FoRC obtém resultados promissores com suplemento contra o câncer de intestino

Uma solução para potencializar as chances de cura do câncer de intestino ou câncer colorretal e prevenir a doença foi encontrada nos resíduos da indústria de sucos e nas frutas inadequadas para o consumo. Pesquisadores do Centro de Pesquisas em Alimentos (Food Research Center – FoRC) desenvolveram um suplemento à base de pectinas, polissacarídeos que constituem as fibras de diversas frutas e verduras. Em estudos com células tumorais e em animais de laboratório (ratos e camundongos), o produto foi capaz de reduzir em até 70% o crescimento das células de câncer colorretal e em até 50% o número de lesões precursoras da doença (pré-neoplásicas).

O suplemento poderá ser usado como terapia adjuvante contra o terceiro câncer mais comum entre brasileiros, com 44 mil casos/ano, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Em conjunto com a quimioterapia, a radioterapia, e outros tratamentos, tem potencial para ampliar as chances de cura da doença. Ainda segundo o INCA, em estágio avançado, esse tipo de câncer mata 80% dos pacientes. De cada cinco pacientes, apenas um sobrevive.

As pectinas usadas no suplemento são extraídas de resíduos da indústria de sucos, como casca e albedos (parte branca e fibrosa das frutas) de laranja, limão e maracujá, e de jabuticabas e mamões — verdes ou maduros — inadequados para o consumo. “Em laboratório, nós extraímos as pectinas e as modificamos quimicamente. Com isso, aceleramos a produção desses polissacarídeos, mantendo a maior parte de suas propriedades terapêuticas”, explica o coordenador da pesquisa João Paulo Fabi, pesquisador do Centro de Pesquisa em Alimentos (Food Research Center — FoRC) e professor do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP).

Os estudos apontaram que as pectinas agem contra o câncer de intestino de três maneiras diferentes: “Elas promovem a inibição da galectina-3, uma proteína dos tumores que, quando encontrada em excesso, tem o potencial de fazer com que eles cresçam e se espalhem por outros órgãos, levando à metástase; interagem com receptores do sistema imune inato (Toll-like receptors — TLRs), provocando uma modulação do sistema imune que resulta na redução no número de lesões precursoras da doença; e modulam a microbiota intestinal, o que leva a um crescimento de bactérias com potencial benefício, além de gerar subprodutos de fermentação com efeitos anticâncer, como os ácidos graxos de cadeia curta”, explica Fabi.

Os dois primeiros efeitos estão vinculados ao combate à doença, enquanto o terceiro está relacionado com a prevenção. Os primeiros efeitos foram observados nas células tumorais e posteriormente nos modelos de ratos e camundongos modificados para manifestar o câncer. “Por conta dessa relação com a microbiota intestinal, podemos estar diante de outros efeitos benéficos para a saúde humana, como a diminuição das doenças crônicas não-transmissíveis como um todo, o que vai desde a hipertensão arterial até o diabetes e a asma. Essas relações serão exploradas com mais ênfase em etapas futuras da pesquisa”, complementa.

Nos testes em células e em animais, o suplemento não apresentou toxicidade. O próximo passo é a realização de ensaios clínicos, em humanos. Enquanto isso, os pesquisadores trabalham para desenvolver formas de aumentar a produção, visando a modificação das pectinas em escala semi-industrial.

Fabi destaca também a importância da pesquisa para a criação de um novo mercado. “Uma inovação como essa fortalece a economia circular, pois cria uma cadeia nova de produtos e gera empregos em um contexto totalmente novo— a partir de resíduos e frutas que seriam descartados ou desperdiçados”.

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