Como conseguimos trabalhar sem IA na saúde por tanto tempo?

A inteligência artificial já não é uma promessa distante na medicina – ela está aqui, sendo utilizada e reconhecida como uma aliada pela maioria dos profissionais de saúde. Uma pesquisa recente do Medscape (2024) revelou que 79% dos médicos da América Latina veem essa tecnologia como uma ferramenta essencial na prática médica. No Brasil, 71% acreditam que os algoritmos avançados são úteis para interpretar exames de imagem e 79% afirmam que essas soluções podem revolucionar a gestão de prontuários médicos.

Diante desses números, surge a pergunta: por que ainda resistimos a essa mudança? Enquanto alguns enxergam a automação inteligente com desconfiança, grande parte da classe médica já percebeu seu valor. Em vez de tirar autonomia dos profissionais de saúde, os avanços tecnológicos têm mostrado que podem ser um suporte valioso para otimizar diagnósticos, reduzir burocracias e permitir que médicos foquem no que realmente importa: o atendimento ao paciente.

Claro, os desafios existem. A regulamentação dessa inovação é um dos principais pontos debatidos – Tanto que, segundo a pesquisa, 84% dos médicos brasileiros defendem a criação de regras claras para garantir que esse tipo de ferramenta seja usada com segurança e ética. Isso mostra que o problema não está na tecnologia em si, mas na necessidade de diretrizes bem definidas para sua aplicação. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) já estabelece parâmetros, mas a medicina exige um olhar ainda mais atento para garantir que a privacidade dos pacientes seja respeitada e que os algoritmos sejam auditáveis e confiáveis.

O que não faz sentido é continuar ignorando o impacto positivo dessas inovações na saúde. A medicina sempre evoluiu com base na inovação, e os sistemas inteligentes são apenas mais um passo nesse caminho. Ferramentas que reduzem a sobrecarga dos médicos e melhoram a eficiência do atendimento já fazem parte da rotina dos consultórios e hospitais – e os números comprovam isso. A questão não é mais se essas soluções devem ser utilizadas na saúde, mas sim por que ainda há resistência diante de um recurso que pode tornar o atendimento mais eficiente, preciso e humanizado.

Se usada com ética e responsabilidade, essa tecnologia não substitui o médico – ela o fortalece. A medicina está mudando, e os profissionais que já entenderam isso não sabem como trabalharam sem esses recursos por tanto tempo. A pergunta que devemos fazer agora é: até quando vamos insistir em enxergar essa inovação como uma ameaça, quando ela já provou ser uma aliada?

Cintia Baulé, médica de família.

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