Burnout dispara em meio a ambientes tóxicos e com falta de segurança psicológica

Pessoas mais resilientes, ou antifrágeis, possuem maior capacidade interna para suportar sistemas adoecidos. Essa foi uma das realidades apresentadas no 2º Summit Internacional de Segurança Psicológica, promovido pelo Instituto Internacional de Segurança Psicológica (IISP), realizado nos dias 14 e 15 de outubro, em São Paulo. No entanto, permanecer em ambientes prejudiciais pode acarretar sérios danos à saúde mental, como a Síndrome de Burnout – um esgotamento físico e emocional ligado ao trabalho – que quadruplicou entre 2020 e 2023. Segundo dados do INSS, foram 421 benefícios em 2023, um aumento de mais de 1.000% em relação a 2014.

De acordo com Patricia Ansarah, fundadora do IISP e idealizadora do Summit, essa realidade destaca a necessidade de promover uma cultura de segurança psicológica nas empresas, visando proteger os trabalhadores do desgaste emocional e físico. “Resiliência não deve ser confundida com a aceitação de ambientes prejudiciais. Permanecer em contextos tóxicos pode ter consequências graves para a saúde mental”, ressalta.

A médica integrativa Denise Tiemi Noguchi Maki, que também participou como painelista no evento, destaca que resiliência está na capacidade de se recuperar, e não na quantidade de pressão que uma pessoa suporta. Ela reforça, ainda, que pedir ajuda é um ato de coragem. “Pessoas com maior resiliência tendem a ser mais criativas, menos limitadas pelos desafios. Contudo, a resiliência também pode ser desenvolvida por meio da autoconsciência e do autoconhecimento”, comenta.

A médica Simone Nascimento, especialista em Saúde Mental Corporativa e painelista no evento, apontou que muitos casos de resistência, que posteriormente afetam a saúde mental, estão relacionados à busca por crescimento profissional. “Fatores práticos, como benefícios e oportunidades de progressão na carreira, fazem com que algumas pessoas suportem ambientes tóxicos por mais tempo”, explica. “Trabalhar e receber um salário atende às nossas necessidades mais básicas, como alimentação e moradia. Quando é preciso garantir isso, muitas vezes, a pessoa permanece em um ambiente prejudicial”, acrescenta.

Ela reforça que resiliência não significa suportar tudo e alerta que, quando muitas pessoas normalizam situações prejudiciais, o clamor por mudança se perde. “Se estamos em um ambiente onde todos, aparentemente, estão suportando, por que discutir uma mudança de clima? Ou a necessidade de implementar ferramentas de satisfação?”, questiona.

Sistemas incoerentes

Denise destaca que, embora muitas empresas afirmem que a saúde mental é uma prioridade, ainda prevalecem incoerências como cargas de trabalho excessivas, relacionamentos tóxicos e casos de assédio. Isso caracteriza o “wellbeing washing”, uma prática em que as organizações se preocupam mais em aparentar cuidar do bem-estar dos funcionários do que em realmente fazê-lo. “Na verdade, a segurança psicológica envolve ajustes nas expectativas, melhoria dos relacionamentos, feedbacks construtivos, escuta ativa e comunicação empática”, ressalta. “Não adianta falar de segurança psicológica se o que você recompensa é o workaholic”, completa.

Ainda neste contexto, Fatima Macedo, especialista em psicologia da saúde ocupacional e mediadora do painel, destaca o impacto da autoexigência, que leva muitas pessoas a aceitarem cargas de trabalho excessivas para atender às suas próprias expectativas ou às de uma organização. “Esse comportamento é comum na vida de muitos, especialmente no ambiente de trabalho, e acaba contribuindo para a perpetuação de sistemas adoecidos”, conclui.

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