Zepbound: nova medicação para obesidade aprovada pelo FDA

A Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora para medicamentos dos Estados Unidos, aprovou na quarta-feira, 8 de novembro, o medicamento injetável Zepbound. A substância, disponibilizada através de uma caneta injetável, tem o objetivo de atuar no controle da obesidade. Antes, o tratamento com tirzepatida era aprovado e utilizado apenas para a diabetes tipo 2.

A tirzepatida, substância presente no Zepbound, retarda o esvaziamento do estômago, permitindo saciedade por mais tempo, além de inibir os sinais de fome emitidos pelo cérebro, impactando no apetite. “Até o momento, esse é o medicamento mais potente para tratamento de obesidade, alcançando perdas médias de 20% do peso, podendo chegar até 30% (número alcançado em cirurgia bariátrica). Contudo, apesar de estar aprovado pela FDA, ainda precisamos da liberação da Anvisa para utilização no Brasil. Os dados são bastante promissores”, comenta a endocrinologista Alessandra Rascovski, diretora médica da Clínica Rascovski.

De acordo com a farmacêutica responsável pelo Zepbound, a Eli Lilly, o medicamento é indicado para adultos com obesidade (IMC igual ou superior a 30kg/m²), que possuem excesso de peso (27kg/m²) ou condições clínicas relacionadas ao sobrepeso, como diabetes tipo 2, hipertensão e apneia do sono.

Zepbound deve ser aliado a prática de exercícios físicos e alimentação balanceada

Os resultados das pesquisas que levaram à aprovação do FDA foram baseados em 2.539 voluntários com excesso de peso e doenças relacionadas – com exceção da diabetes. O peso médio dos candidatos era de 104 kg no início dos estudos, que perduraram por 72 semanas.

Como complemento dos exercícios físicos e uma alimentação balanceada, os pacientes que utilizaram Zepbound perderam cerca de 21 kg ingerindo a dose mais alta (15mg) e 15 kg com a dose mais baixa (5mg). Além disso, foi observado que os voluntários que ingeriram a dose mais alta do medicamento perderam mais de 25% do peso corporal quando comparados a 1,5% dos pacientes que fizeram o uso de placebo.

“No Brasil, o medicamento está disponível com o nome Mounjaro, mas é destinado apenas ao tratamento de diabetes. Esse é um passo importante e que abre novas frentes para o tratamento contra a obesidade, uma condição grave e que pode estar associada a diversas causas de óbito, como o acidente vascular cerebral (AVC), doenças cardíacas, entre outros”, acrescenta a endocrinologista.

Vale ressaltar que publicação recente do New England Journal of Medicine mostrou pela primeira vez um tratamento medicamentoso, também análogo do GLP-1, para obesidade com semaglutida (Ozempic / Wegovy), que foi capaz de reduzir em 20% o risco cardiovascular em pacientes com obesidade e diabetes.

 

Outros medicamentos também ganham destaque no combate à obesidade

Durante o Congresso Anual da European Association for the Study of Diabetes (EASD), que aconteceu no início de outubro deste ano, em Hamburgo, na Alemanha, houveram novidades sobre o estudo de fase 2 da droga Retatrutida. Em um período de 48 semanas, o medicamento chegou a diminuir 24,2% do peso dos voluntários – o que corresponde a uma média de 26 kg/48 semanas.

“Esses índices são muito importantes porque, observando os pacientes avaliados, é possível notar, por exemplo, que 36% dos obesos tinham pré-diabetes no início do acompanhamento e após 48 semanas, 72% atingiu níveis normais de glicemia. Além disso, também houve diminuição de LDL colesterol e triglicérides”, aponta a especialista.

Esse impacto da droga em diabéticos tipo 2 foi medido pelo estudo de forma aprofundada. Nesse caso, 281 pacientes foram acompanhados durante 36 semanas. Os pesquisadores notaram, então, uma perda média de 17% no peso dos participantes. Além disso, quem tinha obesidade mais severa (IMC > 35 kg/m2) perdeu mais peso do que quem tinha só sobrepeso. As mulheres emagreceram 28% do peso, enquanto os homens diminuíram 21%. Os resultados foram publicados no The New England Journal of Medicine.

A médica explica que, diferente do famoso Ozempic, esse novo medicamento age em mais de uma frente, o que o torna ainda mais eficaz. “A semaglutida imita o hormônio GLP-1, que influencia nossa sensação de saciedade e está presente em todos esses medicamentos de controle de obesidade e diabetes. Mas a  Retatrutida, no entanto, que é um agonista triplo, simula mais dois hormônios, o GIP, que melhora a secreção de insulina após uma refeição e o Glucagon, que aumenta o nível de glicose no sangue contrapondo-se aos efeitos da insulina”.

Com isso, ele atinge várias frentes ao mesmo tempo no organismo humano. E isso é fundamental, já que a obesidade, em 2021, foi responsável por 2,8 milhões de mortes por doenças nas Américas e as diabetes ultrapassem 500 milhões de pessoas no mundo. A tendência é que esses números subam ao longo dos anos. “Tivemos revoluções em nossos meios de vida, com aumento do sedentarismo, urbanização e carga de trabalho, o que mudou nossa forma de se alimentar e exercitar. Além disso, há uma carga genética que pode influenciar no desenvolvimento dessas doenças”, explica.

“São drogas e inovações científicas que podem revolucionar as próximas gerações, evitar o surgimento de doenças, melhorar a qualidade de vida e aumentar a longevidade. Estamos animados com os resultados até agora, mas é preciso aguardar o fim da fase 3, que já está em andamento”, finaliza Alessandra Rascovski.

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