quinta-feira, maio 15, 2025
Home Artigos A Inteligência Artificial responde perguntas que ainda não foram feitas

A Inteligência Artificial responde perguntas que ainda não foram feitas

por Ademar Paes Júnior
0 comentários

A rotina dos profissionais de saúde – sejam eles médicos ou gestores – é das mais desafiadoras. Muitas vezes, as incontáveis demandas urgentes, inescapáveis para quem lida com o bem-estar de outras pessoas, podem consumir todas as horas do dia – sem deixar tempo para análises mais detalhadas (e demoradas) de questões essenciais. Difícil imaginar que teremos mais horas disponíveis no dia. Por outro lado, é perceptível que a tecnologia bem utilizada pode agilizar muitas atividades – e virar o relógio a nosso favor.

A inteligência artificial é um exemplo. E um dos seus aspectos mais fascinantes é a capacidade de responder perguntas que ainda nem foram feitas – ou de gerar alertas que atraem nossa atenção para cenários que permaneceram ignorados. Um caso objetivo ajuda a explicar o que digo.

Como parte de um projeto de inteligência de mercado, desenvolvemos sistemas específicos para analisar a distribuição de equipamentos médicos pelo País e a demanda futura por certos exames. Ao avaliar os dados, as ferramentas geraram informações extras das mais valiosas – e preocupantes. O número de mamografias de rastreamento feitas pelo SUS caiu em 2024. Entre janeiro e dezembro foram realizadas 3,24 milhões de mamografias de rastreamento em mulheres com idade entre 50 e 69 anos no sistema público de saúde. Em 2023 haviam sido 3,26 milhões de exames. No mesmo período, o volume de exames de câncer de colo de útero caiu aproximadamente 6%.

Mesmo aparentemente pequena, a queda identificada é parte de um problema maior, que os dados nos ajudam a entender. Menos exames feitos indicam que as mulheres estão postergando o diagnóstico de doenças. Resultado: cerca de 73% dos casos de câncer de mama no Brasil são identificados apenas em estágios avançados, o que pode resultar na necessidade de tratamentos mais agressivos.

O alerta trazido pelos números frios e objetivos é ponto de partida para o desenvolvimento de políticas de prevenção e tratamento – ações que dependem de trabalho e atenção às pacientes.
A inteligência artificial e outras tecnologias, portanto, jamais vão substituir o olhar humano. Mas elas podem potencializar a atuação dos profissionais de saúde. Estudo publicado na revista Nature em 2022 mostrou que algoritmos de última geração já aceleram a detecção de microcalcificações — um dos primeiros sinais de câncer de mama — com até 94% de precisão. Há tecnologia também para a priorização inteligente de casos, com redução do tempo de análise de exames e classificação automática de casos a partir da probabilidade de aparecimento de anomalias. São apenas dois exemplos, mas há inúmeros outros.

Como profissionais de saúde, não podemos resistir cegamente a esses avanços. Há que se cobrar ética e seriedade de pesquisadores e cientistas. Também é fundamental valorizar o trabalho humano – e jamais esquecer que as mãos, os ouvidos e os olhos atentos dos profissionais são essenciais para o sucesso de qualquer tratamento. O futuro da saúde passa, de forma inevitável, pela integração inteligente entre pessoas e máquinas, em benefício de uma medicina mais precisa, acessível e humana.

Ademar Paes Júnior, CEO da LifesHub.

Notícias relacionadas

Deixe um comentário

* Ao utilizar este formulário concorda com o armazenamento e tratamento dos seus dados por este website.

SAÚDE DIGITAL NEWS é um portal de conteúdo jornalísticos para quem quer saber mais sobre tendências, inovações e negócios do mundo da tecnologia aplicada à cadeia de saúde.

Artigos

Últimas notícias

© Copyright 2022 by TI Inside