Com a pandemia causada pelo coronavírus, ainda é incerto dizer quais impactos o vírus poderia ter sobre os tratamentos de reprodução assistida e aos casais inférteis que sonham em ter filhos. Em função disso, as entidades reguladoras dos tratamentos de reprodução assistida, não só no Brasil como em outros países, têm recomendado medidas de precaução e segurança biológica redobrados.
As transferências embrionárias, fase final do processo de Fertilização in vitro (FIV) e que gera a gravidez, por exemplo, têm sido adiadas ou sua definição individualizada entre médico e paciente. Para entender melhor essa questão, a equipe de pesquisa do LabForLife, laboratório de Reprodução Humana localizado em São Paulo, desenhou um protocolo de pesquisa científica para avaliar o impacto da exposição ao coronavírus, em indivíduos assintomáticos, e as possíveis alterações bioquímicas que isso poderia gerar em amostras de gametas e embriões cultivadas em laboratório.
Liderado pelo Professor Doutor Edson Lo Turco, embriologista especialista em reprodução humana, o projeto de pesquisa científica vai estudar a presença do coronavírus nos materiais coletados e que são utilizados em tratamentos de reprodução assistida, para identificar possíveis alterações moleculares, como nos espermatozoides, no líquido folicular dos óvulos, embriões cultivados, e sua transmissibilidade entre amostras armazenadas em tanques de nitrogênio líquido específicos para os pacientes positivos para coronavírus do incluídos no estudo.
“Além de gerar novos protocolos específicos para COVID-19 na reprodução assistida, esse trabalho poderá servir de base para outros estudos no desenvolvimento de novos diagnósticos e medicamentos no combate do vírus”, afirma Édson Lo Turco.
De acordo com o 13º relatório do SisEmbrio – Sistema Nacional de Produção de Embriões, produzido com dados de 2019, o Brasil é um dos protagonista em relação aos procedimentos de Reprodução Assistida no mundo. Tem havido um crescimento da confiança das pessoas nesse tipo de tratamento no cenário brasileiro. O levantamento mostra que, no ano passado, a média da taxa de Fertilização in vitro (FIV) nos bancos de células e tecidos germinativos (BCTG) do país atingiu o percentual 76%, um padrão elevado diante do cenário médio internacional, que exige resultados acima de 65%.
Dr. Oscar Duarte, médico especialista em reprodução humana, co-autor da pesquisa e Diretor Executivo do LabForLife contextualiza o novo coronavírus na reprodução e gravidez. “Ao longo desta pandemia, a área de reprodução humana tem seguido uma série de recomendações para prevenção da contaminação pelo vírus. São medidas que consideramos de precaução. É tudo muito novo, mas pelas evidências disponíveis até o momento, a comunidade científica considera que o impacto negativo do coronavírus na gestação e no ambiente laboratorial de reprodução assistida deve ser limitado, diferentemente do que aconteceu durante o surto de Zika vírus no Brasil entre 2015 e 2016.” O médico pondera que naquele momento, o nível de preocupação foi muito maior e recomendou-se suspender não só todos os tratamentos de reprodução assistida, como também as tentativas de gestação natural em casa.
A equipe de pesquisadores do LabForLife espera que o estudo, além contribuir com o conhecimento científico, traga mais segurança para todos que lidam na área, beneficiando inúmeros casais com tratamentos ainda mais seguros e eficazes, no Brasil e no Mundo.