O gasto de saúde projetado para 2020 está estimado para atingir US$ 8,87 trilhões. Os países emergentes e de baixa renda serão os principais responsáveis pela expansão dos serviços de saúde. No Brasil, a perspectiva que passe de 9% do PIB atualmente para 25% em 2030. Esses foram alguns números divulgados por Jeff Plentz, presidente do techtools group, especialista em investimentos de fundos de venture capital e private equity, no painel desafios que os empreendedores devem conhecer para ter sucesso no desenvolvimento de seus projetos, que participou nessa quarta-feira, 22, em painel sobre os desafios que os empreendedores devem conhecer para ter sucesso no desenvolvimento de seus projetos de health techs.
Uma das principais recomendações do executivo às startups de saúde é que desenvolvam seus projetos dentro de uma perspectiva global, pois o mercado de saúde é tradicional e globalizado com grandes empresas multinacionais que atua há muitos anos no setor.
A opinião é corroborada pela Dra. Jeane Tsutsui, diretora executiva de negócios da marca Fleury Medicina e Saúde, acrescentando que elas devem se apoiar em parcerias com as grandes instituições que podem ajudá-las com laboratórios, testes de viabilidade, segurança do paciente, entre outros recursos. Ela cita como exemplo a parceria que os Laboratórios Fleury fez com startup Onkos Diagnósticos Moleculares, que por sete anos fez testes de genômica, com apoio do Hospital de Câncer de Barretos e a Universidade do Maranhão, que é capaz de caracterizar e classificar, por meio de técnicas avançadas de Inteligência Artificial, casos de tumores metastáticos considerados até então desconhecidos. Hoje os testes estão disponíveis em todo o país através do envio de um kit e aquisição pelo e-commerce. O Fleury também está investindo no fundo israelense OurCrowd que lançou o Cognitiv, um fundo global especializado de US$ 100 milhões focado em empresas em estágio inicial que aproveitam inteligência artificial, machine learning, IoT, robótica e manufatura digital para se tornarem líderes do amanhã.
Thiago Julio, gerente de inovação aberta do Grupo DASA e curador de Healthcare, Biotech & Life Sciences do Cubo, disse que o número de startups de saúde está crescendo rapidamente, motivo pelo qual o Cubo criou um segmento para apoiar as health techs em sua nova sede no bairro da Vila Olímpia, em São Paulo. Segundo pesquisas do site Distrito, existem 286 startups em 10 categorias na área de saúde.
Health Techs
Em sua 9ª edição, o Fórum de Saúde Digital promoveu a apresentação de diversas health techs com diferentes propostas de negócios e estágios de maturidade.
BEABA
AlphaBeatCancer é um aplicativo que educa pequenos pacientes oncológicos durante todo o tratamento do câncer, criado por Simone Mozzilli, publicitária, sobrevivente de um câncer raro e mestranda da USP. Hoje, 300 mil crianças são detectadas com câncer no mundo.
Ele desenvolvido em parceria entre o Instituto Beaba e o estúdio Mukutu, premiado como melhor iniciativa em saúde e bem-estar pelo WSA/ONU em 2018; escolha da audiência no Indie Prize / Casual Connect 2018 California; e finalista na categoria jogos com maior impacto no Games4Change. Já foram feitos mais de 13 mil downloads do app.
Ele melhora a qualidade de vida das crianças e suas famílias, como orientações associando conhecimento com fatores humanos para educar e capacitar. Ele ajuda os médicos no tratamento, pois a criança imita as instruções das figuras e faz o mesmo. Isso diminui a quantidade de anestesia, de tempo, de trabalho para os profissionais e mais pacientes são atendidos, economizando para o hospital, governo ou plano de saúde. Isso tudo apenas fornecendo informação adequada.
Como ele está sendo traduzido em vários países, Simone busca, além de recursos financeiros, apoio de profissionais de saúde para que as orientações do Beabá sejam feitas de maneira adequada para a cultura dos diferentes países.
TECHBALANCE
Fruto do trabalho da fisioterapeuta Fabiana Mendes de Almeida, especialista em Traumatologia e Ortopedia e Biomecânica (USP), que trabalha com idosos há mais de 10 anos, principalmente com a reabilitação de pós-operatório de prótese de quadril do idoso, o Techbalance tem como principal objetivo prevenir a queda postural do idoso, uma das maiores causas de morbimortalidade senil, responsável por 95% das fraturas de quadril e por mais da metade das internações hospitalares por lesão, com custo associado de mais de US$50 bilhões, anualmente, previsto para ultrapassar os USD$240 bilhões de dólares até 2040.
A solução impacta na qualidade de vida dos idosos e contribuir com a gestão inteligente de recursos, através de uma plataforma digital escalável e de baixo custo, que se constitui de aplicativo e sensor wearable colado na pelve do idoso para leitura e predição dos movimentos de marcha e equilíbrio, nos serviços de triagem de risco e tratamento preventivo no ambiente clínico e monitoramento domiciliar com vibração do sensor e alarme por mensagem, antes da queda ocorrer.
O Techbalance tem um forte potencial de mercado, pois 10% da população brasileira é formada por idosos atualmente (20,9 milhões); 30% deles cai todos anos (6,97 milhões) e desse total 2,7% se internam (188.190 idosos). Ela já tem uma parceria com Amil e algumas empresas de home care, e espera investimento para atender esse potencial de mercado.
DATAPROBE
A identificação de crônicos e análise de comportamento pela utilização de recursos da saúde, permitem o planejamento, execução e a gestão de ações pró-saúde. Dataprobe é um conjunto de soluções baseado nos recursos de uma plataforma tecnológica voltada para análise e predição de informações referentes à saúde ocupacional.
Segundo o Ministério da Saúde MS 40% da população brasileira adulta tem ao menos uma doença crônica; o número de diabéticos cresceu 61,8% em 10 anos (2006-16); 300 mil mortes por ano são causadas pela hipertensão arterial; pelos números da OMS – Organização Mundial da Saúde 23 milhões de pessoas sofrem de insuficiência cardíaca/ uma pessoa morre no Brasil a cada 40 segundos por doença coronariana.
Diante desse cenário e o crescente reajuste dos planos de saúde, a Dataprobe viabiliza ações diretas e segmentadas para o controle de doenças crônicas, prevenção de doenças e promoção da saúde; usa algoritmos suportados por sólido conhecimento clínico e de negócios, formados por experiências em todos os participantes da cadeia da saúde
Para as empresas, fornece subsídios para redução significativa de custos, apoiando negociação com operadoras, além de reduzir a sinistralidade na carteira de saúde das empresas.
Celso José Francisco, cientista de dados da Dataprobe, pós-graduado, com 10 anos de atuação na área de saúde, explica que a plataforma pode ser usada no controle de diabetes, hipertensão, doença pulmonar obstrutiva crônica – DPOC, insuficiência cardíaca, doenças coronarianas, entre outras.
CM TECNOLOGIA
O foco da empresa é melhorar a experiência do paciente e também reduzir custos e aumentar a eficiência dos hospitais, clínicas e laboratórios oferecendo uma solução completa para jornada do paciente. A pessoa pode fazer agendamento de exames e consultas online, confirmação de presença automática, validação de elegibilidade e autorização junto aos planos de saúde de forma automática, pois devido a integração do sistema de gestão (ERP) dos prestadores.
Fernando Soares, CEO da CM Tecnologia, diz que o sistema consegue confirmar se o cliente é elegível de acordo com os diferentes benefícios associados ao plano do cliente, sem necessidade de passar por um call center. Ele também faz check-in nos mesmos moldes de Cia aérea, agilizando o atendimento do paciente no local da consulta ou exame, por fim disponibiliza os resultados online (no futuro via WhatsApp), uma jornada integrada do beneficiário do plano. Se o cliente for particular, ele tem integração com uma plataforma de pagamentos. As soluções da CM já estão sendo usadas por instituições como Hospital Samaratino, entre outros.
HIPERSENSE
No mundo 50 milhões de pessoas vivem com demência (Alzheimer). No Brasil, são 1,2 milhão de pessoas com Alzheimer e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano. Ricardo Murer. CEO e fundador da Hypersense, possui 30 anos no mercado digital, e resolveu nos últimos 7 anos se dedicar à área de aplicativos para saúde, coma criação da Hypersense com apoio da ABRAZ Campinas – Associação Brasileira de Alzheimer.
Ele desenvolveu o aplicativo mobile Thymesis para cuidadores, médicos e parentes de pacientes com Alzheimer, a partir da convivência com os casos observados na entidade. Com o Thymesis, dados dos pacientes (emocionais e cognitivos e metabólicos via wearables) serão analisados gerando relatórios preditivos para médicos, cuidadores, pesquisadores e o estudo de novos medicamentos. O algoritmo foi desenvolvido com apoio de profissionais formados na Universidade de São Carlos.
Para monitorar os pacientes escolheu o wearable FitBit HR, num projeto piloto com 40 usuários, mas em breve deverá ter um modelo de menor custo da Xiaomi Band 3.
Murer explica ainda que o aplicativo também é importante para cuidadores, que muitas vezes entram em depressão devido à situação; e para os parentes que podem monitorar o paciente. “Em breve o médico vai receitar medicamentos, pulseiras e app para o paciente com Alzheimer”, enfatiza Murer.
PSICOLOGIA VIVA
A população e economia brasileiras são umas das afetadas no mundo pelas fadigas e doenças emocionais/mentais (depressão, ansiedade, estresse e etc.). 80% destes casos poderiam ser prevenidos com acompanhamento psicológico, porém, as pessoas têm resistência em procurar o auxílio alegando: considerar alto o preço das consultas, baixa disponibilidade de agenda dos profissionais e falta de tempo mediante as tarefas pessoais e profissionais.
Resolver estes empecilhos é a proposta da Psicologia Viva, plataforma criptografada onde é possível se consultar com um Psicólogo online por videoconferência, usando computador ou qualquer tipo de smarphone, através da qual paciente e profissional podem ver e ouvir um ao outro, como se fosse num ambiente pessoal.
Edinei Santos, CSO da Psicologia Viva, tem todos os selos de compliance como CFP, Hipaa, ANS, e contabiliza 3 mil profissionais cadastrados na plataforma, dos quais 400 ativos, cujos dados e documentação são conferidos.
Ele explica que contabiliza mais de 150 mil acessos por mês; mais de 17.000 consultas realizadas pela plataforma; mais de 400 psicólogos ativos. A plataforma tem capacidade inicial para mais de 800 consultas por dia funcionamento 24 horas 7 dias por semana
Os usuários podem fazer agendamento online, não é necessário a instalação de softwares ou aplicativo. Também atende melhor pessoas com dificuldade de locomoção, e devido ao anonimato diminui inibições e incentiva a busca pelo apoio.
A Psicologia Viva recebeu investimento da Porto Seguro, que oferece o serviço de apoio psicológico para pessoas que passaram por trauma em um acidente. Também começou sua expansão para países da América Latina.
TNH HEALTH
Anselmo Antunes de Carvalho, diretor de business development da TNH Health, explica que desenvolve bots que usam Inteligência Artificial para detectar potenciais riscos à saúde, e alertar os profissionais multidisciplinares, como de enfermagem, sobre pacientes em risco e fornece orientações para evitar eventos adversos.
O Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC) fez uma parceria com a TNH Health para acompanhar o pós-alta de 6 procedimentos cirúrgicos em 390 pacientes: artroplastia de joelho e quadril; revascularização do miocárdio; cirurgia da coluna vertebral e bariátrica; e herniografia. O objetivo era avaliar a recuperação de pacientes em relação a alguns fatores críticos existentes na recuperação da cirurgia, como por exemplo, cicatrização dos pontos, febre ou dor. Mas, o real valor entregue pelo projeto seria identificar casos de infecções de local cirúrgico de forma ágil, evitar complicações e quadros de riscos, além de contribuir para a mensuração de desfecho clínico do Hospital. Como resultado, obteve-se taxa de participação de 67% e 19 infecções detectadas preventivamente e atendidas pelo hospital e um ROI operacional de 6,2.
m-CARE
O sistema permite o monitoramento e o compartilhamento de indicadores clínicos – como temperatura, pressão arterial, taxa de glicose, entre outros – para um médico, hospital, plano de saúde o qualquer outro destinatário indicado pelo usuário. Com base na tecnologia bluetooth, o mCare possibilita a transmissão de dados de dispositivos (termômetro, aparelho de pressão, oxímetro, balança etc.) para o smartphone (iOS ou Android) ou qualquer outro device do paciente ou de um acompanhante.
As informações podem ser automaticamente compartilhadas com o médico – em caso de oscilações atípicas, ele recebe ainda um alerta imediato. O especialista, então, pode orientar o paciente sobre o melhor procedimento ou, se necessário, providenciar sua remoção para uma unidade hospitalar – o mesmo sistema permite ainda a transmissão dos dados clínicos aos demais profissionais envolvidos no atendimento. Todo o histórico do usuário armazenado na nuvem, em um ambiente desenvolvido pela
O mCare funciona por meio de três canais integrados: um aplicativo para o usuário (disponível para os usuários dos sistemas iOS, Android e Windows), um portal internet e dispositivos de sinais vitais. Por ora, a tecnologia estará disponível para dois tipos específicos de termômetro, um de contato e outro de medição contínua, um oxímetro, um aparelho de pressão, um glicômetro e uma balança.
Adriano Carpinetti, team head da m-Care, executivo que fez sua carreira na Montreal Informática, empresa de serviços de TI com 30 anos de atuação e filiais em todo o Brasil, explica que a solução aguarda a homologação final dos órgãos do governo até o mês que vem. Disse que uma das principais dificuldades enfrentadas no desenvolvimento do projeto foi encontrar dispositivos fabricados no país, motivo pelo qual encomendaram dispositivos em OEM na China que terão da marca da m-Care.
Durante a trajetória de evolução do projeto, a Montreal incorporou uma empresa de home care para realizar a prova de conceito, provendo o atendimento por call center e o desenvolvimento técnico da plataforma.