No início de 2022, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu o burnout como uma doença que resulta de stress crônico no local de trabalho. Sintomas como exaustão, dores de cabeça frequentes, dificuldade de concentração e sentimentos de incompetência impactam 32% dos mais de 100 milhões de trabalhadores brasileiros, segundo a International Stress Management Association (ISMA).
De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), em estudo publicado em 2021, mais de 4 em cada 10 brasileiros já tiveram problemas de ansiedade. É uma questão que impacta o desempenho, a criatividade e a produtividade dos colaboradores – e que deveria ser encarado pelas empresas com urgência e atenção.
O reconhecimento do burnout como uma condição relevante no ambiente de trabalho não aconteceu em um vácuo. A pandemia de COVID-19, com o isolamento social e as transformações que provocou nas interações pessoais, já havia colocado o tema em pauta. Durante a pandemia, segundo o Instituto Ipsos, 53% dos brasileiros relataram alguma deterioração em sua saúde mental (a quinta maior alta entre os 30 países pesquisados).
Nos últimos anos, a exaustão dos profissionais passou a ser um problema conhecido por todos – e isso levou a um despertar em toda a sociedade. A Lei de Saúde Mental (14.831/2024) criou o Certificado Empresa Promotora da Saúde Mental, que premia organizações que implementam programas de promoção da saúde mental no ambiente de trabalho e o combate à discriminação e ao assédio.
Está claro, hoje, que a saúde mental deve ser um compromisso permanente. Especialmente em ambientes dinâmicos e competitivos, é importante reconhecer que a pressão excessiva não transforma grafite em diamante. Pelo contrário, pode gerar problemas como ansiedade, burnout, alta rotatividade e absenteísmo.
Os colaboradores esperam que as empresas tomem a liderança na proteção de sua saúde mental. Um estudo da Oracle de 2020, realizado em 11 países, indica que 84% dos funcionários brasileiros acreditam que suas organizações poderiam fazer mais para proteger a saúde mental das pessoas.
É apenas uma questão de tempo até que as medidas de cuidado adotadas pelas empresas se tornem um fator decisivo na escolha de onde trabalhar – ou na decisão de trocar de emprego. Políticas que promovam ambientes inclusivos e seguros, a implementação de práticas eficazes de gestão de estresse e uma cultura que priorize o bem-estar deverão ganhar força nas estratégias de Recursos Humanos. Empresas que investem em ambientes saudáveis e reconhecem que a saúde mental é uma prioridade de todos, apoiada pela liderança, terão uma vantagem competitiva significativa.
Transformar décadas de um mindset competitivo, muitas vezes prejudicial, não é uma tarefa simples. Entre a visão de que “saúde mental é um exagero” e a criação de um ambiente que equilibre acolhimento e resultados de qualidade, há uma jornada a ser percorrida. Essa jornada envolve uma mudança profunda nos modelos de trabalho, mostrando que o bem-estar das pessoas pode caminhar lado a lado com boas entregas.
Uma pesquisa da Occupational Safety and Health Association (OSHA) dos EUA mostra que as principais causas de stress relacionadas ao trabalho são insegurança ou reorganização do trabalho (72%), horários de trabalho extenso ou volume de trabalho excessivo (66%) e intimidação ou assédio (59%). Mudar o paradigma e criar um ambiente menos estressante, mais saudável, e ainda assim competitivo, é possível.
Considerando apenas esses três grandes causadores de stress entre as equipes, já encontramos um caminho a percorrer:
-
Insegurança ou reorganização do trabalho: empresas que se comunicam de forma clara com seus colaboradores ajudam a definir expectativas de desempenho e qualidade, o que é essencial para reduzir a insegurança, diminuir a ansiedade e aumentar a segurança da equipe, além de reorganizar o trabalho quando necessário. Na PinePR, nossa cultura valoriza trocas contínuas para alinhar e ajustar possíveis rotas, e também damos grande importância ao reconhecimento, pois as pessoas precisam saber que estão no caminho certo. Semestralmente, realizamos sessões mais formais de feedback, com o objetivo de garantir uma comunicação transparente, promover alinhamento, e reforçar o engajamento da equipe, criando um ambiente de confiança e crescimento.
-
Horários de trabalho extenso ou volume excessivo: extensas jornadas de trabalho ou volumes excessivos de tarefas são reflexos dos processos de downsizing dos anos 90 e 2000, que geraram uma cultura onde trabalhar apenas em horário comercial era visto como falta de comprometimento. No entanto, trabalhar mais não significa trabalhar melhor. O foco deve estar na eficiência e na produtividade. Para isso, investimos em treinamento e na preparação do time, além de processos bem estruturados que facilitam o dia a dia, promovendo resultados de qualidade e evitando retrabalhos.
-
Intimidação ou assédio: uma cultura ultrapassada tende a ver pressão e liderança tóxica como parte do ambiente corporativo, o que é um grande equívoco. Um ambiente saudável gera resultados em todas as frentes: maior engajamento, produtividade, melhores entregas e, acima de tudo, felicidade e bem-estar para os colaboradores. A busca por equilíbrio entre vida pessoal e profissional, junto com o respeito e a inclusão, torna inaceitáveis práticas que antes eram comuns. Esse avanço é fundamental para o sucesso sustentável das organizações.
Se você está preocupado com o futuro do seu negócio, precisa estar atento à saúde mental de seus colaboradores. Esse tema deve ser uma prioridade estratégica para empresas de todos os tamanhos e segmentos.
Evidentemente, essa é uma questão conectada à cultura. Empresas para as quais é essencial que haja equilíbrio entre vida pessoal e profissional contribuem para que os colaboradores sejam felizes e trabalhem bem. Além disso, atuar em parceria é essencial, gerando interação entre as pessoas e integração das equipes. Quando todos aproveitam a jornada, celebrando conquistas e crescendo juntos, o ambiente se torna mais saudável.
Não é difícil começar a mudar a cultura corporativa para criar ambientes mais saudáveis. Essa é uma jornada contínua – e empresas e profissionais que são lifelong learners trazem consigo a raiz para continuar a evoluir. Mas, para a maioria das empresas, será preciso rever atitudes, costumes e processos de trabalho. Por isso não é algo simples. Mas os resultados sempre compensam.
Fabiana Ramos, CEO da PinePR.