Falar sobre saúde mental já não é mais uma novidade no ambiente corporativo. Nem poderia: dados do IBGE indicam que 18,6 milhões de brasileiros sofrem de ansiedade e, de acordo com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, os transtornos mentais entre os trabalhadores brasileiros geram uma perda de R$397 bilhões ao ano no faturamento das empresas. Já está evidente que estruturar iniciativas de cuidado psicológico é essencial. No entanto, ainda há uma questão crucial que merece atenção: como essas ações podem ser mais assertivas e personalizadas? Nesse sentido, acredito que os dados desempenham um papel importante.
Desde 2017, tenho trabalhado com dados que mapeiam o uso dos planos de saúde corporativos no âmbito dos serviços de saúde psicológica. A partir desse trabalho, ficou ainda mais evidente como a saúde mental é uma questão complexa e variada, principalmente no contexto empresarial. E o comportamento dos usuários oferece pistas valiosas para que as empresas compreendam as reais demandas de seus colaboradores.
Por exemplo, de acordo com os dados mapeados na plataforma Wellbe, no primeiro trimestre de 2024 as mulheres representaram 56% dos usuários de serviços de psicologia, frente a 39% dos homens. A distinção entre os gêneros se repete também em 2023 e 2022: no ano passado, 53% dos usuários de serviços de psicologia foram mulheres e 33% homens. Em 2022, os percentuais foram de 55% e 32%. Há, porém, uma possibilidade de mudança no horizonte. Se em 2022 e 2023 o percentual de mulheres que buscavam atendimento para saúde mental era mais que o dobro em relação aos homens, no primeiro trimestre de 2024 esse índice ficou em 40%.
A partir dessa avaliação, fica claro que é preciso criar estratégias segmentadas para atender aos diferentes públicos presentes nas empresas. Afinal, a menor procura por serviços de saúde mental não significa que homens não enfrentam problemas emocionais; pelo contrário, pode indicar uma barreira cultural que os impedem de procurar ajuda. O aumento no uso dos serviços psicológicos também pode indicar que esse público está criando consciência sobre a importância desses cuidados. Em um cenário como esse, empresas poderiam, por exemplo, organizar rodas de conversa voltadas para os homens, abordando de forma específica a importância de pedir ajuda e quebrar estigmas em torno da vulnerabilidade emocional.
Da mesma forma, seria interessante investigar quais ações teriam o melhor impacto entre as mulheres. Se elas já estão atentas à necessidade de buscar ajuda, talvez seja o caso de entender se não há um cenário de sobrecarga no trabalho ou outros aspectos do dia a dia que possam contribuir para um adoecimento. E, a partir disso, implementar soluções ágeis para mitigar esse problema e mostrar às colaboradoras que o assunto está recebendo a devida atenção.
As campanhas de conscientização são, sem dúvida, importantes. Mas para que tenham sucesso, é necessário que estejam embasadas em uma análise cuidadosa de dados. Eles oferecem às empresas a chance de agir de maneira proativa e personalizada, entendendo as necessidades específicas de cada grupo. Em vez de um “tamanho único”, as ações podem ser desenhadas com base nas informações coletadas, garantindo que o impacto seja mais profundo e duradouro. A união entre dados e empatia pode ser a chave para que as empresas ofereçam o suporte adequado aos seus colaboradores, promovendo um ambiente de trabalho mais agradável e produtivo.
Assim, as empresas que olham para a saúde mental sob a ótica dos dados têm uma grande vantagem: podem atuar de forma preventiva, assertiva e direcionada. No fim, todos ganham – o colaborador, com um suporte adequado, e a empresa, com uma equipe mais engajada e saudável.
Guilhermino Afonso, CEO da Wellbe.