Debate sobre Burnout entre médicos é fundamental e urgente

Muito se falou do esgotamento físico e mental dos médicos na época da pandemia de covid-19. Em meados de 2020, por exemplo, em meio à crise de saúde pública, a Medscape, site que fornece acesso a informações médicas, fez um levantamento com 2.475 médicos brasileiros, no qual constatou que um em cada 10 médicos estavam pensando em abandonar a carreira por conta do que vinha enfrentando em suas profissões naquela época. O fato é que, mesmo passada a pandemia, a rotina médica se caracteriza pelo estresse constante, sendo a Síndrome de Burnout – distúrbio psíquico relacionado ao trabalho, que envolve exaustão emocional, despersonalização e sensação de redução de realização pessoal – aparentemente uma consequência inevitável.

A médica intervencionista em dor e autora do livro “Existe vida além da dor”, Amelie Falconi, destaca ser urgente tratar desse assunto entre a classe médica e demais profissionais de saúde, ainda mais sabendo que o esgotamento costuma ser normalizado por muitos deles. Segundo ela, no mundo da medicina, frases como “está tudo bem” e “é assim mesmo, faz parte” ecoam incessantemente nos corredores dos hospitais e consultórios. “Tentamos nos convencer de que estamos lidando bem com a pressão, mas a verdade é que estamos todos exaustos, lutando para manter as máscaras de profissionalismo intactas, enquanto nossa própria saúde mental desmorona silenciosamente”, diz.

Debater o esgotamento físico e mental dos médicos é de suma importância, aliás, conforme Amelie, para toda a sociedade, pois os prejuízos da Síndrome de Burnout tendem a extrapolar àqueles inerentes à saúde do profissional. Segundo a médica intervencionista em dor, o esgotamento médico também fragiliza o cuidado ao paciente, levando à baixa de qualidade, ao aumento de erros médicos, a prazos de recuperação mais longos e à menor satisfação do paciente. “Além disso, com médicos exaustos, o próprio sistema de saúde fica sobrecarregado, o que reduz a produtividade médica, aumenta a rotatividade de médicos, diminui o acesso ao paciente e aumenta os custos”, explica.

Fatores de que levam ao Burnout em médicos

Diante dos efeitos do Burnout muitos profissionais costumam se culpar atribuindo a traços de personalidade o fato de terem desenvolvido o distúrbio. Sob esse prisma, idealismo, perfeccionismo e um forte senso ético, poderiam estar associados ao problema, pois fariam alguns médicos mergulhar profundamente no trabalho e dedicar-se a ele até não aguentarem mais.

Contudo, ressalta a autora best-seller, o fato de grande parte dos médicos lutarem contra o esgotamento sugere que as suas origens não são atribuíveis exclusivamente a traços de personalidade. “Cargas de trabalho excessivas (por exemplo, longas horas de trabalho, chamadas noturnas frequentes e alta intensidade de trabalho), conflitos entre a atuação médica e a família, perda de apoio dos colegas e deterioração no controle, autonomia e significado no trabalho têm sido associados ao esgotamento entre os médicos”, afirma.

As causas do Burnout, destaca Amelie, costumam ser distintas conforme as atribuições exercidas pelos médicos. Por exemplo, com relação àqueles que desempenham práticas de atenção primárias, os principais fatores associados ao esgotamento dos médicos são: pressão de tempo e percepção de que são valorizados apenas pela produtividade; ambiente de trabalho caótico e ineficiente que os utiliza de maneira inapropriada para realizar tarefas administrativas; e falta de alinhamento com executivos em relação a valores, missão propósito e remuneração.

Já para os cirurgiões, afirma a médica, o desenvolvimento da Síndrome de Burnout está atrelada a fatores como: escolha da subespecialidade (maior risco entre cirurgiões de trauma, urologistas, otorrino, vascular e geral); remuneração baseada inteiramente no faturamento/produtividade; filho mais novo com idade de 21 anos ou menos; cônjuge que atua como profissional de saúde; elevado número de anos de prática; e rotina estressante de trabalho, caracterizada pelo excesso de noites de plantão e de horas trabalhadas semanalmente.

Sexo e idade também são fatores que estão associados a maiores riscos de desenvolvimento da Síndrome de Burnout em médicos, segundo Amelie. “Alguns estudos descobriram que as médicas têm chances aumentadas de 20% a 60% de sofrerem do distúrbio”, diz. Por sua vez, ressalta a médica, os médicos com menos de 55 anos correm mais do dobro de risco de desenvolverem Burnout do que aqueles com mais de 55 anos.

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