Tecnologia a serviço da saúde: por que empresas devem investir no acesso ao mundo digital

Há pouco tempo, era impensável que o setor de saúde fizesse grandes investimentos em tecnologia: em 2013, apenas 30% dos médicos usavam registros digitais de seus pacientes e, em 2011, menos da metade deles utilizava a tecnologia para armazenamento de protocolos de tratamento. Hoje, as projeções para o uso da tecnologia no setor se inverteram radicalmente. De acordo com estudo da Bain & Company, a estimativa é que em dois anos 93% dos médicos adotarão os registros médicos digitais, e 97% deles terão acesso eletrônico para apontar protocolos de atendimento. Para completar, os investimentos em saúde digital quadruplicaram nos últimos anos, atingindo mais de US$ 5 bilhões em 2014.

Diante dessas projeções, é fácil pensar que as companhias do setor já têm uma abordagem preestabelecida e estão surfando na onda da inovação. Essa não é, porém, uma constatação verdadeira: mesmo com a rapidez, facilidade e efetividade da tecnologia tanto na busca como no desenvolvimento e comercialização de medicamentos, muitas empresas ainda estão engatinhando no mundo digital, principalmente por não saberem onde começar a investir na própria modernização ou quais são os requisitos digitais necessários para sobreviverem ao futuro.

Assim, surge a questão: afinal, como as empresas do setor podem se beneficiar dos avanços do mundo digital e maximizar seus lucros? Para a Bain&Company, a chave do sucesso está na coleta dos chamados “dados do mundo real”, ou seja, aperfeiçoar a coleta de informações de pacientes e potenciais clientes. De acordo com a consultoria, apesar de já existir a consciência da importância de ferramentas que proporcionem avançadas análises de dados, ainda há um bom caminho a trilhar quanto à obtenção dessas informações. Nesse sentido, buscar a adoção de registros médicos eletrônicos e plataformas de relatórios de pacientes pode ser um excelente ponto de partida.

Ainda assim, alguns players podem ficar reticentes. Afinal, se muitos já têm parcerias com clínicas médicas para obtenção de dados, por que deveriam investir em sua captação por conta própria? Bem, o estudo da Bain&Company traz uma ligeira motivação financeira: as dez maiores companhias poderiam agregar, cada uma, US$ 1 bilhão anualmente  ao próprio valor de mercado se tomassem essa iniciativa.

Contudo, caso se sintam motivadas a adotar a análise de “dados do mundo real” como um procedimento interno, as companhias ainda têm de aperfeiçoar a interação online com o cliente, aponta a consultoria. Nesse sentido, algumas iniciativas já estão sendo testadas, como o desenvolvimento de comunidades online ao redor da educação de pacientes e a listagem eletrônica deles para clínicas médicas. O importante, de acordo com o estudo, é buscar cada vez mais uma experiência satisfatória, rápida e efetiva para o consumidor. E isso somente é possível com a construção e o aperfeiçoamento de algumas ferramentas, como o acesso às mídias sociais, habilidade de processar dados complexos e análises de risco, por exemplo.

É importante destacar que essas duas estratégias são as principais quando o quesito é aumento de produtividade, mas não são as únicas com as quais as companhias devem se preocupar: de acordo com a Bain&Company, há uma média de 20 a 40 habilidades com as quais as empresas devem se preocupar ao buscar a modernização. Nesse sentido, outras dicas que a consultoria dá para quem deseja se tornar um verdadeiro precursor digital são: fomentar parcerias; construir ou adquirir a habilidade de reunir, estruturar e analisar dados; investir em uma abordagem de “teste e aprenda”; criar uma incubadora corporativa de saúde digital; adotar um pensamento empresarial que fuja dos retornos de curto prazo; e traçar uma estratégia digital para apoiar a estratégia corporativa.

Portanto, investir em análise de dados e proporcionar uma experiência de compra cada vez mais satisfatória para o consumidor são etapas fundamentais para garantir a expansão da indústria farmacêutica por meio da tecnologia. Não é uma tarefa fácil, principalmente se considerarmos o jogo de cintura necessário para conciliar as oportunidades digitais com os princípios e valores das companhias. Ainda assim, vale a pena topar o desafio – tendo em vista que os benefícios de uma gestão digital eficiente podem extrapolar a web e criar resultados importantes no mundo real, como a melhora da transparência com os consumidores e fornecedores, além da possível redução de capital humano e remodelação de previsões, por exemplo.

Bernardo Sebastião, sócio da Bain&Company.

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