O consumo de produtos para a saúde que em 2019 estava em R$ 1,522 bilhão caiu para R$ 1,333 bilhão em 2020 e, no ano passado, recuou ainda mais, cerca de 16%, para R$ 1,276 bilhão, ficando no menor patamar dos últimos sete anos. Os dados são da 5ª edição do estudo setorial “O Ciclo de Fornecimento de Produtos para Saúde no Brasil” da Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde (ABRAIDI). Segundo a entidade, os números revelam que o SUS saiu menor da pandemia, enquanto o sistema privado já reagia em 2021 em relação à crise sanitária.
De acordo com a pesquisa, o encolhimento do SUS nos dois últimos anos se deve a quedas sucessivas nos procedimentos eletivos e na aquisição de órteses, próteses e materiais especiais (OPMEs), além de uma tabela de preços de referência que inviabiliza a comercialização e as empresas de produtos para a saúde já têm deixado de fornecer ano após ano.
“Com a pandemia de Covid-19, os brasileiros tiveram a clara noção da importância de termos um sistema público de saúde que funcione, já que o SUS atende mais de 75% da população”, destacou o presidente da ABRAIDI, Sérgio Rocha. “Mas, infelizmente, a nossa pesquisa constatou que o SUS saiu menor dessa pandemia do que antes dela.”
Segundo ele, a paralisação dos procedimentos eletivos poderiam justificar essa dupla queda, em 2020 e 2021, mas no segundo semestre o setor privado retomou as cirurgias programadas e o SUS tem se mostrado muito mais moroso nessa volta. “Esse fato que é extremamente preocupante, pelo gargalo que naturalmente já existe nos atendimentos públicos”, contextualizou Rocha.
Os dez principais gastos realizados pelo SUS, no ano passado, foram: stents farmacológicos (10,7%), stents para artéria coronária (7,7%), marca-passo (6,6%), cateter balão para angioplastia (3,8%), desfibrilador implantável (3,5%), conjunto para circulação extracorpórea (3,2%), desfibrilador com marca-passo (3,1%), grampeador cirúrgico (2,7%), prótese para implante coclear (2,4%) e dispositivo para fixação de haste (2,4%).
Embora o SUS movimente grandes volumes de recursos e materiais por atender mais de 210 milhões de brasileiros, sendo que mais de 75% dependem exclusivamente dele para qualquer assistência de saúde, o setor público vem perdendo espaço no faturamento dos associados ABRAIDI. A participação das fontes pagadoras privadas no faturamento dos associados tem crescido de maneira inversamente proporcional à queda de participação do setor público. De 2018 para o ano passado, o SUS representou, respectivamente, 27%, 22%, 19% e, por fim, apenas 17%do faturamento das empresas.
“Um dos principais motivos é a defasagem da tabela de valores de referência pagos pelo SUS, que permanece sem reajuste há cerca de 20 anos e que, recentemente, sofreu redução significativa nos valores de uma cesta de produtos da área cardiológica, agravando ainda mais a situação”, lembrou Rocha. “Vale destacar que entre os 10 itens mais consumidos pelo SUS somente dois não estão relacionados com à cardiologia”, complementa. As doenças cardiovasculares representam as principais causas de morte no Brasil com cerca de 30% de todos os óbitos. “Deveria receber mais atenção e não o contrário”, completou.
Já em relação à distribuição do faturamento dos associados por tipos de clientes, a participação do SUS é ainda menor: 9% vêm de hospitais públicos, 25% de hospitais privados, 28% de operadoras ou planos de saúde não integrados a hospitais (não verticalizados) e 28% de operadoras ou planos de saúde integrados a hospitais (verticalizados).
“É inegável a importância do SUS no Brasil, com uma população carente tão grande, mas se ele é tão importante, precisa ser prioridade em todos os sentidos, principalmente na destinação de recursos e não o contingenciamento dos mesmos”, concluiu Rocha.