúde brasileiro está passando por uma transformação significativa, impulsionada por movimentos de unificação entre operadoras de planos de saúde e redes hospitalares. Essas unificações, que incluem fusões, aquisições e parcerias estratégicas, têm como principal objetivo complementar serviços e ampliar a eficiência operacional. Exemplos notáveis desse fenômeno são a fusão entre Hapvida e Notredame Intermédica, a maior operadora de saúde privada da América Latina, e a aquisição da SulAmérica pela Rede D’Or.
Essas operações refletem a necessidade das empresas de otimizar recursos e ampliar a oferta de serviços especializados, como a oncologia, que tem sido um dos destaques por algumas questões como o crescimento da demanda e complexidade dos tratamentos, que exigem grandes investimentos em tecnologia e infraestrutura. A centralização de serviços e a redução de custos são benefícios imediatos dessas consolidações, permitindo que poucas empresas dominem áreas críticas do mercado de saúde, impactando diretamente a qualidade e a acessibilidade dos cuidados oncológicos.
A busca por sinergia na oferta de serviços também é uma resposta ao desafio crescente de controlar o aumento dos custos. Para as operadoras, é vital garantir que seus principais clientes – empresas que oferecem planos de saúde a seus funcionários – continuem renovando seus contratos, mesmo com os reajustes anuais. No entanto, a pressão por contenção de despesas leva muitas empresas a buscar alternativas, considerando que o plano de saúde representa, em média, um quarto dos custos totais da folha de pagamento.
Para os consumidores finais, essas mudanças podem resultar em downgrade dos planos e aumento da coparticipação, o que pode reduzir as receitas das operadoras devido à menor utilização dos serviços ou à migração para planos mais acessíveis. Caso os custos não sejam adequadamente gerenciados, o setor pode enfrentar um cenário de difícil reversão.
Por outro lado, a unificação das operadoras e hospitais sob um mesmo controlador amplia sua influência geográfica, permitindo uma melhor distribuição de pontos de atendimento e a internalização de mais serviços. Isso contribui para o controle dos custos por meio de protocolos que evitam desperdícios, como a duplicidade de exames e internações por períodos maiores que o necessário.
Para os beneficiários, essa reestruturação pode gerar a sensação de que esteja acontecendo um “engessamento” ou “precarização” da prestação de serviços, o que não é necessariamente uma verdade. Vale destacar que essa situação é influenciada, principalmente, pelo modelo brasileiro que acostumou as pessoas com o “poder da carteirinha” do convênio e com a liberdade de escolherem o médico e a especialidade que buscam para um tratamento. Além disso, a maior ênfase nos processos e valores de reembolsos reforça a percepção de que os serviços estão se tornando mais restritos.
Contudo, a principal motivação por trás dessas fusões e aquisições é a eliminação de desperdícios, assegurando que os beneficiários sejam encaminhados para serviços de maior custo apenas quando necessário, garantindo, assim, um atendimento de alta qualidade com menores despesas em todas as situações.
Este modelo promete ser um diferencial competitivo significativo, mas ainda é preciso acompanhar como essas mudanças serão absorvidas pelo mercado e quais serão os resultados práticos. No fim das contas, a questão central é: estamos conseguindo melhorar a assistência com custos menores para operadoras e beneficiários?
O mercado de saúde observa atentamente os próximos passos desse movimento, que traz novas oportunidades para fundos de Private Equity focados na consolidação de especialidades. Alguns exemplos incluem o Grupo H+ Brasil, investimento do Pátria , que iniciou por Oftalmologia e expandiu para outras especialidades, e o Vision One, investimento da XP, também especializado em Oftalmologia.
Com tantas mudanças em curso, seja pela complementaridade de serviços ou pela consolidação de players menores, é crucial manter um olhar atento e estratégico sobre este setor em constante evolução.
Alexandre Sgarbi, Diretor da Peers Consulting & Technology.