Instituições de saúde implementam Robô Laura para dar mais segurança ao paciente

A combinação entre inovações tecnológicas e avanços na medicina está inaugurando uma nova era no setor da saúde. Em todo o mundo, a Digital Health está oferecendo novas formas de monitorar pacientes, gerenciar processos, facilitar diagnósticos, otimizar recursos e tornar o atendimento mais personalizado e preciso. Brasileiros de Curitiba (PR) desenvolveram a Laura, o primeiro robô gerenciador de riscos do mundo que usa tecnologia cognitiva para prevenir mortes por Sepse, quadro de infecção generalizada responsável por 25% das taxas de ocupação de leito em UTIs brasileiras, segundo o Instituto Latino Americano de Sepse (ILAS).

O Hospital Nossa Senhora das Graças, na capital paranaense, foi o primeiro do país a adotar o Robô Laura. “Nós sempre buscamos inovar. Quando veio a ideia da Laura e vimos o quanto o projeto é inovador, não tivemos dúvidas. A Laura automatizou nosso protocolo de Sepse e melhorou os processos internos, o que se reflete em uma assistência mais eficiente, mais segura e com menos custos, tanto para o hospital, quanto para a família do paciente”, conta o diretor executivo da instituição, Flaviano Feu Ventorim.

No fim de 2018, a revista científica Research on Biomedical Engineering publicou os resultados do primeiro ano de implantação do Robô Laura no Hospital Nossa Senhora das Graças. Houve uma redução expressiva no tempo médio de atendimento, de 305 para 280 minutos. Em relação ao tempo até a prescrição de antibiótico a partir do primeiro sinal identificador de infecção, com ou sem sepse, passou de 390 para 109 minutos, em média. “Não vejo a área hospitalar sem avançar na tecnologia a curtíssimo prazo. Para o hospital, assim como para qualquer empresa que tem necessidade de melhorias em diferentes processos, quando mais inovação melhor”, completa Ventorim.

Em Curitiba, a inteligência artificial também funciona no Hospital Erasto Gaertner, referência nacional no tratamento clínico e cirúrgico de pacientes com doenças oncológicas. “O Erasto sempre foi pioneiro em inovação, não havia como conhecer o Robô Laura e não querer implantar, sobretudo na área de Oncologia, que precisa de monitoramentos mais técnicos e precisos”, afirma o superintendente do Hospital Erasto Gaertner, Adriano Rocha Lago. De acordo com ele, a instituição mantém por dia entre 120 e 150 pacientes internados e monitorados pela Laura.

Vidas salvas

Na Santa Casa de Londrina, o Robô Laura foi implantado em setembro de 2018. Nos quatro quatro primeiros meses de funcionamento, foram emitidos 545 chamados na Unidade 3 – setor piloto de instalação e onde são internados os pacientes com quadros mais graves. Desses, 88% precisaram de intervenção da enfermagem e 32% de intervenção médica. A atuação da tecnologia, nesse período, refletiu na redução de 50% dos óbitos no setor, comparando-se com o mesmo quadrimestre do ano anterior. Foram cinco óbitos no setor nestes meses de 2018 e 10 óbitos em 2017. Os dados excluem os pacientes paliativos. Desde outubro, a Laura está presente em todas as unidades de internação da Santa Casa, exceto UTIs e pronto-socorro; monitorando – em maior parte – pacientes originários do Sistema Único de Saúde (SUS).

“O conhecimento sobre a Sepse é pouco difundido na população. Muitos não sabem o que é e quando chegam ao pronto-socorro pode ser tarde demais. A cada hora que atrasamos o início do antibiótico, aumenta em 7% a chance de mortalidade. Por isso a implantação da tecnologia do Robô Laura faz tanta diferença. Tomar medidas precoces é fundamental para aumentar as chances de sobrevida”, afirma o médico infectologista da Santa Casa de Londrina, Walton Tedesco, que também é membro da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar na instituição e supervisor da residência clínica hospitalar.

Reflexos na enfermagem

“Para nós, a Laura foi muito positiva porque trouxe um start que ainda não tínhamos. Depois da implantação, o olhar e a comunicação da equipe de enfermagem melhoraram muito”, afirma a enfermeira do Hospital Ministro Costa Cavalcanti (HMCC), em Foz do Iguaçu (PR), Denise Pesamosca. Segundo ela, o uso da inteligência artificial fez com que o número de pacientes graves caísse 20%. “O alerta faz com que a gente trate o paciente antes do quadro piorar. É tudo mais rápido, o que gera condições de melhores tratamentos”, explica.

A influência no desempenho das equipes de enfermagem está, inclusive, sendo pesquisada no Departamento de Informática Biomédica de Harvard, em um projeto de pós-doutorado elaborado pela pesquisadora Luciana Schleder Gonçalves, também mentora da equipe técnica e de pesquisa da Laura.

Expansão

Em 2019, o Robô Laura deve chegar a hospitais de outros estados. Um exemplo é a Santa Casa de Porto Alegre, que receberá monitoramento em dois mil leitos. A primeira instituição de saúde fora do Paraná a fazer a implantação do sistema para dar suporte às decisões clínicas foi o Hospital Márcio Cunha, pertencente à Fundação São Francisco Xavier (FSFX) e localizado em Ipatinga (MG). “A Fundação sempre buscou inovações tecnológicas para melhorar os processos assistenciais em duas dimensões: qualidade e mais eficiência, no sentido de usar da melhor maneira os recursos disponíveis. Já percebemos o impacto positivo que a implantação gerou na diminuição de mortes e dias de internação”, afirma o superintendente corporativo de estratégia e inovação, Josiano Gomes Chaves.

De acordo o diretor de tecnologia e cofundador da Laura, Cristian Rocha, novos algoritmos baseados em redes neurais e memória estão sendo criados para otimizar ainda mais os resultados positivos que estão sendo alcançados nos hospitais. “A ideia é que os alertas sejam ainda mais rápidos para reduzir o número de mortes por Sepse. Atualmente, a Laura está conectada a 1,2 milhão de pacientes por ano e consegue reduzir a mortalidade por sepse grave de 30% para 22%”, finaliza.

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