“73% dos custos com demência são arcados pela família, e a maioria dos cuidados, prestados por mulheres”, aponta relatório

Parkinson and alzheimer female senior elderly patient with caregiver in hospice care. Old woman holding hand with doctor physician.

O Relatório Nacional sobre a Demência no Brasil (ReNaDe), do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, aponta que, no mínimo, 73% dos custos com o cuidado de pessoas com demência são arcados por familiares, amigos ou vizinhos, ao passo que, na maioria das vezes, as mulheres são as principais responsáveis por cuidar da pessoa com demência. Inclusive, muitas dessas mulheres precisam deixar de exercer atividade laboral remunerada para prestar os cuidados necessários ao familiar com demência.

A iniciativa inédita, via Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS), em parceria com o Ministério da Saúde, apresenta informações relevantes (necessidades de cuidado, custos, produção científica e investimento em pesquisa) para subsidiar o planejamento dos serviços de saúde no país.

De acordo com o último censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população geral brasileira aumentou 6,4%, enquanto o número de pessoas com idade igual ou acima de 60 anos cresceu 56%, ou seja, nove vezes mais. Em 2019, a Organização Mundial de Saúde apontou que mais de 55 milhões de pessoas viviam com demência no mundo, com projeções de atingir, em 2050, mais de 150 milhões de indivíduos. No Brasil, estima-se que, em 2019, 1,85 milhões de pessoas viviam com demência, e as projeções indicam que esse número triplicará até 2050.

Para o embasamento do relatório, foram entrevistadas 140 pessoas com demência e seus respectivos cuidadores. Constam do relatório informações sobre os avanços recentes no cuidado da pessoa com demência, a definição das necessidades de cuidado e os métodos utilizados para estimá-las, o perfil sociodemográfico da díade entrevistada e o levantamento de quais necessidades de cuidado que estão atendidas e quais não estão atendidas (tanto para a pessoa com demência, quanto para o seu cuidador). Foram entrevistadas pessoas com demência de todas as regiões do país e elas tinham como características: média de 81,3 anos; 69,3% eram mulheres; 22% estavam no estágio inicial da demência (CDR 1); 38%, no estágio moderado (CDR 2); 40%, no estágio avançado (CDR 3); 51,4% utilizaram, em algum momento, o serviço privado de saúde para a obtenção do diagnóstico; 42% não utilizavam nenhum tipo de medicamento para demência e dos que utilizavam, somente 15% retiravam a medicação gratuitamente no SUS”, conclui a epidemiologista e coordenadora do projeto.

Para a epidemiologista Cleusa Ferri, pesquisadora e coordenadora do Projeto ReNaDe no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, os transtornos relacionados ao envelhecimento, como as demências, se tornarão ainda mais comuns, e, consequentemente, será necessário atender as necessidades da população que vive com essa condição e de seus familiares. “Além de ser um desafio cada vez maior, nós precisamos aumentar as taxas de diagnóstico e melhorar o cuidado. No Brasil, temos cerca de 2 milhões de pessoas com demência, e 80% delas não estão diagnosticadas e de acordo com o nosso relatório, aquelas que estão diagnosticadas têm muitas necessidades não atendidas”.

O subdiagnóstico é um desafio mesmo para países com maior poder econômico, podendo estar relacionado ao desconhecimento sobre o tema e, consequentemente, o não reconhecimento de que o declínio cognitivo pertinente à demência não é próprio da idade. “Existe uma falta de informação até por parte dos profissionais de saúde, que muitas vezes não têm treinamento específico sobre demência, além da escassez de serviços que atendam adequadamente às necessidades das pessoas com demência e de seus cuidadores”, complementa Ferri.

Para mais informações sobre o relatório, basta acessar esse link

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