O caminho para a prática da telessaúde responsável

Nos últimos anos, presenciamos um avanço expressivo na área da saúde impulsionado pela tecnologia. E, cada vez mais, a telessaúde tem se tornado essencial para ampliar o acesso da população aos serviços de saúde, melhorar a logística, a qualidade e a eficiência do cuidado. Diante desse contexto, torna-se imprescindível a inserção de conteúdos relacionados à telessaúde na matriz curricular dos cursos de graduação e das residências médicas, a fim de preparar os profissionais para atuar de forma responsável nesse novo ecossistema de saúde conectada 5.0.

Muitas pessoas acreditam que a telessaúde seja apenas uma ferramenta ou até mesmo uma consulta por videochamada. Entretanto, trata-se de um método que permite a utilização de ferramentas e recursos tecnológicos, como sistemas, aplicativos, equipamentos e até robôs, para proporcionar assistência em saúde à distância. E não podemos esquecer que sempre há um ser humano responsável pelo paciente. E sempre haverá uma inteligência humana responsável pelo cuidado.

Ensinar a telepropedêutica, por exemplo, é fundamental para capacitar os estudantes a realizar avaliações clínicas adequadas por meio dos recursos tecnológicos disponíveis. Além das questões técnicas, também é imprescindível abordar os aspectos legais e éticos, relacionados à telessaúde. É importante também estimular o desenvolvimento de raciocínio crítico e a análise de dados para a tomada de decisão. Compreender as possibilidades e limitações desses recursos é requisito básico para garantir a segurança e eficácia da assistência a distância.

Provocando uma reflexão no leitor, estima-se que menos de 10% das faculdades de medicina do Brasil sistematizaram conteúdos de telemedicina ao longo do curso. Sem falar nas demais áreas da saúde que também devem passar por reestruturação. Em resumo, há uma demanda urgente em formar profissionais aptos a utilizar essas novas modalidades de assistência à saúde.

Há muito a estudar e discutir sobre a telessaúde, mas já estamos atrasados. Considerando o envelhecimento da população brasileira, possivelmente, até 2030, os hospitais e operadoras de saúde enfrentarão grandes dificuldades para oferecer boas condições de atendimento aos idosos. Isso pode gerar um grande impacto sobre o preço dos planos de saúde e limitar a utilização dos serviços mais complexos. É provável que os idosos tenham que adaptar suas residências para os telecuidados domiciliares, como extensão de um hospital híbrido conectado. Mais uma razão para investir na formação dos profissionais da saúde do futuro, os seres humanos responsáveis pela saúde conectada.

Esse ser humano responsável e conectado poderá utilizar estratégias mais inteligentes para a gestão da saúde e prevenção de doenças e agravos. Aqueles que dominarem a telessaúde poderão oferecer um atendimento mais abrangente, integrado e eficiente. Adaptar-se às demandas do mundo moderno certamente trará resultados bastantes positivos, mas a transformação educacional deve acompanhar a aceleração digital da sociedade. Acredito que a educação em saúde conectada seja o caminho para a prática da telessaúde responsável.

*Giorgio Souto é mestre em medicina e saúde humana, gerente de projetos, professor de telessaúde e membro do Núcleo de Inovação Acadêmica da ABTms.

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