Reconhecidamente um dos países europeus que mais investem na saúde da população, cuja longevidade já ultrapassa os 80 anos de idade, a Holanda empregou, em 2015, mais de 70 bilhões de euros em seu sistema de saúde, e já é considerado o terceiro maior exportador mundial de produtos de tecnologia médico-hospitalar. O sistema de gestão de saúde holandês foi considerado o melhor do continente europeu pela sexta vez, segundo o Euro Health Consumer Index.
As informações são de Rens Koele, gerente de Inovação, Ciência e Tecnologia do Consulado da Holanda (foto), durante o painel uso da Telemedicina e Home Care, que aconteceu no 6 o CIMES, a última quinta-feira,17, promovido pela Abimo.
“Estamos na Quarta Revolução Industrial. A introdução do carro não foi fácil, e agora também não está sendo um processo fácil. Estamos fracassando muito, mas, para ter sucesso, é preciso experimentar, por isso estamos na fase de cair e levantar. Temos projetos que se mostram de muito sucesso”, contou Koele.
Segundo ele, sem a junção do governo de instituições de fomento à tecnologia, projetos de assistência à saúde não se concretizam. Explicou que o Governo holandês resolveu investir em startups que pudessem fazer parte de um ecossistema, e na em uma startup isolada, que pode não ter continuidade.
Home care
Explicou que a Holanda estabeleceu um plano de 2014 a 2019, com 3 metas gerais. Hoje já monitora 80% dos pacientes crônicos com acesso imediato das informações, inclusive pelo celular. O segundo objetivo, que até 2019 80% dos crônicos e idosos coloquem eles mesmos as informações direto na plataforma, como peso, pressão arterial, glicose, etc e compartilhara as informações com os médicos, uma forma de auto-cuidado.
O terceiro objetivo, é que em 2019 o país pretende investir para que os pacientes com doenças crônicas ou idosos tenham acesso a telemedicina ou teleconferência, ponto mais difícil de se implementar, segundo Koele.
Outro projeto de home care é Cuidador do Bairro, sistema que consiste em um grupo de 4 a 12 enfermeiros que cuidam de pacientes com doenças crônicas ou idosos em cada município ou bairro. È um sistema de auto-gestão, que tem custo menor, e remunerado por resultados.
Ele defendeu ainda a remuneração por resultado e não por consulta. “O dinheiro gasto por médicos fazendo muitos exames sem interligação precisa ter a recompensação por resultado, e não por consulta. Essas mudanças vão fazer a diferença; precisamos experimentar, errar, colaborar. Interligação de conhecimento é fundamental.”
Sírio-Libanês
Luiz Fernando Reis, diretor de ensino e pesquisa e coordenador do programa de pós-graduação do Hospital Sírio-Libanês, que participou do painel, disse que hoje a telemedicina segue avançando graças ao conhecimento tecnológico que o país já oferece, mas as questões legais dificultam os processos. “Os grandes limitadores são a questão regulatória e o modelo de remuneração”, comenta sobre o fato de, no Brasil, a telemedicina ser autorizada apenas para o contato entre dois profissionais de saúde, jamais entre médico e paciente.
“Um dos grandes desafios é como vamos coletar dados para acompanhamento dos pacientes sem que eles venham a um posto de saúde. Em uma organização que faça a atenção primária, como vou prover ao médico as informações que ele precisa para evitar que o paciente procure a alta complexidade?”, ressaltou. Reis enxerga a telemedicina como uma grande oportunidade, já que existem indústrias capacitadas no país para suprir a demanda. “O CFM (Conselho Federal de Medicina) ainda não permite consulta direta ao paciente, mas existem casos de grande sucesso no país cuja gestão da fila é feita graças à telemedicina, evitando que os pacientes alcancem a alta complexidade”, pontuou.
Outro grande desafio citado pelo diretor de ensino e pesquisa do Hospital Sírio-Libanês é a obtenção de dados dos pacientes e como transmiti-los com segurança. “É preciso uma mudança cultural que está por trás do processo assistencial, além do engajamento e empoderamento do paciente. Saber que os dados que estou coletando são fidedignos e confiáveis. Os sistemas como um todo têm que trazer a confiança de que, com o monitoramento, não estou expondo o paciente a riscos”.
“É necessário que o paciente permaneça o tempo estritamente necessário no hospital, mas que posteriormente possa ser monitorado a distância, especialmente no caso de tratamento de doenças crônicas”, finalizou.
O Sírio-Libanês vem trabalhando e testando a telemedicina de forma pontual através de convênios com 3 hospitais públicos. Também participa do Programa de Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), uma ação do Ministério da Saúde (MS) em parceria com hospitais filantrópicos de qualidade reconhecida.