A ONG Renovatio, o Instituto Suel Abujamra e o Instituto Verter anunciam uma aliança estratégica para potencializar o atendimento gratuito oftalmológico de pessoas em situação de vulnerabilidade social e econômica. Segundo as entidades, a união resultará na maior organização social de saúde visual da América Latina. O anúncio oficial acontece nesta terça-feira, 23, em São Paulo.
Em comum, as instituições têm o objetivo de democratizar o acesso à saúde visual, levando atendimento de qualidade à população em situação de vulnerabilidade social. Segundo Ralf Toenjes, fundador da Renovatio, a união das organizações potencializará o atendimento oftalmológico da população mais vulnerável no país. “Para se ter uma ideia da alta demanda, uma das três maiores solicitações de especialidade médica do Sistema Único de Saúde (SUS) é a oftalmologia. Ou seja, há uma clara urgência em ampliarmos o atendimento, algo que será possível com essa parceria de três organizações que atuam com a temática”, afirma.
A Renovatio atende por ano mais de 100 mil pessoas, com exames, consultas e doação de óculos; o Instituto Suel Abujamra — que se dedica ao atendimento 100% SUS — assiste a cerca de 30 mil pessoas mensalmente, oferecendo desde consultas básicas até cirurgias de alta complexidade. O Instituto Verter, por sua vez, tem como principal programa o Projeto Ver na Escola, que atende desde bebês em creches municipais de São Paulo até adolescentes de escolas públicas do município. Pelo programa já passaram cerca de 50 mil alunos e foram doados cerca de cinco mil óculos.
De acordo com Toenjes, o Relatório Global em Saúde Visual — vinculado à revista científica The Lancet — aponta que saúde visual de má qualidade aumenta o risco de mortalidade em 2,5 vezes; os óculos de grau podem reduzir as chances de reprovação em 44%; crianças com perda de visão são de duas a cinco vezes menos prováveis de estar em uma educação formal em países de baixa e média renda; e prover óculos pode aumentar em 22% a produtividade no ambiente de trabalho. “Ademais, o relatório comprovou que mulheres, pessoas idosas, pessoas com deficiências, povos indígenas e refugiados estão entre os mais afetados pela perda de visão, sendo que 73% das pessoas com problemas de visão estão acima dos 50 anos de idade”, aponta.
Para combater esse cenário, a aliança formada por Renovatio, Instituto Suel Abujamra e Instituto Verter cria uma cadeia integrada de ações sociais em todo o país – trazendo maior visibilidade, conhecimento e entendimento do problema – com o objetivo de propor um novo olhar para a política pública de saúde visual. “Com ações integradas, buscaremos viabilizar uma maior expansão do atendimento de média e alta complexidade pelo país com maior eficiência e abrangência por meio de parcerias também com o Sistema Único de Saúde.
“Em resumo, a Renovatio e o Verter têm experiência descentralizada em nível nacional de atendimento primário em oftalmologia e o Instituto Suel Abujamra tem histórica experiência no atendimento de alta e média complexidade, conseguindo assim completar a jornada de atendimento do paciente”, detalha Caio Abujamra, presidente do Instituto Abujamra.
Cenário do problema oftalmológico do Brasil
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que 90% dos casos de cegueira no mundo ocorrem nas áreas pobres e que 60% deles são evitáveis se diagnosticados e tratados precocemente. Com base nesses dados, em 2018, no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), havia 1.577.016 pessoas cegas no país – aproximadamente 0,75% da população nacional. A análise aponta que 90% dos casos estão na faixa da população em pobreza e extrema pobreza. Assim, pode-se inferir que a falta de acesso à saúde oftalmológica é preponderante para que haja esse impacto negativo em uma grande parcela da população do país.
Mais dados:
– 71% dos municípios no Brasil não têm médico oftalmologista;
– 84 % dos pacientes da fila do SUS de oftalmologia são para refração e 16% dos pacientes apresentam patologias severas como glaucoma, catarata e ambliopia;
– 45% dos pacientes aguardam mais de seis meses e 25% mais de um ano para consultas oftalmológicas; e
– 22,9% da taxa de evasão escolar no Brasil tem como causa problemas visuais.