O último trimestre de 2021 trouxe muito otimismo para a Saúde, graças ao avanço da cobertura vacinal contra a Covid-19 no País. Já naquela época, as taxas chegavam a 80-90% da população brasileira adulta com pelo menos a primeira dose da vacina aplicada e os idosos se preparavam para receber a terceira dose, para um reforço do imunizante. Como consequência, as internações hospitalares também caiam em percentual e todos os indicadores apontavam para a chegada do tão aguardado “começo do fim” da pandemia.
Até que apareceu a variante ômicron.
A nova versão da SARS-CoV-2, identificada em meados de novembro de 2021 na África do Sul, chamou atenção por sua elevada taxa de contágio. Sabíamos, portanto, que era uma questão de tempo até ela chegar por aqui – especialmente porque nenhuma política sanitária de barreira eficaz foi criada para contê-la.
Junte a isso as festas de fim de ano e suas aglomerações e chegamos a um momento em que as taxas de infecção por Covid-19 voltam a bater recordes no País. Hoje (07/02), enquanto escrevo esse texto, foram registrados 64 mil novos casos, mas semana passada (03/02) chegamos a bater recordes de quase 300 mil em 24 horas.
Só que enquanto a Covid-19 volta a assustar, outra epidemia dá as caras.
A falta de incentivo à vacinação contra a gripe nos últimos anos resultou neste momento ímpar em que a gestão hospitalar enfrenta uma pandemia e suas consequências enquanto o número de infectados pelo vírus Influenza H3N2 cresce, com pacientes também necessitando de assistência de Pronto-Atendimento e até internação.
Forma-se então a “tempestade perfeita” para um atendimento hospitalar que se encontra superlotado, fragilizado e com dificuldades de atender a mais essa demanda.
Lembrando que os profissionais de Saúde foram os primeiros a sofrer pelo alto contágio da ômicron e precisaram se afastar do cuidado ao paciente. E até mesmo a telemedicina, que nas demais ondas da Covid-19 foi fundamental para apoiar e evitar o excesso de procura por atendimento presencial no pronto-socorro, desta vez ficou superlotada, com serviços chegando a ter fila de espera de mais de 5.000 pessoas.
E mais: mesmo tido como uma cepa mais branda em seus sintomas, pessoas não vacinadas e com comorbidades continuam à mercê das piores consequências da doença e necessitando de toda a estrutura de UTI.
A saída para retomar a eficiência perdida está na Saúde Digital.
Especialmente porque o setor de Saúde não suporta mais uma nova parada e/ou cancelamento de seus procedimentos eletivos. É preciso então aproveitar desse momento em que nos encontramos, com 70% da população brasileira com o ciclo de vacinação completo e, portanto, condizente com uma menor taxa de hospitalização, e preparar o cenário para a continuidade da operação.
E isso deve acontecer em duas frentes distintas, cada uma delas com seu plano e ação:
Atendimento aos pacientes infectados Covid-19 e H3N2
Crie uma infraestrutura separada. E neste local atenda apenas pacientes com Covid-19, gripe e outras doenças respiratórias graves e que requerem atendimento de emergência apropriado.
Separe também as equipes. Um sistema de gestão pode ajudar a planejar melhor as escalas das equipes para que as mesmas pessoas prestem atendimento apenas a essa área de maior contágio.
Use a telemedicina para a triagem dos pacientes. Ela passa a ser a porta de entrada no hospital, com o profissional de Saúde verificando a distância as condições de saúde do paciente e passando as orientações necessárias sem que ele precise se expor no ambiente hospitalar.
Faça uma gestão de estoques eficiente: O alto volume de atendimentos foge da série histórica dos últimos meses e, por isso, requer um bom mapeamento sobre o que comprar, quando comprar e quanto tempo a compra vai durar, para que não faltem fármacos e outros insumos. E a tecnologia é capaz de identificar, por meio dos indicadores, o crescimento da curva de consumo [desvio padrão] para que as compras sejam feitas de forma racional, sem comprometimento do fluxo de caixa.
Ajuste a sua programação de leitos. Isso permite o direcionamento dos pacientes que necessitem de suporte de terapia intensiva para uma UTI específica para casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), garantindo segurança para o paciente e o profissional de Saúde que o atende.
Cuidado aos pacientes eletivos
Planeje a operação hospitalar de rotina. Não é mais saudável para a instituição continuar postergando o atendimento dessa alta demanda que foi reprimida na primeira e segunda onda da ovid-19. É chegado o momento de travar essa batalha ao mesmo tempo em que se continua com o enfrentamento da pandemia.
Volte a agendar cirurgias, exames e tratamentos. Em um ambiente separado dos pacientes infectados, já é possível retomar a agenda de cirurgias eletivas, tratamentos oncológicos, hemodiálise e exames diagnósticos.
Automatize a gestão de contas: Com o aumento da demanda, o uso da tecnologia permite que, com os mesmos recursos humanos existentes no backoffice, seja possível entregar uma produtividade maior na auditoria eletrônica para uma gestão inteligente das contas médicas.
Crie uma auditoria eficaz do faturamento: O aumento da quantidade de atendimentos vai refletir no aumento de guias e autorizações. Mas toda estratégia de retomada da operação hospitalar para a criação de receita pode ir por água abaixo se não houver a conferência final do faturamento a partir de tudo o que foi produzido durante o mês e das autorizações das operadoras de Saúde. E isso só é possível através da automação.
Naturalmente, todas essas ações vão se refletir em um aumento do custo assistencial, porque não é possível usar os mesmos recursos nessas duas áreas. Só que existe uma saída para produzir mais com os mesmos recursos: a tecnologia.
Com ela, a gestão hospitalar tem mais informações e recursos para resolver problemas e não deixar que eles se avolumem. Tudo isso no menor tempo para evitar que os erros aconteçam.
Sem ela, é como pilotar um voo às cegas.
Valmir Júnior, diretor da unidade hospitalar da MV.