O uso de tecnologias que podem ser ajustadas de acordo com a necessidade de hospitais, municípios e planos assistenciais é uma das tendências para 2025 na área da saúde, especialmente para a atenção primária. Entre os principais resultados da inovação estão a economia, redução de idas ao pronto-atendimento, menor número de internamentos e, aliado ao atendimento humanizado, melhorias significativas na saúde de pacientes com doenças crônicas. Segundo o Vigitel 2023, cerca de 50% da população convive com doenças crônicas no Brasil.
Para que se tenha ideia, em Londrina, cidade da região Norte do Paraná, o uso de uma plataforma desenvolvida especialmente para o monitoramento de pacientes que utilizam o plano de saúde do Hospital Evangélico possibilitou uma redução em 81% no número de pacientes de alto risco que antes eram atendidos mensalmente, em um período de 18 meses.
Além disso, houve uma redução em 44% nos custos com atendimento de emergência de pacientes crônicos e em 44,5% nos custos com internamentos destes pacientes. A economia, em um período de 12 meses, somando ambos os serviços (emergência e internamento) foi de mais de R$2 milhões.
O uso da plataforma para gerenciamento de pacientes crônicos faz parte do Programa Viva Saúde – do Plano de Saúde Hospitalar – e que prevê atendimento domiciliar, presencial ou online para 1.736 pacientes com doenças como hipertensão, diabetes, doença pulmonar obstrutiva crônica, obesidade, depressão, problemas cardiovasculares, pessoas em idade avançada e outros. Todos os pacientes que participam do programa foram selecionados com a ajuda de uma plataforma exclusiva.
A tecnologia – chamada PGS/Nagis – começou a ser utilizada em janeiro de 2023 dentro do plano de Atenção Primária à Saúde (APS). Com ela, é possível identificar o número e a frequência de pacientes crônicos que passaram por atendimento no hospital, elencando os mais graves e sugerindo quais deveriam ser acompanhados preferencialmente por uma equipe multiprofissional, em um período mínimo de 12 meses. A adesão dos pacientes aos tratamentos propostos pela equipe do programa foi de 87,86%.
Entre os monitorados, após 18 meses, 81% tiveram redução de risco, 19,86% dos pacientes tiveram redução de Índice de Massa Corporal (IMC) e 19,58% dos pacientes com IMC acima de 30, considerada obesidade grave, conseguiram reduzir o peso e as doenças crônicas associadas.
O responsável pela implantação do sistema, o superintendente da Associação Evangélica Beneficente de Londrina (Aebel), que abrange o HE Londrina e o Plano de Saúde Hospitalar, Eduardo Bistratini Otoni, conta que é preciso inovar para tratar as pessoas. E as ferramentas utilizadas foram tecnologia e prevenção. “Em cima disso estruturamos equipes e iniciamos um projeto com 200 pacientes. Hoje, chegamos a mais de 1.700 pessoas e atingimos resultados econômicos e sociais nunca vistos”, afirma Otoni.
Ele explica que o raciocínio é lógico. “Quando a pessoa está doente o seu tratamento é mais caro. Se atuarmos preventivamente o tratamento tem menores custos e os pacientes têm uma redução dos seus sintomas . Além de tudo, trabalhar a prevenção é uma forma de engajar equipes médicas e pacientes”, reforça. Segundo Otoni, o número de consultas não diminuiu, mas o programa conseguiu a adesão dos pacientes ao tratamento, reduzindo também custos de alta complexidade. Outro importante resultado foi a sinistralidade junto a ANS que caiu 10% em apenas um ano.
Uma das pacientes que obteve resultados significativos com o Programa foi a guarda municipal Daiane da Silva Cardoso, de 37 anos. Após o nascimento do filho, com diagnóstico de autismo e deficiência visual, deixou de cuidar da própria saúde para cuidar do filho. “Ia muito no médico devido a dores na coluna e depressão”, conta.
Alguns anos depois foi apontada pela plataforma como uma paciente que deveria ser acompanhada. Entrou no programa em julho de 2024, com diagnóstico de pré-diabetes, artrose, fibromialgia e crise de ansiedade. Em sua primeira avaliação com a enfermeira contou que era sedentária, estava com sobrepeso e precisava melhorar a alimentação. “Eu comia todas as noites.Estava muito preocupada com o futuro e precisava de uma mudança abrupta de estilo de vida”, conta. Passou a fazer exercícios duas vezes por semana e, com suporte de nutricionista, aderiu a reeducação alimentar. Em apenas três meses já havia perdido 9 quilos. “Foram três meses que mudaram minha vida. Emagreci quase 10 quilos, não estou mais tomando remédio para diabetes. É uma vitória”.