Não é novidade que a Covid-19 abalou todo o mundo. Além dos devastadores números de mortes e contaminados pelo vírus, os desafios impostos pelo momento também trouxeram a possibilidade de um legado de reinvenção e cooperação dos setores médicos no Brasil. Esse foi um dos temas abordados no primeiro dia do Congresso Nacional de Hospitais Privados (Conahp). O painel “Modelos assistenciais e sua capacidade de adaptação a situações adversas”, mediado por Henrique Salvador, conselheiro da Anahp e presidente da Rede Mater Dei de Saúde, contou com palestras de Maureen Lewis, CEO da Aceso Global, Evandro Tinoco, médico educador na UnitedHealth Group e Rita Coli, superintendente assistencial do Hcor.
A pandemia deixou lições. A resiliência foi uma delas. Ao pensar os modelos de assistências existentes em saúde, Maureen Lewis afirmou que lidar com esse cenário foi difícil para o mundo inteiro, mas pensava-se que países como o Brasil e os Estados Unidos lidariam melhor em uma situação de pandemia. Segundo Maureen, o Brasil é referência no tratamento de doenças como HIV, malária, febre amarela e doença de chagas. Entretanto, Maureen analisa que o país não foi melhor nessa situação de pandemia e elenca alguns fatores. Dentre eles, a fragmentação na prestação de cuidados. Os setores público e privado no Brasil atuam sem cooperação e, segundo ela, convênios entre eles podem representar o futuro da medicina, citando o modelo europeu de contratação do setor privado para prestação de serviços público pontuais.
Além disso, Maureen ressaltou a importância de uma gestão de dados digitais unificados sobre os pacientes para todo o sistema de saúde de forma geral. Um modelo baseado na saúde da população com enfoque em eficiência, que tenha bases informáticas integradas deve ser buscado. Segundo ela, a ideia seria formar as bases para mudanças na cultura de prestação de serviços de qualidade e valor para saúde. “O governo tem papel importante em saúde pública, pesquisa, vacina e tudo o que seja útil para o país em geral, mas o setor privado tem papel em inovação e isso é muito claro no Brasil. É necessário o eficiente uso de dados e gestão do paciente. Esse é o futuro pandêmico”, afirma a especialista.
Cooperação e coordenação. Segundo Evandro Tinoco, esses foram os grandes legados da pandemia em relação aos modelos hospitalares assistenciais. “No passado havia competição, mas a pandemia fez com que a pesquisa clínica conectasse esses hospitais e estimulasse a troca de conhecimentos e experiências”, disse o educador. Ainda segundo ele, houve o desenvolvimento do que chamou de resiliência organizacional e do esforço para que ninguém ficasse sem tratamento. A pandemia propiciou a mudança do modelo organizacional, que passou a se basear na gestão da interdependência ao trabalhar a holocracia como modelo de incorporação da diversidade. Evandro também destacou a importância das equipes de telemedicina, responsáveis por desafogar boa parte do sistema de saúde, e a importância da medicina familiar resolutiva de emergência no Brasil, como fundamentais para a superação do período no País.
Os desafios da pandemia também trouxeram legados positivos ao sistema e aos processos das organizações de saúde pelo Brasil. Rita Coli ressaltou que o período foi marcado por discussões e debates internos sobre processos que passaram a ser modernizados e melhorados com a prática de um cenário tão imprevisível quanto o que vivemos. As equipes de capacitação das instituições passaram a ter um papel muito mais próximo das demais equipes à medida que os treinamentos passaram a ser feitos, muitas vezes, de forma prática. Com isso, segundo ela, houve melhoria na capacitação dos profissionais e os processos internos ganharam agilidade de resolução, já que o tempo era um inimigo comum a todos. Rita ressaltou, ainda, a importância das equipes multidisciplinares nos cuidados aos pacientes. “Não falamos mais sobre um tipo de cuidado ou um tipo de modelo, mas sim de um modelo integrado entre todas as disciplinas e equipes multidisciplinares. Houve empoderamento das equipes” ressaltou a superintendente assistencial do Hcor.