Com o aumento constante de ataques cibernéticos, o setor de saúde enfrenta uma corrida não apenas para proteger dados sensíveis, mas também para garantir a continuidade e eficiência das suas operações. No último ano, após a aquisição de uma empresa especializada pelo Peers Group, tive a oportunidade de me aprofundar nesse tema e percebi que, apesar dos avanços, a maturidade do setor ainda é baixa. Fatores como a alta rotatividade de profissionais, o uso de redes visitantes por pacientes em áreas de espera e a necessidade de conexão de muitos equipamentos à internet para a operacionalização do negócio são desafios frequentes.
Esse é um tema urgente, e, como líder da vertical de clientes em Healthcare na Peers, acompanhei de perto discussões que apontam para um potencial muitas vezes deixado em segundo plano: as ferramentas de proteção cibernética também podem ser usadas para melhorar a eficiência operacional. Essas soluções monitoram o tráfego de dados e conexões, mas, por serem especializadas no setor, fornecem dados valiosos que podem ser integrados a indicadores operacionais e estratégicos.
Quando bem aplicadas, essas ferramentas podem aumentar a disponibilidade de informações críticas e permitir automações em tempo real, tanto em processos operacionais quanto em ações táticas. A seguir, destaco algumas oportunidades iniciais de como a cibersegurança pode ser aproveitada para otimizar processos no setor de saúde. Embora minha visão ainda seja macro, o espectro de possibilidades é bastante amplo. O foco aqui é a análise das jornadas dos pacientes e dos profissionais de saúde nos estabelecimentos, além da integração de equipamentos com processos financeiros e de otimização operacional e geração de receita.
Jornada do Paciente
Monitorar a presença dos pacientes nas unidades pode gerar análises fundamentais, como a comparação entre o tempo de permanência e o tempo médio para a realização de procedimentos. Esses dados ajudam a identificar gargalos no atendimento e a fornecer indicadores de satisfação. Além disso, associar essas informações a queixas em serviços de atendimento ou notificações de intercorrências junto à ANS permite ações proativas em casos de tempos de espera fora do padrão.
Esses insights podem ser obtidos via monitoramento dos dispositivos conectados dos pacientes (como celulares e tablets), por meio de login, ou com o uso de tags de localização acopladas aos crachás de identificação.
Jornada dos Profissionais de Saúde
De maneira semelhante aos pacientes, a jornada dos profissionais de saúde pode ser monitorada por meio dos dispositivos e crachás que utilizam, mas com análises ajustadas às suas atividades específicas. Esse acompanhamento permite avaliar, por exemplo:
- Cumprimento das agendas de enfermagem nos quartos de internação;
- Alertas sobre a administração de medicações, cruzando horários com visitas e lançamentos no sistema para garantir a conformidade com o calendário previsto;
- Mapeamento de calor nas alas de atuação, identificando possíveis deficiências na alocação da equipe.
Monitoramento de Ativos
Outro aspecto relevante é o monitoramento de equipamentos e ativos. A análise das “pegadas” que os equipamentos deixam na rede pode otimizar o uso dos recursos e integrar dados financeiros e administrativos. Comparar a programação de uso dos equipamentos com a utilização real e a presença de profissionais, por exemplo, ajuda na otimização dos agendamentos.
Além disso, é possível verificar o ciclo de faturamento e cruzar informações entre o item faturado e a utilização real do equipamento, assegurando conformidade com os procedimentos realizados. Um exemplo seria identificar que uma ressonância de tórax foi faturada, mas o exame realizado foi de joelho. Tudo isso, claro, dentro das regulamentações da LGPD e respeitando a sensibilidade dos dados.
Benefícios Ampliados
Ao final, as soluções tecnológicas de cibersegurança, quando implementadas corretamente, vão além da simples proteção de dados. Elas posicionam a instituição de saúde na vanguarda do setor, impulsionando sua eficiência operacional e estratégica, e garantindo uma maior segurança para os pacientes e profissionais. Em um ambiente cada vez mais competitivo e conectado, transformar a cibersegurança em uma vantagem operacional pode ser a chave para o sucesso.
Alexandre Sgarbi, Diretor da Peers Consulting & Technology.