No primeiro mês do ano, muitas vezes temos o costume de refletir sobre nossas vidas, avaliando relações, comportamentos e decisões. Por conta de todo esse momento de reflexão e a possibilidade de traçar novos caminhos diante da transição para um novo ano, o mês deu nome à campanha “Janeiro Branco”. Criado há 10 anos, o movimento visa impulsionar a conscientização da saúde mental e emocional dando luz a problemas que atingem diretamente ao menos 30% da população mundial, segundo dados da OMS.
Pensando no mercado de trabalho, por muito tempo o bem-estar era tratado como sinônimo de grandes salários. No entanto, este cenário mudou bastante nos últimos anos e, hoje, para manter os colaboradores motivados e satisfeitos, as empresas precisam ir além, promovendo ambientes verdadeiramente saudáveis e colaborativos.
O foco na saúde mental no local de trabalho é reflexo de uma tendência global, em que empresas estão cada vez mais conscientes da importância e impactos que o cuidado emocional pode causar, tanto no âmbito profissional quanto no pessoal de seus funcionários. Prova disso são os números. De acordo com um estudo da Gallup, companhias com funcionários felizes têm 50% menos acidentes laborais. Já uma pesquisa da Harvard Business Review revelou que colaboradores satisfeitos são 31% mais produtivos, 85% mais eficientes e 300% mais inovadores.
Um dos setores que lidera essa discussão no Brasil hoje são as startups. Responsáveis por trazer inovações e novas tendências para o mercado, muitas dessas corporações já adotam diferentes estratégias visando potencializar o ambiente de trabalho a partir de ações de bem-estar para os colaboradores.
Uma dessas empresas é a Invenis, plataforma de ferramentas jurídicas que tem como propósito ajudar a resolver os litígios no Brasil. Adotando a chamada gestão descentralizada, modelo que prega a extinção da pirâmide hierárquica tradicional, a companhia permite que os profissionais se sintam livres para cumprir as atividades que consideram confortáveis, além de dar autonomia para que eles possam tomar decisões que julgarem necessárias dentro de sua área de atuação.
De acordo com Mateus Bombig, cofundador da startup, a opção pelo modelo estimula que cada profissional consiga proativamente identificar problemas, necessidades e, consequentemente, ter liberdade para tomar as decisões. “Uma coisa é a empresa assumir que sabe como oferecer bem-estar aos colaboradores. A outra é entender que cada funcionário terá necessidades diferentes e próprias. Preferimos moldar nossa cultura para entregar liberdade e autonomia para que as pessoas do time possam gerir o próprio bem-estar”, afirma.
Como consequência, a Invenis promove um ambiente de trabalho mais colaborativo e alinhado, reduzindo a pressão sobre sua equipe e, por conseguinte, contribuindo para prevenir o surgimento de burnout e outras doenças de ordem mental devido ao estresse de trabalho. Adicionalmente, a empresa mantém uma taxa de retenção de talentos significativamente superior à média de mercado. Enquanto o Brasil, em 2023, registrou uma média de rotatividade de cerca de 56%, de acordo com um estudo conduzido pela Robert Half, a legaltech ostenta uma taxa de 18,2%.
Jornadas flexíveis
Ainda no contexto da busca por modelos de trabalho menos estressantes, uma das opções que mais cresce no país hoje são os chamados trabalhos sob demanda. Tal modalidade permite que os profissionais ajustem seus compromissos de acordo com a sua disponibilidade no momento, proporcionando maior autonomia na gestão do tempo e responsabilidades, o que contribui para aliviar a pressão e promover a saúde mental dos profissionais.
Segundo Thales Zanussi, fundador e CEO do Mission Brasil, startup referência em digital outsourcing e staff on demand no Brasil, ao procurar por serviços sob demanda, os profissionais evitam a enorme pressão e rigidez de horários dos empregos tradicionais. “Você não tem hierarquia, horário fixo, uma quantidade definida de atividades que precisa fazer. Tudo isso não apenas reduz o estresse relacionado a jornadas extenuantes, mas também permite que os trabalhadores organizem a rotina de acordo com as preferências e ritmo biológico, gerando maior harmonia entre vida pessoal e profissional”, destaca.
Assim, esse novo modelo ocupacional não apenas atende à crescente necessidade de flexibilidade no cenário profissional, mas também se revela uma ferramenta eficaz na promoção da saúde mental dos colaboradores, criando um ambiente de trabalho mais adaptável e centrado no bem-estar individual. Não é à toa, portanto, que este mercado deve atingir a marca de US$ 1,1 bilhão (R$ 5,7 bilhões) até 2032, conforme projeção publicada pelo Future Market Insights.
Mente e corpo são um só
Outra startup que tem atuado de maneira direta na conscientização da população sobre a importância do cuidado com a saúde física e mental é a TotalPass. Uma das principais soluções de saúde integrada do Brasil no âmbito corporativo, a companhia tem incentivado a mudança de hábitos ao facilitar o acesso de colaboradores de milhares de empresas a academias e estúdios por todo o país.
De acordo com Jésse Ramos, profissional de educação física da marca, o cuidado com o corpo é uma das ações mais eficazes e fundamentais na busca pelo bem-estar mental. “Não podemos pensar na saúde física e mental como duas esferas separadas em nossa vida. Isso porque o corpo e a mente estão conectados e, se um não funciona, o outro tende a desestabilizar”, relata.
Não só isso, o especialista alerta ainda que a prática de atividades físicas com regularidade influencia diretamente também na produtividade do profissional. Conforme uma pesquisa conduzida pela Universidade de Bristol, no Reino Unido, durante os dias de treinamento, 21% dos profissionais avaliados demonstraram um poder de concentração aprimorado, 41% exibiram maior motivação para o trabalho, enquanto 25% conseguiram concluir suas tarefas antes do previsto. “Ao oferecer mais qualidade de vida, os colaboradores se sentem mais acolhidos, visto que a empresa mostra que se preocupa com o seu bem-estar, tanto dentro quanto fora da organização”, conclui.
Meditação também pode ser aliada na redução de ansiedade
Pensando em controlar os sintomas de ansiedade, especialistas da Harvard Medical School recomendam a prática da meditação, além do acompanhamento médico. Jonas Masseti, acharya e fundador do Vishva Vidya, referência nos estudos e vivências da cultura védica, explica que a doença está muito ligada ao estresse do dia a dia.
“Assim como na campanha Janeiro Branco, a cultura védica, apesar da ancestralidade, dispõe de ferramentas de curto e longo prazo para lidar com as situações estressantes da atualidade”, afirma Masetti. “Ao meditar, somos capazes de suspender temporariamente nossas mentes dos atritos emocionais, dando espaço para que possamos ver os problemas na sua real dimensão, possibilitando assim uma serenidade natural do entendimento da ordem que conecta as situações”, completa.